Tecnologia identifica até 97% de conteúdo indesejado em sites e vídeos

Desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Computação da Unicamp, aplicativo rastreia e bloqueia exibição de pornografia em celulares, tablets e televisores; inovação foi patenteada em copropriedade entre a universidade e a sul-coreana Samsung

Em busca de uma solução capaz de impedir o acesso indevido a conteúdos adultos em seus aparelhos eletrônicos, a multinacional sul-coreana Samsung, por meio de sua filial brasileira, a Samsung Research Institute Brazil, procurou, no ano de 2013, os pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Reasoning for Complex Data (Recod), do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (IC-Unicamp), com o objetivo de desenvolver um meio de impedir que crianças visualizem sites pornográficos em seus celulares, tablets e televisores.

Em novembro do mesmo ano, foi firmada a parceria entre a universidade e a empresa, a qual financiou o projeto, por meio da concessão de bolsas de estudo e a cessão de equipamentos. O trabalho teve também o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O mês de janeiro de 2016 foi estabelecido em contrato como o prazo de encerramento do trabalho; no entanto, um ano antes, a equipe do IC-Unicamp, coordenada pelo professor Anderson Rocha, apresentou à Samsung diversas possibilidades de uso do software desenvolvido, batizado de Análise de Mídias Sensíveis.

Aprendizado

Também cientista da computação e integrante da equipe do professor Anderson, a pesquisadora Sandra Avila sublinha o fato de a solução desenvolvida no IC-Unicamp ser capaz de identificar mais de 97% do conteúdo pornográfico, porcentual de detecção superior às ferramentas disponíveis no mercado.

O trabalho teve ainda a participação dos cientistas Daniel Moraes, Daniel Moreira, Mauricio Perez e Siome Goldenstein, do IC-Unicamp, Eduardo Valle, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC-Unicamp); e Miguel Lizarraga e Vanessa Testoni, da Samsung Research Institute Brazil.

“Usamos abordagens recentes de inteligência artificial, como o chamado deep learning. Essa técnica de aprendizado de máquina permite localizar com precisão padrões distintos em meio a um volume imenso de dados. Assim, ao analisar em tempo real um conjunto de imagens estáticas e em movimento, o sistema aprende a compreender o que é um conteúdo sensível, isto é, algo legítimo para o acesso de um adulto, porém, impróprio para uma criança”, explica Sandra.

Patente

A tecnologia desenvolvida no IC-Unicamp é tema de artigo publicado na revista científica Neurocomputing (Volume 230, 22-3-2017, páginas 279–293), com o título “Video pornography detection through deep learning techniques and motion information” (ver serviço). O trabalho rendeu dois pedidos de depósito de patente no ano passado.

O primeiro deles, de âmbito nacional, teve seu encaminhamento feito ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em abril; o segundo, de abrangência internacional, foi protocolado em junho, no órgão do governo dos Estados Unidos responsável por patentes e marcas comerciais, o United States Patent and Trademark Office (USPTO).

“Por se tratar de informação confidencial, a Samsung não divulga como atualmente emprega a tecnologia desenvolvida”, diz Sandra. Ela destaca o fato de a linha de pesquisa prosseguir atualmente no IC-Unicamp com outros estudos de pós-graduação. Segundo ela, diversos estudantes estão trabalhando no aprimoramento da inovação para detectar outros conteúdos sensíveis em sequências de imagens com pessoas, como, por exemplo, revelar adultos e crianças em situações de pedofilia ou ainda identificar atitudes suspeitas ou violentas de pessoas em multidões.

Metodologia

No início, os programas de computador usados para detectar pornografia buscavam primeiro tentar achar cenas de nudez para depois definir um limite de exposição física aceitável e, finalmente, classificar esse conteúdo como pornográfico ou não. Eram usadas como parâmetros algumas características da pele humana, como a cor e a textura, além de dados da geometria dos corpos. No entanto, os resultados obtidos mostravam-se insatisfatórios, filtravam menos do que o necessário ou bloqueavam indevidamente conteúdos sem sexo explícito, como lutas de vale-tudo e pessoas nadando.

Para diminuir a ambiguidade, a saída encontrada foi incorporar outro elemento de classificação: informações de movimento extraídas ao longo do tempo. Assim, quando o usuário clica em algum e-mail contendo link para um vídeo ou, ainda, caso acesse Tecnologia identifica até 97% de conteúdo indesejado em sites e vídeos algum site com janela para um vídeo, antes de sua execução o programa faz a análise por meio da extração prévia de um quadro por segundo. São, então, verificados os quadros com as imagens aplicando-se neles o método de classificação de descrições do que é tolerado e do que é pornográfico.

Abrangência

Paralelamente, o conjunto de quadros analisados fornece os elementos para sequenciar os movimentos dos objetos e pessoas presentes na cena. Dependendo do tipo de movimento, o vídeo é bloqueado. Segundo os pesquisadores, o método foi testado com sucesso por cerca de 140 horas com mil vídeos pornográficos e em outros mil não pornográficos cuja duração variava de 6 segundos a 33 minutos.

As sequências com cenas de sexo explícito tinham a participação de atores de etnias diversas e também foram considerados desenhos animados. Entre os vídeos não pornográficos havia cenas de banhistas na praia e em clubes ou combates de lutas. Foi utilizando essa metodologia que a equipe do IC-Unicamp conseguiu elevar o nível de filtragem de pornografia e chegar aos 97%.

Serviço

O artigo publicado na revista científica Neurocomputing está disponível em goo.gl/2Vpq4S

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/04/2017. (PDF)

Prótese de perna modular é inovação da Fatec Mogi Mirim

Criação de alunos e professores do curso de Mecatrônica Industrial, equipamento inclusivo nacional pode ser opção de baixo custo para pessoas amputadas

Desenvolver um modelo nacional de prótese de perna para amputados mais em conta do que os produtos à disposição no mercado. Esta é a proposta dos estudantes Ademir Ganziera e Guilherme Ferreira, do curso de Mecatrônica Industrial da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Arthur de Azevedo, de Mogi Mirim.

Iniciada em 2016, a pesquisa pretende produzir a prótese a um custo em torno de R$ 20 mil (o produto importado pode chegar a R$ 100 mil). Outro conceito é a construção modular, estratégia que permite a substituição rápida de componentes, uma vantagem em comparação aos diversos modelos convencionais, muitas vezes impossibilitados de uso depois da quebra ou defeito de uma peça. O primeiro protótipo do projeto foi apresentado, em outubro do ano passado, na 10ª Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps), realizada na capital.

Currículo

Em desenvolvimento nos laboratórios e oficinas da Fatec Mogi Mirim, a segunda versão da prótese é o mais recente projeto da unidade do Centro Paula Souza com tecnologias inclusivas. Internamente, o grupo de trabalho, responsável por essa linha de pesquisa, foi estruturado pelo professor Helder Hermini, físico e pós-doutorado em Mecânica e Mecatrônica em Reabilitação Humana pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A Fatec Mogi Mirim tem no currículo uma mesa cirúrgica para obesos, cuja tecnologia foi repassada à empresa Biomobile. E também um sistema de guindaste, o qual é utilizado para transferir pacientes da mesa cirúrgica para a maca, e que também pode ser usado por cadeirantes nas sessões de hidroterapia.

Empreender

Hermini divide a orientação do trabalho da prótese com seu colega, Henrique Camargo, também professor de Mecatrônica Industrial, curso instituído na Fatec em 2015 com duração de seis semestres. A dupla de docentes pretende, no futuro, abrir em sociedade com os dois alunos uma empresa em Mogi Mirim para produzir a prótese – e, assim, atender, com unidades sob medida, o público formado por amputados e pessoas com malformação nos membros inferiores.

Em comparação com o modelo do ano passado, a versão atual da prótese traz várias novidades. Incorpora, por exemplo, programação de algoritmos, mais circuitos e conexões eletrônicas, desenvolvimento de técnicas de inteligência artificial e desenho e produção de peças com laminação de fibra de carbono, entre outros pontos. Na próxima Feteps, será possível conferir essas inovações em um protótipo montado e funcional.

Demonstração

“Na primeira semana de fevereiro, apresentamos uma prévia do novo protótipo em um workshop, na Campus Party”, informa Ganziera. O professor Hermini revela ter solicitado à Agência Inova Paula Souza uma análise do projeto, a fim de proteger, com uma futura patente, a propriedade intelectual de todas as tecnologias desenvolvidas e incorporadas (ver serviço).

“No momento, os estudantes seguem fazendo testes com a prótese em laboratório, para avaliar a segurança do equipamento. Depois dessa etapa, vamos analisar seu desempenho com voluntários. São dois senhores idosos que aceitaram participar do projeto. Para não haver riscos, essa fase será realizada em um ambulatório de fisioterapia”, informa Hermini.

Parceria

Até agora, a criação da prótese consumiu cerca de R$ 2 mil, custo dividido entre alunos e professores. Eles estimam precisar de mais R$ 15 mil para finalizar o segundo protótipo, devendo a totalidade desse recurso ser direcionada à compra de matéria-prima. Desde o início da pesquisa com a prótese, oficialmente denominada ‘antropomórfica microcontrolada’, o projeto teve apoio da empresa Festo, com a doação de componentes pneumáticos e hidráulicos.

“A construção do protótipo é feita na própria oficina da Fatec. A mão de obra empregada é dos próprios universitários”, comenta o professor Hermini ao se referir a Ademir Ganziera, 28 anos, com formatura prevista para o final de 2018; e a Guilherme Ferreira, cuja conclusão da graduação tecnológica deverá ocorrer em dezembro de 2019.

Apoio

Para obter os recursos que faltam para o desenvolvimento do projeto, os empreendedores da Fatec Mogi Mirim estudam duas opções. A primeira é recorrer a órgãos públicos de estímulo à ciência, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no âmbito estadual, e também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no nível federal.

A segunda alternativa, avaliam, será recorrer a financiamentos públicos oferecidos com juros subsidiados para montar a empresa. Entre as opções consideradas, há as linhas de crédito oferecidas pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), vinculada à administração estadual, e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ligado ao governo federal (ver serviço).

Serviço

Fatec Mogi Mirim
E-mail – helder_anibal_hermini@yahoo.com.br
Telefone (19) 3804-5387

Agência Inova Paula Souza
Desenvolve SP
Fapesp
BNDES

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/02/2017. (PDF)

Instituto de Zootecnia integra produção animal e florestamento

Programa de Produção Animal em Sistemas Integrados (Propasi) apresenta ao produtor rural alternativa de renda sustentável, a partir da diversificação de atividades

Oferecer ao produtor rural alternativa de renda sustentável a partir da diversificação das atividades em sua propriedade. Essa é a proposta de pesquisa pioneira do Programa de Produção Animal em Sistemas Integrados (Propasi), do Instituto de Zootecnia (IZ), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA).

O trabalho consiste em avaliar arranjos de plantio de árvores de mogno africano em pastos de capim-marandu, de forma a identificar um modelo de manejo viável e lucrativo na produção animal e na atividade madeireira. Além disso, a pesquisa pretende contribuir com a longevidade desse sistema silvipastoril, nome que define a criação intencional e integrada de árvores, pastagem e gado na mesma área e ao mesmo tempo.

Coordenado pela zootecnista Alessandra Giacomini, o estudo prossegue no município de Nova Odessa, em área de 30 hectares, conhecida como “Maracanã”, da Estação Experimental Central do IZ. O projeto de alternativa ao monocultivo convencional foi iniciado em dezembro de 2015, com término previsto para dezembro do ano que vem. Recebeu financiamento de R$ 150 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com parceria com a empresa Mudas Nobres, que doou 7,5 mil mudas de mogno africano para o trabalho de campo.

Benefícios

“Independentemente do porte da propriedade, a proposta é oferecer alternativa de diversificação da renda para o pecuarista, de modo que a associação de pecuária e produção madeireira (silvicultura) fortaleça a produção agropecuária de forma sustentável”, explica Alessandra.

Segundo ela, quando completarem seu ciclo de desenvolvimento, as árvores fornecerão madeira de lei e também ajudarão a evitar a degradação das pastagens. “Além disso, sua presença no campo vai reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proporcionar conforto térmico aos animais, um fator de aumento de produtividade”, destaca.

Outros conceitos inclusos nesse sistema integrado são a prevenção do desmatamento e a abertura de novas fronteiras agrícolas no País, por permitirem ao pecuarista produzir mais e por mais tempo na mesma propriedade, sem precisar recorrer a áreas florestais e de preservação, problema existente na Região Norte e Região Centro-Oeste do País. “Na pesquisa, usamos gado leiteiro, porém, o projeto pode ser aplicado e obter os mesmos resultados na pecuária de corte e na ovinocultura”, ressalta a zootecnista.

Parcerias

O sistema silvipastoril em estudo em Nova Odessa tem a colaboração da agrônoma Luciana Gerdes, do zootecnista Enilson Ribeiro e de mais quatro pesquisadores do IZ. Além deles, também participam da pesquisa cientistas de outros centros vinculados à pasta estadual da Agricultura e Abastecimento: dois do Instituto Florestal (IF), um do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e dois do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

De acordo com Luciana, a escolha do mogno africano como espécie de florestamento foi pelo fato de ser exótica, isto é, não originária da flora nacional e ter baixo custo – cada muda custa, em média, R$ 5. Além disso, ela sublinha, essa variedade fornece madeira de alto valor agregado, cerca de R$ 2,5 mil o metro cúbico, valor dez vezes superior ao conseguido pelo eucalipto. “Em média, com 15 anos de vida, a árvore atinge tamanho comercial para ser cortada e fornecer a madeira”, informa.

Funcionamento

Na pesquisa, o gado permanece em piquetes de capim-marandu entre as linhas de árvores, plantadas a cada 15 metros, protegidas por cerca elétrica e com espaçamento de 5 metros entre as mudas. Durante dois anos, os animais não têm acesso às árvores, para evitar que comam ou danifiquem as plantas. Depois desse período, serão liberados para pastar no local e se beneficiar da sombra.

O produtor rural interessado em conhecer o projeto pode entrar em contato com o Instituto de Zootecnia ou, então, participar da próxima saída a campo, de demonstração, prevista para ocorrer em maio – data e horário serão divulgados no site do IZ (ver serviço).

De acordo com explicações dos pesquisadores, se as árvores forem cortadas após 15 anos de plantio e for considerado o valor atual do metro cúbico do mogno, a renda possível a ser obtida, plantando-se 240 mudas por hectare, será de aproximadamente R$ 420 mil por hectare em sistema silvipastoril.

Serviço

Instituto de Zootecnia (IZ)
E-mail giacomini@iz.sp.gov.br
Telefone (19) 3466-9410

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/01/2017. (PDF)