Jaqueta para motociclista com airbag é inovação apoiada pelo IPT

Desde 2015, laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas aprimoram equipamento de proteção; colete é fabricado por microempresa da Grande São Paulo

Um dispositivo de amortecimento, pioneiro no Brasil e cujo desenvolvimento teve início em 2015, foi aperfeiçoado com o auxílio do serviço de Qualificação Técnica para Aprimoramento de Produtos (Qualimint), do Núcleo de Atendimento Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (NT-MPE) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Trata-se de um colete de segurança para motociclistas com um sistema interno exclusivo de bolsa inflável (airbag) para aumentar a proteção contra colisões, quedas e impactos.

Proprietário da Inflajack, empresa de Cotia, município da Região Metropolitana de São Paulo, o administrador Milton Nakamura diz que decidiu, em 2014, abrir a empresa. Segundo ele, a meta da empresa contratante do IPT era passar a fornecer ao mercado nacional um equipamento de proteção individual (EPI) de qualidade superior ao comercializado no País por fábricas japonesas, chinesas, italianas e francesas (ver serviço).

“O intuito era ampliar a segurança de um imenso contingente de motociclistas circulando pelas ruas e estradas do Brasil”, diz Nakamura. Desse público-alvo, destaca, atender especialmente os profissionais cuja vida é ganha sobre duas rodas – policiais, motoboys, bombeiros, agentes de trânsito, além dos que atuam no resgate de vítimas de acidentes e aqueles especializados em reparos de rede elétrica.

Pioneirismo

“O apoio do Laboratório de Tecnologia Têxtil do IPT foi fundamental para realizar diversos ensaios mecânicos e de abrasão com o tecido 100% poliéster usado nas jaquetas e coletes”, revela o administrador. Segundo ele, outro dado importante aferido abrangeu um conjunto de quatro câmeras de radiação infravermelha. Elas foram usadas, explica ele, para comprovar a eficácia do sistema de proteção, dentro da margem de segurança para a insuflação do airbag.

Nakamura informa que o sistema de proteção do colete funciona com um cabo partindo dele acoplado sob o banco da motocicleta. Quando ocorre um acidente e o motociclista ‘decola’, em uma fração de tempo de até 0,2 segundo, o cilindro interno com gás carbônico, instalado no interior da jaqueta, infla o airbag. Desse modo, a bolsa de proteção possibilita minimizar impactos de eventuais batidas em cinco regiões vitais do corpo do condutor: coluna cervical, cóccix, caixa torácica frontal, clavículas e pescoço.

Salvar vidas

“Embora esse EPI não seja de uso obrigatório pela legislação brasileira de trânsito, era primordial ter total credibilidade e confiabilidade em seu desenvolvimento. Afinal, a jaqueta tem potencial para salvar vidas”, justifica Nakamura. Segundo ele, optar pelo IPT para fazer os testes e aprimorá-la foi uma escolha natural, por causa da vasta experiência do instituto, inclusive internacional, na produção de ensaios, laudos técnicos e certificações.

“Entre maio e setembro de 2015, avaliamos no Laboratório de Tecnologia Têxtil a resistência das fibras do tecido e a medição da força necessária para o acionamento do sistema de airbag”, revela a pesquisadora Gabriele Paula de Oliveira. “Atualmente, estudamos a resistência de outros materiais para serem usados nas peças.”

Fabricadas na microempresa com dez funcionários, as peças são usadas, por exemplo, por agentes de equipes de campo da AES Eletropaulo, Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Brasília, Departamento de Trânsito (Detran) do Distrito Federal, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Recife (PE) e Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Estado do Mato Grosso do Sul.

Custo

Em média, cada jaqueta Inflajack com airbag custa R$ 2,5 mil. “Hoje, por uma questão tributária, o tecido usado em sua fabricação é classificado pela legislação como material supérfluo e não como item de segurança. Para diminuir custos, pleiteamos essa mudança no Ministério do Trabalho. Atualmente, os motociclistas ocupam seis em cada dez leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) e há expectativa de que, no futuro, esse equipamento seja de uso obrigatório, como, por exemplo, é o capacete”, argumenta Nakamura.

Os próximos passos da Inflajack com o IPT são desenvolver novos materiais ainda mais resistentes. “Estamos em fase de testes e em breve pretendemos assinar novo Qualimint”, adianta o administrador. Um dos destaques será incorporar, gradativamente, opções de acessórios, como microcâmera portátil e GPS, avaliados na primeira parceria, de 2015, pela Seção de Automação, Governança e Mobilidade Digital do IPT.

Nesse sentido, conta o engenheiro eletricista do IPT, Matheus Jacon Pereira, a proposta era avaliar a possibilidade de registrar itinerários e, também, informar, em tempo real, a localização do agente de campo pelo GPS da jaqueta. “A ideia é, no futuro, enviar imagens de informações urgentes, como, por exemplo, a localização de um acidente para equipes de socorro, se há feridos, etc. No estudo de viabilidade entregue, foi indicado levantamento de mercado com algumas soluções para atender às demandas solicitadas”, observa.


Atendimento ilimitado

Empregar experiência fabril e conhecimento técnico para impulsionar o desenvolvimento do setor produtivo paulista. Desde 1999, essa é a proposta do Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa (NT-MPE), conjunto de programas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) com mais de 5 mil serviços no currículo prestados para as micro e pequenas empresas paulistas.

“Esses atendimentos são direcionados a negócios com faturamento anual de até R$ 90 milhões e podem ter até 90% de seus custos subsidiados pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Assim, o empreendedor desembolsa, no mínimo, os 10% restantes, de acordo com cada caso”, informa Mari Katayama, diretora do NT-MPE.

Serviço

Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa do IPT (NT-MPE)
E-mail ntmpe@ipt.br
Telefone (11) 3767-4204

Inflajack

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/08/2017. (PDF)

Tomate sem semente é inovação da Esalq-USP

Tecnologia genética desenvolvida dispensa fertilização da planta e uso de hormônios; pesquisadores procuram parceiros para as próximas etapas do projeto

Uma variedade nova de tomate sem semente e na medida para fazer molhos. Esse sonho de muitos cozinheiros – e desejo da indústria alimentícia e dos que têm dieta restrita por recomendação médica – ganhou impulso com uma tese de doutorado defendida em julho do ano passado. A novidade segue seu desdobramento no Laboratório de Genética Molecular do Desenvolvimento Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Orientado pelo agrônomo Fabio Tebaldi Silveira Nogueira, professor do Departamento de Ciências Biológicas, o estudo acadêmico foi a tese do biólogo Eder Marques da Silva. De acordo com Nogueira, a proposta inicial do trabalho, auxiliado pelo pesquisador Lázaro Peres, também da Esalq-USP, era compreender de que maneira ocorre o avanço dos órgãos reprodutivos dos vegetais, em especial o da genética dos frutos e sementes, elementos participantes nesse processo da planta.

Molécula

Tudo começou, lembra o professor Nogueira, em 2012, quando ele era docente do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Com o apoio de bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), partimos do zero no laboratório para identificar, no estudo dos genes do tomateiro, uma molécula de RNA capaz de, uma vez induzida, permitir à planta produzir frutos sem precisar ser polinizada e fertilizada”, revela.

Trata-se da microRNA159, molécula presente em todos os vegetais. A partir de sua identificação e comprovação de sua viabilidade, com mais de quatro anos de testes em muitas gerações de tomateiros, somente obtendo frutos sem sementes, abriu-se um novo campo de estudos e perspectiva para a produção agronômica. “Essa tecnologia é inédita e tem base na genética, diferentemente da empregada em alguns cultivos de uva, laranja e melancia, centrada na aplicação de hormônios para induzir a produção de frutos sem sementes”, explica Nogueira.

Patentes

Na semana passada, o estudo da Esalq-USP foi publicado na revista científica internacional The Plant Journal e pode ser acessado on-line, na íntegra (ver serviço). Agora, o próximo passo do trabalho, informa o professor, é criar um método científico que possibilite a aplicação direta da molécula de RNA nas flores, a fim de produzir frutos sem sementes, mas sem modificar geneticamente as plantas, outro diferencial do projeto.

“Buscamos encontrar, até o começo do ano que vem, parceiros para financiar esse desenvolvimento, e inclusive, para compartilhar conosco a propriedade intelectual dessa inovação, isto é, iniciar o processo de patenteamento. Entretanto, para produção em larga escala de tomate sem semente, há ainda um longo caminho a ser trilhado. Eventuais interessados em saber mais sobre a pesquisa ou em se associar devem nos procurar na Esalq-USP”, revela (ver serviço).

Controle

Nos estudos em laboratório, o grupo da Esalq-USP utiliza uma variedade não comercial de tomate, denominada Micro Tom, somente para pesquisa, porém, muito parecida e geneticamente semelhante às variedades comerciais do alimento convencional, inclusive no sabor, cor, textura, etc. “Além disso, a metodologia concebida para o tomate pode ser aproveitada no futuro, por exemplo, no cultivo de outras frutas sem semente, como maracujá, melão e goiaba”, informa Nogueira.

Outro destaque do projeto é seu apelo ambiental e ecológico. Por causa do aumento da temperatura causado pelo aquecimento global, vem ocorrendo a diminuição de populações de espécies polinizadoras, como as abelhas, participantes dos processos reprodutivos das plantas.

“Com a tecnologia elaborada, os frutos gerados são produzidos independentemente da oferta de pólen. Assim, será possível produzir reduzindo a necessidade de insetos polinizadores. Na natureza, fruto nascer sem sementes é fenômeno raro e imprevisível, inclusive o próprio tomate. Agora, com o controle da ciência é uma inovação”, explica.

Serviço

Laboratório de Genética Molecular do Desenvolvimento Vegetal (Esalq-USP)
E-mail ftsnogue@usp.br
Telefone (19) 3429-4052

Artigo sobre a pesquisa na The Plant Journal

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 16/08/2017. (PDF)

Parceria IPT e Embrapii apoia e financia inovação nas empresas

Projetos de pesquisa e desenvolvimento estão disponíveis para indústrias de todo o País; a meta é ampliar o potencial do setor e criar produtos e serviços para exportação e o mercado interno

Ampliar, com apoio técnico e laboratorial e financiamento a fundo perdido, o potencial de competitividade da indústria nacional para criar produtos e serviços para o mercado interno e exportação. Essa é a proposta do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), parceria dos governos estadual e federal para gerar conhecimento, emprego e renda no País a partir de projetos para empresas de pesquisa, inovação e desenvolvimento.

“Desde 2014, o IPT atua como Unidade Embrapii em duas áreas: Tecnologias de Materiais de Alto Desempenho e Desenvolvimento e Escalonamento de Processos Biotecnológicos”, informa a gerente da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do Instituto Flávia Gutierrez Motta.

“Na área de materiais, o IPT desenvolve cerâmicas, compósitos e outros serviços com nanotecnologia, além de investir em ligas metálicas para melhorar a proteção contra corrosão. No campo da biotecnologia, a atuação é escalonada, para atender às necessidades específicas das empresas”, destaca.

Exclusividade

“O intuito é gerar crescimento econômico e divisas para o País”, explica Flávia, ressaltando o fato de a Embrapii ser iniciativa conjunta dos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e o da Educação. Além do IPT, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, a iniciativa reúne mais 34 instituições científicas e de pesquisa e soma mais de 200 projetos contratados, com valor médio de R$ 1,5 milhão cada um (ver serviço).

Nos projetos, a propriedade intelectual é igualmente dividida entre a empresa e o IPT. O serviço está disponível para empreendimento regular, de qualquer porte, sediado no Brasil e disposto a desenvolver tecnologia em produto ou serviço novo.

Contudo, a contratante tem prazo para lançá-lo no mercado depois de confirmada sua viabilidade. Se não o fizer, perderá o direito legal ao sigilo industrial e à exclusividade de uso da tecnologia. Além disso, nesse caso, a inovação desenvolvida em conjunto com o instituto poderá ser repassada para outro empreendedor ou grupo de empresas.

Benefícios

Em março de 2013, o IPT lançou seu projeto piloto na área. Em julho do ano seguinte foi regulamentado como Organização Social Embrapii. Desde então, firmou 31 contratos.

Neles, o instituto banca 20% dos custos e 33% são de responsabilidade da Embrapii, valores que não precisam ser devolvidos. A empresa interessada desembolsa os 47% restantes. Caso a contratante seja microempresa, a parte não reembolsável do financiamento poderá chegar a 86%.

“Diferentemente de outros estímulos, o da Embrapii tem a vantagem de ser desburocratizado, podendo o valor ser solicitado pela empresa interessada diretamente no IPT. O tempo do processo todo varia entre dois meses e um ano. Quando a empresa tem definida sua estratégia de inovação, a assinatura do contrato é mais rápida”, ressalta Flávia.

Segundo ela, outro atrativo é o IPT destacar equipes multidisciplinares de pesquisadores e técnicos com experiência em projetos para a indústria. A carteira de clientes Embrapii do IPT é diversificada.

Inclui a indústria cimenteira, projetos com compósitos para a Embraer e trabalhos para os setores siderúrgico, metalúrgico e de mineração. Há também serviços abordando corrosão e nanotecnologia nas áreas farmacêutica, de higiene pessoal e de petróleo e gás. Em biotecnologia, foram realizados atendimentos para produtores de fertilizantes e empresas de tecnologia (startups).


O estado como parceiro

Radicada no Brasil há 20 anos, a farmacêutica venezuelana Peky Noriega cursou mestrado, doutorado e pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Em 2013, poucos meses após concluir sua última etapa acadêmica, ela mudou sua condição de pesquisadora para empreendedora e incubou a Nanofitotec, empresa recém-criada por ela, no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), localizado na Cidade Universitária, na capital.

Segundo Peky, especialista em fitoterápicos, a proposta de sua startup é usar a nanotecnologia para potencializar as propriedades de extratos vegetais utilizados em medicamentos e cosméticos. “Desse modo, é possível usar quantidades menores e obter resultados mais eficientes em comparação com muitos itens de composição sintética hoje à venda”, explica.

Na sua avaliação, muitas espécies da flora brasileira têm potencial para inovação e negócios. Assim, uma das estratégias adotadas em sua empresa é buscar patentear muitos dos conhecimentos sobre plantas adquiridos ao longo de sua formação universitária.

Cicatrizante

Para iniciar a operação da empresa, atualmente instalada na Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Peky conseguiu aprovar na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), em 2013, projeto de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe-Fapesp) Fase I, para desenvolver nanopartículas utilizadas em medicamentos cicatrizantes.

Em 2014, aprovou no IPT/Embrapii o desenvolvimento do Nanolin, composto para tratamento antienvelhecimento ou de doenças de pele a partir da Centella asiatica, planta de uso tradicional na área de cosméticos. “O apoio do IPT com pessoal, laboratórios e equipamentos foi fundamental. Possibilitou aumentar a permeabilidade e o campo de ação do produto, isto é, atingir as camadas mais profundas da pele”, pontua Peky.

Atualmente, o composto segue à disposição para empresas interessadas em produzi-lo em escala comercial. “Até para um negócio de grande porte é difícil desenvolver um produto nanoestruturado, pois os custos desses equipamentos são muitos altos. Por isso, classifico como imprescindível o serviço prestado pelo IPT/Embrapii”, diz a empresária, informando ter conseguido no final do ano passado novo financiamento Pipe-Fapesp Fase II.

Serviço

Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT
Telefone (11) 3767-4400
E-mail ipt@ipt.br

Embrapii
Nanofitotec

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 26/07/2017. (PDF)