Financiamento da Fapesp dobra capacidade de startup

Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) concede até R$ 1,2 milhão para empresa sediada no Estado; recurso deve ser utilizado no desenvolvimento de produto, processo industrial ou serviço

Criado em 1997, o Pipe-Fapesp financia, a fundo perdido, negócios novos ou já estabelecidos com até 250 empregados dos 645 municípios paulistas. Esse programa estadual de estímulo à tecnologia e inovação realiza quatro chamadas anuais – e já apoiou cerca de 1,3 mil projetos concluídos. Atualmente, há 240 financiados em andamento.

O engenheiro elétrico doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da BrPhotonics, Júlio César de Oliveira, submeteu projeto ao Pipe-Fapesp na primeira chamada do programa de 2015.

O pedido de financiamento de R$ 1 milhão para a empresa especializada em desenvolver dispositivos usados em redes de fibras ópticas em todo o mundo foi aprovado e, hoje, com o recurso, a empresa consegue desenvolver dois tipos de laser simultaneamente, em vez de apenas um.

“O Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) nos possibilita realizar pesquisas na vanguarda da tecnologia e, assim, concorrer com empresas estrangeiras”, conta o dirigente da startup com sede em Campinas.

Inovação

O professor Lúcio Angnes, docente da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do Pipe-Fapesp, explica que a empresa solicitante não precisa apresentar contrapartida no pedido. Segundo ele, esse tipo de financiamento tem apelo social, visa ao surgimento de novas tecnologias e à geração de emprego e renda no País.

O principal pré-requisito é o solicitante desenvolver algum produto, serviço ou processo industrial com base em tecnologia e inovação em qualquer área do conhecimento. Além da viabilidade, o projeto deve ter potencial de retorno comercial e fortalecer a cultura de inovação permanente. Todo o conjunto de regras, prazos e cronogramas do Pipe-Fapesp fica disponível para consulta no site do programa (ver serviço).

Etapas

O Pipe-Fapesp pode financiar uma ou duas das fases de um projeto, sem exceder o teto de R$ 1,2 milhão, com a pesquisa aplicada obrigatória devendo ser realizada diretamente nas instalações da empresa. Na primeira fase, é exigido estudo de viabilidade e o valor solicitado pode chegar a R$ 200 mil, para ser usado em até 9 meses.

Na fase 2, o limite é R$ 1 milhão, sendo exigido plano de negócio, com o período de execução se estendendo para 24 meses. Nessa etapa do auxílio, o proponente pode pleitear diretamente a segunda fase, justificando o motivo da dispensa do período inicial. A submissão do projeto da BrPhotonics foi feita com base nessa regra.

Oliveira tinha experiência prévia em inscrever projetos para submissão em órgãos de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério das Comunicações. Dessa forma, não precisou da consultoria científica e mercadológica prestada pela coordenação do Pipe quando um projeto não é aprovado. “Esse auxílio indica ao empreendedor quais pontos deve aprimorar em seu negócio”, observa o professor.

Destinação

O dinheiro do Pipe-Fapesp pode ser utilizado na compra de materiais permanentes, como equipamentos para pesquisa e itens de consumo (insumos e reagentes). As regras preveem concessão de bolsas de pesquisa para os participantes e a contratação de serviços de terceiros – consultoria, testes, desenvolvimento de temas paralelos ao projeto, entre outros.

O programa atende também negócio em fase de formalização. No entanto, exige vínculo formal de um cientista empregado na empresa proponente ou, ainda, algum pesquisador associado. Esse profissional não precisa ter graduação completa, mas deverá comprovar conhecimento e competência técnica sobre o tema do projeto – e precisará dedicar no mínimo 24 horas semanais ao trabalho.

Fibras ópticas

Em 2014, Oliveira fundou a BrPhotonics. Na época, a empresa associou-se à GigOptix, multinacional norte-americana fornecedora de componentes semicondutores de alta velocidade para fibras ópticas. Na sequência, empregou Luís Carvalho, outro pioneiro da empresa com currículo parecido com o seu: paraibano, engenheiro elétrico formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) e pós-graduado pela Unicamp. No início do ano passado, com a empresa em funcionamento, a dupla recorreu ao Pipe-Fapesp.

A oportunidade de empreender, conta Oliveira, surgiu no final de 2013, a partir da proposta de desenvolver e comercializar dispositivos fotônicos e microeletrônicos para possibilitar a transmissão de dados em alta capacidade e velocidade em fibras ópticas. Antes, ele trabalhava como pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações de Campinas (CPqD) e atuava em projetos de criação e repasse de tecnologia óptica para empresas.

Exportação

Com 19 patentes internacionais depositadas na United States Patent and Trademark Office (USPTO) e quatro nacionais, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), a BrPhotonics hoje exporta para os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e mercado europeu. Iniciado com cinco funcionários, o negócio tem atualmente 23 colaboradores, dois deles trabalhando no escritório da empresa em Seattle, Estados Unidos.

A BrPhotonics monta moduladores de raios laser com fotônica integrada. O presidente da empresa diz que se trata de um produto tecnológico com alto valor agregado – alternativa mais barata aos transmissores ópticos de 100 gigabits, mais utilizados. “Outras vantagens são gastar menos energia e oferecer potência de transmissão superior. Em breve, pretendemos vender nossos moduladores de laser e soluções para empresas brasileiras”, conta.

Serviço

Programa Pipe Fapesp
Telefone (11) 3838-4216
CPqD
BrPhotonics

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/08/2016. (PDF)

Fatec de São Bernardo inova com bicicletário inteligente

Com apelo sustentável, projeto traz alternativa para poupar espaço e favorecer a mobilidade nas cidades; ex-alunos aguardam investidores para desenvolver o projeto

Reunir, em uma única solução, respostas tecnológicas e sustentáveis para diversos desafios urbanos, como a oferta de espaço, e ampliar a mobilidade e a qualidade de vida da população. Esse é o conceito do Intelligent Bike Park, protótipo de bicicletário inteligente desenvolvido por quatro ex-universitários do curso de Automação Industrial da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec), de São Bernardo do Campo.

Premiado com o troféu de terceiro lugar no 3º Desafio Inova Paula Souza de Ideias e Negócios (2015/2016), o bicicletário automatizado foi o trabalho de conclusão de curso (TCC) do quarteto Fábio Negrini, Jairo Silva, Jefferson Silva e João Victor da Silva. Apresentado no final do primeiro semestre do ano passado, o projeto recebeu orientação do professor Francisco Maia, engenheiro elétrico e também responsável por ministrar diversas disciplinas durante o curso.

Segundo os bacharéis em automação industrial, a tecnologia desenvolvida na Fatec agrega diversas propostas: retirar carros das ruas e calçadas, diminuir a poluição, congestionamentos e estimular a prática de exercícios físicos. Pode ainda ser aproveitada de várias formas. Uma delas é a de se integrar a ciclovias e em locais com grande frequência de pessoas, como estações de trens e terminais de ônibus – outra opção é atender empresas e repartições públicas com muitos funcionários.

Robótica

Inspirado em sistemas japoneses e alemães, o protótipo funcional custou R$ 4 mil e foi construído em escala dez vezes menor do que a real. Desenvolvido em formato cilíndrico vertical, pode armazenar até 96 bikes, ocupando área física equivalente à de seis veículos estacionados.

O bicicletário usa dispositivo elétrico, com funcionamento automático e se integra a cartões com identificação eletrônica, como, por exemplo, o Bilhete Único, sistema de vale-transporte aceito na capital em ônibus, metrô e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

O primeiro passo é o ciclista encaixar a bike na rampa de acesso ao elevador e encostar seu cartão cadastrado no leitor. O sistema irá identificar a vaga disponível localizada mais próxima do térreo. Após o fechamento da porta, um braço mecânico a leva até o local escolhido. A retirada da bicicleta exige apenas outra aproximação do cartão no leitor.

O protótipo já foi apresentado à Prefeitura de São Bernardo e segue em fase de patenteamento. Além de produzir o bicicletário ou repassar a tecnologia para algum empreendedor, ao custo de R$ 500 mil, há outras possibilidades em aberto, salientam os estudantes. Muitas delas incluem adaptar a plataforma ágil, precisa e confiável para motos e veículos ou, ainda, funcionar como um guarda-volumes inovador em rodoviárias e aeroportos, podendo também ser aproveitado em instalações subterrâneas.

União

“A maior dificuldade enfrentada foi administrar o tempo”, contaram os estudantes. Ao longo do trabalho, a comunicação via WhatsApp era permanente até nas madrugadas e finais de semana. A partir das sugestões do professor Francisco e dos docentes da Fatec, os alunos partiam em busca de soluções. “Um dos segredos do sucesso desse trabalho é o fato de cada integrante ter uma habilidade especial”, revelam.

Fábio se dedicava às questões elétricas e eletrônicas; Jairo à parte mecânica; Jefferson à técnica e administrativa e João Victor à programação. Os quatro universitários receberam apoio da empresa Somai Tecnologia e Educação (onde João Victor trabalha) e lembram que outra ajuda importante veio da oficina do avô de Fábio: “Ele nos forneceu materiais indispensáveis para o projeto”, conta o neto.


Campeões de inovação

O Desafio Inova Paula Souza de Ideias e Negócios tem por objetivo destacar projetos de base tecnológica criados por alunos das Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e Fatecs com potencial para originar novas empresas e serviços. Na seleção dos trabalhos acadêmicos, os critérios considerados são inovação, possibilidade de oferecer resposta a um problema existente na sociedade, viabilidade comercial e competitividade.

Cerca de 3 mil estudantes participaram da edição 2015/2016 do concurso estadual. A avaliação dos trabalhos foi delegada a um júri composto por professores de diferentes áreas, empresários e investidores. Foram selecionados 15 projetos para a fase final e o nome dos três vencedores foi divulgado em solenidade realizada dia 24 de junho, no Centro de Capacitação do Centro Paula Souza, na capital.

Nessa terceira edição do evento, o trio de campeões veio de Etecs e Fatecs da região do ABC. O primeiro lugar ficou com o Detect 3, dispositivo criado na Etec Santo André para prevenir explosões e acidentes causados por gás de cozinha.

O segundo foi obtido pela Cadeira Infantil Veicular Inteligente (Civi), da Fatec Santo André. Também estruturado em sensores, alerta o motorista sobre criança esquecida no interior de carro e entra em operação quando o condutor desce do veículo e não desafivela o cinto de segurança da cadeirinha da criança ou, mesmo, quando sobe a temperatura no interior do veículo. O bicicletário da Fatec São Bernardo do Campo foi o terceiro classificado.

Até o dia 31 de agosto, seguem abertas inscrições para a edição 2016/2017 do desafio. Para concorrer, os grupos de alunos interessados precisam desenvolver um modelo de negócio com a ajuda de um professor mentor de um dos 15 polos regionais da Agência Inova Paula Souza no Estado. A inscrição no concurso e informações adicionais a respeito estão disponíveis no site da Agência. (ver link em Serviço).

Serviço

Agência Inova Paula Souza
Fatec São Bernardo do Campo
Tel. (11) 4121-9008
Vídeo sobre o bicicletário: https://goo.gl/X7kHZ7

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/07/2016. (PDF)

Projeto da Etec Santo André evita acidentes domésticos com gás

Com pedido de patente depositado, criação de antigos alunos de Eletrônica da unidade busca investidor para se associar ao grupo e fabricar o Detect3 em escala industrial

A cada ano, os vazamentos de gás provocam inúmeras mortes, deixam centenas de feridos e causam prejuízos aos patrimônios público e privado no Brasil. Para prevenir esse tipo de acidente, um grupo de antigos alunos do curso de Eletrônica da Escola Técnica Estadual (Etec) Júlio de Mesquita, de Santo André, desenvolveu o sistema Detect3 – Detecção e prevenção contra explosão por vazamento em três etapas.

Trata-se de um equipamento autônomo dotado de sensores capazes de identificar vazamentos em uma casa ou apartamento e, de modo automático, bloquear o fornecimento de gás e de energia elétrica, desligando a chave geral da residência. “Muitos acidentes ocorrem quando o morador sente o cheiro de gás e acende a luz, causando a faísca capaz de detoná-lo”, explica o quarteto formado por Edmar dos Santos, Leandro Luna, Marcelo Oliveira e Paulo Gimenes.

Tema do trabalho de conclusão de curso (TCC) dos antigos alunos, a construção do equipamento exigiu o desenvolvimento de três protótipos para incorporar, sucessivamente, melhorias ao projeto. A orientação da pesquisa foi do professor Renato Koganezawa, do Departamento de Elétrica da Etec. Em fevereiro, o Detect3 teve pedido de depósito de patente, visando a proteger a propriedade intelectual do conjunto da tecnologia incorporada ao sistema e mais o sistema de bloqueio do fornecimento de gás.

Funcionamento

O Detect3 é bivolt (110V-220V), funciona ligado em uma tomada e deve ser instalado próximo ao ponto de fornecimento de gás da residência (de botijão ou encanado). Em eventual falta de energia elétrica, o gás pode ser acionado manualmente pelo morador por meio de uma válvula e, assim, acender o fogo com um palito de fósforos.

Quando o sensor do Detect3 identifica a presença de gás natural ou de gás liquefeito de petróleo (GLP) no ambiente, entra em estado de alerta. Instantaneamente, o sistema misto de software e hardware dispara alerta sonoro intermitente, e, por radiofrequência, aciona o bloqueio do fornecimento do gás (combustível) e de eletricidade.

“O equipamento é projetado para proteger área de 25 metros quadrados. Entretanto, é flexível e permite a instalação de inúmeros pontos adicionais para detecção de gás em outros cômodos da casa”, explicam os criadores.

Desafios

“Eles foram muito além do conteúdo programático transmitido no curso”, revelou o professor Koganezawa, também engenheiro eletricista e servidor da Universidade Federal do ABC. O grupo de idealizadores do Detect3 segue estruturando um plano de negócios para o projeto na Inova Santo André, incubadora de empresas da prefeitura local.

O docente conta ter sugerido algumas saídas possíveis para as dificuldades surgidas ao longo da criação do Detect3, entretanto, deixou com o grupo as tarefas de pesquisar e identificar as soluções mais eficazes e viáveis. “O mérito do trabalho é deles”, revelou.

A lista de desafios incluiu projetar a parte elétrica, programar (em linguagem C, uma das mais populares) a placa integrada do circuito, transformar a radiofrequência usada no sistema e a instalação do sistema de corte do fornecimento de gás e de luz. “Hoje, temos duas opções possíveis: achar um sócio para a empresa disposto a investir cerca de R$ 400 mil e fabricar conosco o Detect3”, planejam os idealizadores.

Outra possibilidade cogitada é repassar as tecnologias incorporadas ao Detect3 para fabricantes de fogões. A ideia é adaptar a parte do dispositivo responsável pelo corte de gás no eletrodoméstico – e passar a incluí-lo na linha de montagem, como item adicional de segurança.

Finalista

O Detect3, criado na Etec Santo André, é um dos 15 projetos finalistas do 3º Desafio Inova Paula Souza de Ideias e Negócios. Em 2014, o Capacete High Tec, outro trabalho acadêmico orientado pelo professor Koganezawa, foi o vencedor e, no ano passado, mais um TCC supervisionado por ele ficou no grupo de finalistas.

Neste ano, o concurso do centro paulista de ensino tecnológico recebeu 3 mil trabalhos e a relação de classificados está disponível para consulta no site do Centro Paula Souza (ver serviço). A premiação visa a estimular o espírito empreendedor e destacar pesquisas realizadas nas Etecs e Faculdades Estaduais de Tecnologia (Fatecs) com potencial para originar pro dutos e serviços.

A avaliação dos trabalhos é feita por um júri composto por profissionais e empresários de diferentes áreas. O anúncio dos campeões ocorrerá no dia 24, às 9 horas, em solenidade no Centro de Capacitação do Centro Paula Souza, localizado na Rua General Couto de Magalhães, 145, Santa Ifigênia, região central da capital.

Serviço

Etec Júlio de Mesquita (Santo André)
E-mail faleconosco@etecjuliodemesquita.com.br
Telefone (11) 4990-2577

Os 15 projetos finalistas do 3º Desafio Inova Paula Souza podem ser visualizados em http://goo.gl/gH30B0 e o vídeo com a apresentação do Detect3 em https://goo.gl/pGEkCt.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/05/2016. (PDF)