Adolfo Lutz inova e lança on-line livro que analisa todos os tipos de alimentos

Conteúdo, importante para pequenas empresas, frigoríficos e população, traz informações sobre o controle de qualidade em gêneros alimentícios

O Instituto Adolfo Lutz (IAL) publicou on-line o conteúdo da quarta edição de seu livro Métodos Físico-Químicos para Análise de Alimentos. A obra de referência apresenta os procedimentos do IAL para os laboratórios mantidos pela pasta da Saúde no Estado. A divulgação pela internet foi a opção usada pelo instituto para economizar recursos de impressão e ampliar o conhecimento da população sobre uma de suas tarefas.

Disponível no site, o material descreve a análise de todos os tipos de alimentos. Não aborda questões ligadas à legislação, porém o conteúdo tem relevância para pequenas empresas, frigoríficos, universidades e para a população. Traz informações sobre processos de controle de qualidade em gêneros alimentícios.

A primeira versão saiu em 1951 e a última foi lançada em 2005, com tiragem já esgotada de 2,5 mil exemplares. A quinta edição impressa do livro está prevista para 2010. O material costuma ser doado pela Anvisa e vendido pelo IAL, a preço simbólico. A receita obtida com a operação é direcionada para o Fundo Especial de Despesa do Adolfo Lutz e ajuda a custear suas pesquisas e serviços prestados.

O site ainda não tem pronta uma versão única e completa da obra para download. Entretanto, é possível fazer cópia gratuita da versão preliminar de todo o conteúdo, composto pelo índice, 29 capítulos e dois apêndices. No total, é possível baixar 32 arquivos, todos no formato PDF.

A coordenação editorial do livro é dividida entre os pesquisadores Odair Zenebon e Neus Pascuet. E os autores são os profissionais do corpo técnico do IAL, formado por 80 pesquisadores.

Marta Salomão, médica sanitarista e diretora do instituto, explica que o lançamento on-line é parte das comemorações do 20º aniversário de criação do Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS é uma conquista importante da sociedade, que tem e teve apoio permanente do IAL na sua construção”, aponta.

Marta informa que, atualmente, o órgão desenvolve em parceria com a Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp) sistema para fazer a coleta on-line de resultados de exames. “Esta iniciativa segue fielmente a proposta do instituto, que é planejar e executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica”, afirma.


Quase 70 anos de pesquisa

O Instituto Adolfo Lutz foi criado em 26 de outubro de 1940, a partir da união de dois grandes laboratórios públicos: o de Análises Químicas e o Instituto Bacteriológico. É vinculado à Secretaria Estadual da Saúde e formado por cinco divisões técnicas: Biologia Médica, Patologia, Bromatologia e Química, Serviços Básicos e Laboratórios Regionais. Sua sede e o laboratório principal ficam na capital. O complexo abriga também a área de experimentação científica, biblioteca com mais de 50 mil publicações e centro de memória com o acervo reunido desde a fundação.

O centro também mantém laboratórios regionais em Araçatuba, Bauru, Campinas, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santo André, Santos, São José do Rio Preto, Sorocaba e Taubaté. Atua nas áreas de Bromatologia e Química, Biologia Médica e Patologia. Faz também pesquisa científica aplicada voltada para a saúde coletiva e ajuda a elaborar normas técnicas, padronizar métodos diagnósticos e analíticos. Por fim, organiza cursos de formação técnica de aperfeiçoamento e aprimoramento, em nível nacional e internacional.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/07/2009. (PDF)

Adolfo Lutz alerta para riscos de contaminação causada por fungos

Algumas micotoxinas são cancerígenas e reduzem em 40% expectativa de vida nos países pobres

As micotoxinas produzidas por fungos são responsáveis por 40% da redução da expectativa de vida em países pobres, segundo a ONU. Além de doenças, os micro-organismos causam prejuízos também à economia, em especial nos países exportadores agrícolas de grãos e sementes, como o Brasil, que vende café, soja, arroz, e castanha-do-pará no mercado internacional. Nos Estados Unidos e Canadá, as perdas chegam a US$ 5 bilhões anuais com a contaminação de rações para animais.

Myrna Sabino, pesquisadora desde 1967 do Instituto Adolfo Lutz, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde alerta a sociedade para o problema. Chefe da Seção de Química Biológica, a especialista explica que existem mais de 350 micotoxinas conhecidas. “Algumas micotoxinas, especialmente a aflatoxina B1 são cancerígenas, favorecem a má formação fetal e podem provocar o nascimento de crianças com deformações. Nos adultos trazem complicações hepáticas”, alerta.

Segundo ela, a parcela da população mais suscetível à contaminação são os mais jovens. “Por terem o sistema imunológico ainda em formação, os riscos são maiores. Nos adultos, o principal problema é a ingestão de alimentos contaminados durante um período prolongado da vida, já que estas substâncias podem acarretar o desenvolvimento de tumores”, explica.

Ciclo e prevenção

Os fungos estão presentes na natureza. A subida da temperatura e da taxa de umidade do ar favorecem o aumento das populações de micro-organismos e da produção de micotoxinas. Elas contaminam silos, armazéns de estocagem e lotes inteiros de grãos e cereais. Fenômenos climáticos como o aumento das chuvas também podem acelerar o processo. Não é possível para o consumidor perceber a contaminação dos alimentos, somente laboratórios são capazes de fazer a verificação. “A boa aparência dos alimentos não significa estarem livres de contaminação”, explica.

Myrna explica que segundo a Organização de Comida e Agricultura das Nações Unidas (FAO) 25% da produção mundial de grãos são perdidos por causa das micotoxinas. A prevenção é possível por meio de práticas agrícolas adequadas, ainda no campo, antes da estocagem dos alimentos. Os grãos mais suscetíveis são o amendoim e o milho, porém todos podem conter micotoxinas. “A castanha-do-pará nacional teve sua importação proibida em fevereiro pela comunidade europeia por causa das aflatoxinas”, conta.

No Brasil, na região sudeste, as autoridades sanitárias e de saúde conseguem manter o País em condições satisfatórias. “Os maiores problemas estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. As dificuldades se multiplicam devido a vastidão territorial e a falta de controle nos portos e aeroportos”, ressalta.

História

Na década de 60, o Brasil exportou farelo de amendoim para a Inglaterra. A matéria-prima vegetal foi transformada em ração para animais e morreram 100 mil perus sem que os veterinários descobrissem as causas. No ano seguinte, a Scotland Yard foi chamada para investigar as causas e não teve sucesso; só então as autoridades locais conseguiram associar a causa das mortes ao produto tropical importado.

A descoberta do agente causador, o fungo Arpergillus flavus fez nascer e aprofundar um novo ramo da ciência, a micotoxologia. O objetivo foi o de estudar o risco que estas substâncias representam para a saúde humana e animal e para a economia internacional, podendo acarretar perdas na cadeia produtiva. Entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer e Food and Agriculture Organization se uniram com órgãos de agricultura e saúde pública mundiais para pesquisar e descobrir todas as toxinas produzidas por fungos.

Como curiosidade, Myrna cita passagens históricas e bíblicas, onde as micotoxinas eram o motivo de contaminações e pragas sem que a humanidade soubesse o motivo. Nos livros de Jó e do Êxodo, são relatadas passagens onde Moisés tentava libertar os hebreus do domínio faraônico. Há evidências de que uma dez pragas lançadas contra os egípcios estivesse relacionada com a presença de micotoxinas, já que a contaminação dizimou rebanhos ovinos e a peste induziu tumores e úlceras nos animais e no povo egípcio.

Fogo de Santo Antônio

Na Idade Média, entre os séculos XV e XVI, os franceses se assustavam com a doença conhecida como Fogo de Santo Antônio. A epidemia causada pela ingestão de centeio contaminado por Claviceps purpurea provocava a sensação de queimação na pele e surtos de gangrena. As vítimas procuravam o Santuário de Santo Antônio na França para se curar.

Guerra do Iraque

No século 20, durante a Segunda Guerra Mundial cerca de 100 mil russos perderam a vida devido as toxinas produzidas pelos fungos. Na Guerra do Vietnã, nos anos 60 e 70, as micotoxinas foram utilizadas como armas biológicas pelos exércitos para provocar enfermidades nos soldados inimigos.

Myrna comenta ainda que uma das justificativas utilizadas pelos Estados Unidos para bombardear o Iraque, era a suposta presença de armas químicas e biológicas incluindo fungos produtores de micotoxinas e mesmo micotoxinas nos laboratórios mantidos pelo governo de Saddam Hussein. Eles comporiam o suposto arsenal biológico do antigo regime.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/12/2003. (PDF)