Exportações paulistas crescem 36% em 11 meses e somam 28 bilhões de dólares

Do total vendido pelo País, São Paulo responde por 50% do café, 70% da carne bovina e 70% do açúcar e do álcool; produção chega a um terço do PIB nacional

São Paulo exportou US$ 28 bilhões nos 11 primeiros meses do ano. A quantidade vendida é 36,3% maior que a registrada no mesmo período de 2003, e a produção paulista responde por um terço do PIB nacional. O Estado perfaz 33% do total brasileiro de pedidos para o mercado estrangeiro e as importações paulistas representam 40% do volume nacional. Os números foram anunciados pelo secretário estadual da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, João Carlos de Souza Meireles, no lançamento do Catálogo do Exportador Paulista e do Programa Exporta São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes.

“A vocação se revela pelos números: 50% das vendas nacionais de café, 70% da carne bovina e 70% da produção e exportação de açúcar e de álcool do País”, informou Meireles. Também disse que as exportações brasileiras cresceram 31,6% de janeiro a novembro. “Contados os dois últimos anos, São Paulo registrará aumento de 50% nas vendas ao exterior. Em 2002 foram US$ 20 bilhões, enquanto 2004 deverá terminar com US$ 30 bilhões”, previu.

Empresas paulistas no exterior

O Catálogo do Exportador Paulista é um banco de dados que cadastra o nome e a relação de produtos de empreendedores dispostos a fechar contratos com compradores estrangeiros. Está disponível na internet e terá, em breve, as informações reunidas num CD-ROM, que será distribuído em embaixadas, consulados, câmaras de comércio, feiras e exposições internacionais. O objetivo é divulgar no exterior as empresas paulistas que já exportam e informar os clientes estrangeiros sobre como encontrar e fechar contratos de fornecimento com os produtores de São Paulo. O empresário interessado pode se cadastrar gratuitamente no site da Central de Atendimento ao Exportador.

Meireles informa que, na página da Internet, há ainda o Checklist do Exportador, seção que oferece um questionário no site para verificar se a empresa está preparada para exportar. “Há, também, links para sites afins e um guia com 15 passos, que esclarece sobre restrições alfandegárias, legislação estrangeira, barreiras sanitárias e embarque de mercadorias, entre outros assuntos.”

Exportar para crescer

O objetivo do Programa Exporta São Paulo é ampliar a base de vendas paulista, que hoje congrega 8,2 mil empresas, e criar a cultura da exportação em pequenos e microempresários, em especial os do interior do Estado. Para isso, serão realizados seminários em várias regiões, com o nome de Exportar para crescer – Novos caminhos para o mercado externo. O programa foi desenvolvido pelo governo estadual em parceria com a Federação das Associações Comerciais do Estado e a São Paulo Chamber of Commerce.

Serviço

Central de Atendimento ao Exportador
Tel. (11) 3272-7374

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/12/2004. (PDF)

Escola da Freguesia do Ó é considerada modelo na rede pública estadual

Gestão transparente da diretoria e união de professores, alunos e funcionários cria ambiente saudável e favorável ao aprendizado

A Escola Estadual Mathias Aires localizada na Freguesia do Ó, zona norte da capital, é considerada modelo pela Secretaria Estadual da Educação (SEE). O estabelecimento de ensino foi criado há 55 anos e oferece para os 1.168 alunos dos níveis médio (suplência) e fundamental ciclo I atividades extracurriculares, avaliação com participação dos estudantes, inclusão dos pais e de alunos com necessidades especiais e merenda caprichada. As crianças todos os dias encontram um ambiente limpo, organizado, saboroso e favorável ao aprendizado.

Cássia Passarin é mãe das gêmeas Ariana e Bruna, estudantes da terceira série. “Minha família aprova e admira a dedicação de professores e funcionários. Além disso, com grande prazer participo de atividades ligadas ao calendário escolar, como a feira cultural, que estimula os pais a participar mais da educação dos filhos”, conta.

Bruna Passarin conta que aprendeu a conservar sua escola como se fosse a própria casa. “Todo mundo gosta de sempre encontrar papel higiênico nos banheiros e admirar a beleza do jardim que nunca é pisoteado. No primeiro dia de aula, a professora ensina que é errado jogar papel no chão, rabiscar carteiras e pichar muros. Assim, quem suja, precisa limpar, porquê a escola é de todo mundo e quando eu ficar mocinha também vou querer que meus filhos estudem aqui”, conta a estudante.

Elza Oliveira, mãe de aluna da terceira série concorda. E ressalta que a parte pedagógica é excelente. “Vejo minha filha se esforçar bastante nas tarefas de português, matemática e história. E ela também gosta muito do culto religioso ecumênico que é realizado diariamente antes das aulas. Nesta prece coletiva, os alunos cantam, rezam e discutem valores como solidariedade e respeito ao próximo”, comenta.

Administração transparente

Marisa Bruna Russo Negrizolo há 13 anos é diretora da EE Mathias Aires. Repete junto com Izildinha do Rego Santos, vice-diretora, experiências bem-sucedidas que vivenciaram juntas na administração de um outro estabelecimento de ensino. A dirigente conta que quando assumiu, encontrou um ambiente desfavorável, sem disciplina e motivação. Havia pichações nas paredes e o material de limpeza utilizado era de má qualidade.

“A primeira medida tomada foi ouvir cada professor, aluno e funcionário e perguntar o que seria necessário para que cada um pudesse desempenhar bem sua função e ser feliz com sua escolha profissional. Concluí então que era necessário reforçar a auto-estima coletiva e, de modo transparente, deleguei funções e cobrei. Aos poucos, com a união de todos, os resultados começaram a aparecer. Tiramos piolho das crianças, fazemos mutirões e atividades extracurriculares, doamos uniformes, orientamos os estudantes mais velhos que cursam suplência e, desde que assumi, nunca suspendi ninguém. As decisões aqui tomadas são sempre consensuais e justificadas”, salienta.

Ao chegar na escola, as crianças são diariamente surpreendidas com mensagens em todas as paredes do prédio. São murais com fotos, desenhos e mensagens que Marisa produz para enfeitar a escola e motivar os alunos. “Os painéis são trocados a cada quinze dias e tem por objetivo despertar emoções e lembrar às crianças todos os dias que elas são a razão de existir da escola”, conta Marisa.

Maria Elisabete Fornazari, coordenadora pedagógica, conta que o EE Mathias Aires não tem nenhuma fórmula perfeita, mas sim uma grande equipe, que trabalha em harmonia e que ama o seu trabalho. “Aqui, ao menos uma vez por semana cantamos o hino nacional e hasteamos a bandeira. São valores muito importantes na formação de cidadãos conscientes e sadios”, relata.

Diretora e vice-diretora ressaltam que a filosofia de administração escolar delas é global e não descuida de pequenos detalhes, que somados, fazem a diferença. Os jardins são bem cuidados, os banheiros são limpos e a cantina vende produtos de qualidade com preço abaixo do encontrado em outras escolas. “Meu marido também é diretor de escola e sempre comparamos os preços”, explica.

A escola tem também máquina de lavar para cuidar de uniformes utilizados e colocou em funcionamento um cesto de coleta de lixo seletiva. O jardim é bem cuidado e a horta só não foi ainda replantada porque a direção está esperando a florada das roseiras. A dupla Marisa e Izildinha explica que o melhor sinal da qualidade da escola, é a grande fila de espera existente na escola de alunos interessados em se transferir e matricular na escola.

Regimento interno

Um dos fatores de sucesso da escola é o regimento interno, conjunto de regras disciplinares debatidas e atualizadas no início de cada período letivo. Marisa conta que os alunos colaboram com sugestões, críticas, perguntas e observações e nenhuma reivindicação fica sem resposta. Terminadas as discussões e finalizado o texto, alunos e professores assinam o código de conduta. Estudantes menores de idade levam cópia do documento para casa para os pais assinar e discutir os pontos com os filhos.

As regras do regimento são simples e claras. O código tem só uma folha e aborda questões do cotidiano escolar como uso do uniforme, respeito à horários, frequência nas aulas e também orientação como não subir no palco do pátio no recreio para evitar quedas, como proceder em ausências motivadas por problemas de saúde. “Evito assim indisciplina, faltas de professores e estudantes e gritarias. Além disso, no horário de aulas disperso aglomerações nas imediações da escola e evito assim, problemas com álcool e drogas”, explica.

Comunidade integrada

Marisa conta que o vínculo existente entre a EE Mathias Ayres e a comunidade do bairro é forte. Pais de alunos sempre que solicitados, comparecem e arregaçam as mangas – em mutirão ou individualmente. A união já resultou na limpeza coletiva de todo o prédio escolar e também propiciou momentos de confraternização, como churrascos com a presença de professores, alunos e pais. “A relação é fraternal e afetuosa, porém aula é aula e não há desculpas para faltar”, enfatiza, Marisa.

Nos finais de semana o Programa Escola da Família da Secretaria Estadual da Educação organiza oficinas na escola e atrai ainda mais pessoas da comunidade. As atividades são dirigidas para quaisquer interessados e os voluntários ensinam atividades profissionalizantes, aulas de violino, educação física, teclado, artes, pintura em tela, reciclagem e panificação, oferecem palestras sobre drogas e DSTs, festival de música, esportes e teatro, entre outras.

Saber e sabor

A merenda é outro destaque do EE Mathias Aires. São 400 refeições servidas diariamente, em quatro intervalos de aula. A dispensa é limpa e organizada, as caixas com mantimentos são etiquetadas e as panelas brilham. Quem comanda a cozinha industrial é Ignez Alves, merendeira com 29 anos de casa. “Amo esta escola, estudei e me formei aqui, assim como meus filhos e netos. Há 42 anos moro no bairro e espero que meus bisnetos também venham para cá”, afirma.

A jornada de trabalho dos profissionais da cozinha começa às 7h e só termina por volta das 18h, com a limpeza dos pratos e utensílios de cozinha para o dia seguinte. Ignez tem a ajuda de voluntárias como Sônia Casteli e Sueli Morales, entre outras. “Minha maior satisfação é o sorriso dos pequeninos”, conta.

As crianças adoram o cardápio. Felipe Santos, 7 anos, entrou em 2004 na escola e todos os dias repete o prato. No refeitório, as colegas de sala Taís Feliciano e Maíra Souza, de 9 anos estudam na terceira série contam que a hora do recreio é a mais gostosa do dia. “A comida é sempre quentinha e gostosa. Quando tem macarronada, o refeitório lota e falta até espaço para sentar”, contam lambendo os beiços.

Sandra Maria dos Santos é professora do ciclo I e há seis anos leciona com classes de terceira série. “Gosto da organização do Mathias. Vim transferida para cá e não conhecia a escola, mas já decidi me aposentar aqui. Tenho autonomia para ensinar e a sistemática de trabalho é interessante – cada mês há um valor para ser transmitido aos alunos, com música, poemas e atividades ligadas ao tema. Em setembro o tema foi paz e em outubro o mote é a cooperação”, conta.

Parcerias

O EE Mathias Aires mantém parcerias com empresas que doam computadores usados e também faz permutas com lojas da vizinhança, como o Bazar do Rodolfo, que vende material escolar.

Há um total de compras a ser atingido, que quando é completado o dono da loja doa material escolar para a escola. O controle é feito por meio de tíquetes que são distribuídos para os alunos no ato da venda. “Não há propaganda explícita, mas os pais, principalmente os da APM, sabem e divulgam a parceria que beneficia os alunos carentes”, conta Marisa.

Outra parceria é com a Papelaria Japuíba, localizada no bairro vizinho da Casa Verde. A instituição banca projetos como o Projeto Oficina Arte e Cultura, que oferece pré-profissionalização cultural e artística para os alunos deficientes mentais (DMs) das classes especiais da escola. São salas que dispõem de professora especializada e tem no máximo 15 alunos matriculados cada.

A diretora se emociona ao relatar a história de uma ex-aluna deficiente mental da escola que retransmitiu para seus familiares aquilo que aprendeu na EE Mathias Aires, e que hoje garante o sustento da família: a produção de imãs de geladeiras e biscuits. “O tratamento do DM em termos de aprendizagem é diferenciado, porém a convivência no ambiente escolar é igual à dos demais.”, explica Marisa.

O aluno Wésley Gonçalves da Silva tem 18 anos e estuda na terceira série B, na companhia dos outros colegas. Assim como ele, todos os alunos portadores de deficiência mental têm lições com Antonia da Silva, professora especializada, que os prepara para frequentar as aulas na companhia dos demais. “Adoro as atividades como a feira cultural e de livros realizadas na escola. Nelas encontro livros e posso expor meus desenhos”, conta.

Rogério Mascia Silveira (texto e fotos)
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 15/10/2004. (PDF)

Seminário discute evolução, estratégias e controle da Aids no Estado

Contágio cresce em mulheres, heterossexuais e pobres; aumenta a sobrevida dos soropositivos e número de casos se estabilizam

São Paulo é o Estado brasileiro onde foi iniciada a luta contra a Aids há 20 anos. Para marcar a data, a Secretaria Estadual da Saúde promoveu entre os dias 2 e 3 de dezembro no Hotel Hilton, na capital, o Seminário “20 Anos de Aids – Desafios e Propostas”. O encontro reuniu especialistas brasileiros e autoridades da União, estados e municípios, no combate à doença que aflige 40 milhões de portadores do vírus no planeta.

No centro dos debates, questões como o desenvolvimento de vacinas contra o HIV; a proteção das classes mais vulneráveis a doença; a distribuição e controle de preservativos e de medicamentos antivirais; o estímulo a realização dos testes anti-HIV em casos de suspeita de contaminação; a notificação correta dos novos casos; e um consenso entre os especialistas, a necessidade de informar a população mundial sobre o perigo da Aids.

Entre os palestrantes, Dráurio Barreira, médico e diretor da Vigilância Epidemiológica do Programa Nacional de DST/Aids, o secretário estadual da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata e agentes de saúde pública federal, estadual e municipal, professores universitários, médicos, enfermeiros, líderes religiosos, psicólogos e representantes de ONGs.

Números

Segundo o diretor do Serviço de Vigilância Epidemiológica do Programa Nacional de DST/Aids, Dráurio Barreira, são 600 mil o número de pessoas com HIV no Brasil no ano de 2002. A via sexual responde por 85% dos casos de transmissão. Este ano foram já foram notificados 277 mil casos. Os desafios são brecar a disseminação da doença, em especial no continente africano, onde 39% dos adultos têm o vírus, segundo dados de 2001 da OMS. E também proteger as mulheres, segmento da população mais exposto à contaminação. No Brasil, a proporção atual é de 1,7 homem para cada mulher infectada.

No início da epidemia, a Aids concentrava-se nos homossexuais. Na época, eles eram chamados de modo pejorativo de grupos de risco. “O conceito evoluiu hoje para comportamentos de risco, como sexo desprotegido e uso de drogas injetáveis. Nenhum grupo social, independente da faixa etária, classe ou condição social deve abdicar da prevenção” alerta o pesquisador.

Dráurio apontou avanços no controle à Aids no País, como a estabilização do número de soropositivos e de doentes e a redução na transmissão vertical do HIV, da gestante para o bebê. Em 1997, a taxa era de 16% e em 2002 caiu para 3,2% para as parturientes soropositivas. O Brasil é considerado país modelo de assistência aos portadores de HIV/Aids pela ONU e produz sete dos 15 medicamentos anti-retrovirais distribuídos no País. Ele destacou a progressiva informatização dos sistemas públicos de notificação de casos e o cruzamento de dados como fundamentais para manter a epidemia sob controle.

Agentes multiplicadores

Na opinião do líder de ONG, e religioso de candomblé Babalorixá Celso Ricardo de Oxaguian, “as mulheres negras e minorias são as maiores vítimas da doença. O racismo, desprezo e o abandono de amigos e parentes contribuem também negativamente. Discriminar é crime previsto no Código Penal, porém, simplesmente ignorar não”, lamenta.

Celso preside a ONG paulista Grupo de Valorização do Trabalho em Rede e em sua comunidade na zona oeste da capital, há quatro anos, ele monta balcões de atendimento e aconselhamento a população sobre DSTs. O local funciona também como um centro de formação de agentes multiplicadores de conhecimentos. “Os alunos articulam ações e repassam as noções adquiridas. São fundamentais para atingir um número maior de cidadãos”, conclui.

Sexo casual

A psicóloga Vera Paiva do Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (Nepaids) da USP, lembra a necessidade de criação de espaços não só de tratamento clínico da infecção, mas também de atendimento, treinamento e aconselhamento da população. E sentencia: “não adianta apenas colher dados, há 20 anos fazemos isto. Precisamos valorizar o trabalho clínico, traçar estratégias a partir das informações colhidas e repassar aquilo que foi aprendido para o resto do País”, explica.

Estudiosa do comportamento, Vera, explica que um dos desafios da prevenção é conscientizar a população para usar a camisinha em todas as relações. “Tenho relatos de caminhoneiros que fazem sexo em três contextos diferentes, com a esposa, com a amante e com profissionais do sexo, de acordo com o vínculo afetivo. O desafio é fazer com que eles usem preservativo sempre, já que a via sexual responde hoje por 85% dos casos de transmissão”, relata.

Vera coloca a informação como fator decisivo para o controle da doença. “A epidemia cresce mais nos segmentos de menor escolaridade da população. É preciso chamar a atenção das pessoas que fazer sexo sem proteção traz riscos e assim, qualificar a tomada de decisão sobre fazer sexo ou não”, conclui.

Pioneirismo

O Programa de DST/Aids da Secretaria Estadual da Saúde foi criado em 1983, por técnicos da pasta liderados pelo médico Paulo Roberto Teixeira. Ele é hoje diretor do programa para Aids da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele lembra que na época, não havia informação suficiente sobre a doença e sua transmissão.

As propostas iniciais eram pesquisar e conhecer a dimensão da epidemia, evitar o pânico na população e a discriminação de grupos considerados vulneráveis. Pretendia também atender aos casos notificados e orientar os profissionais de saúde no manejo dos pacientes, conta Artur Kalichman, médico sanitarista e coordenador do Programa Estadual DST/Aids-SP.

“O objetivo hoje é diminuir a vulnerabilidade da população paulista às DSTs e HIV/Aids, melhorar a qualidade dos já afetados e reduzir o preconceito e impactos negativos, de acordo com os princípios do Sistema Unificado de Saúde (SUS)”, declara Kalichman.

O Estado de São Paulo é pioneiro na utilização e distribuição gratuita de medicamentos para portadores de infecção pelo HIV/Aids. Em 1990, adquiriu a Zidovudina (AZT) primeira droga usada no tratamento dos portadores de HIV/Aids. Em outubro de 1996, o programa estadual de passou a adquirir os medicamentos anti-retrovirais, compostos pelos inibidores de proteases (Indinavir, Ritonavir, Saquinavir) e de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (Lamivudina) e passou a fornecê-los para todos pacientes necessitados do Estado.

A Secretaria Estadual da Saúde oferece tratamento gratuito para soropositivos e doentes. Segundo a infectologista Cáritas Basso, a redução da mortalidade por Aids pode ser notada a partir da redução de 40% no número de internações no Estado entre 1996 e 2000. A análise da sobrevida de pacientes diagnosticados em 1992, apontou que apenas 22,8% sobreviviam após 36 meses de acompanhamento, porcentual que subiu para 79,2% entre os diagnosticados em 1997.

Segundo dados da pesquisadora Naila Janilde Seabra, do Centro de Referência e Treinamento em DSTs e Aids do Estado de São Paulo, do início da epidemia até 31 de dezembro do ano passado foram notificados 116.733 casos de Aids no Estado, entre eles 85.253 homens e 31.480, mulheres; destes 70.687 morreram. Atualmente 55 mil pacientes são beneficiados pela terapia anti-retroviral no Estado, e tem à sua disposição 170 serviços de assistência especializada (ambulatórios) dos quais 26 possuem leitos-dia, 252 serviços que atendem portadores de DSTs, 28 hospitais-dia, 27 serviços prestando assistência domiciliar terapêutica, 39 centros de testagem e aconselhamento e 840 leitos públicos e privados (filantrópicos) destinados a assistência aos portadores de HIV/Aids e DST.

Vacina anti-Aids

Para acompanhar de perto as novas tecnologias, o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids está participando desde janeiro deste ano, de um estudo denominado Projeto HM (Homem e Mulher), que tem como objetivo principal a preparação da unidade para a realização de futuros testes de vacina anti-HIV. O Centro integra uma rede internacional de colaboração para o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV, financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. “Para conter a epidemia no longo prazo, a melhor estratégia é o desenvolvimento de uma vacina segura, eficaz e acessível”, comenta Kalichman.

Disque DST/Aids

O Disque DST/Aids (136) é um serviço telefônico gratuito de aconselhamento para a população sobre Aids e DSTs. Os interessados têm a disposição a relação de locais onde podem fazer testes anti-HIV, de hospitais do SUS que atendem soropositivos e o que fazer para conseguir o coquetel antiviral. As telefonistas informam também sobre sobre práticas de sexo seguro e indicam a relação de instituições governamentais e ONGs que atuam na defesa dos direitos dos portadores de DSTs/Aids.

Informação nas escolas

O “Programa Prevenção Também se Ensina” é o resultado de uma parceria firmada em 1996 entre as secretarias estaduais da Saúde e da Educação. Ela envolve 3,5 mil escolas da rede pública e atende 3,5 milhões de alunos no Estado e discute temas relacionados à Educação Preventiva (DST/HIV/Aids, Drogas, Sexualidade e Cidadania) no cotidiano dos estabelecimentos de ensino.

A iniciativa também estimula a construção de uma cultura de prevenção e de valorização da vida, que assegure direitos individuais e coletivos, a convivência entre diferentes raças, gêneros, orientação sexual e de geração.

Redução de danos

Nos 20 anos de combate à Aids, houve progressos na logística de distribuição de insumos para prevenção. De 1987 a 1994, a distribuição de preservativos masculinos estava focada em campanhas tais como “Dia Mundial de Combate à Aids (1º de dezembro)” e carnaval, e em projetos pontuais associados a estudos sorológicos e sociocomportamentais com populações específicas. Em 1994, a Secretaria Estadual da Saúde iniciou a distribuição sistemática de preservativos masculinos priorizando usuários dos serviços de saúde com atendimento especializado em DST/HIV/Aids, e os locais onde eram desenvolvidas ações preventivas com as populações de maior risco.

Na década de 80, a Saúde distribuiu 300 mil preservativos/mês no Estado. Em 2002, cerca de 34 milhões de preservativos masculino foram repassados e atualmente, a distribuição é de cerca de 5 milhões de unidades/mês. Em 1998 iniciou-se a distribuição de preservativos femininos com 111 mil unidades. A partir de 1999, também foram oferecidos gel lubrificante como parte dos insumos de prevenção. Foram distribuídos 12 mil unidades de 40g e seis mil unidades de 5g para projetos desenvolvidos por ONGs, centros de referência em DST/Aids e coordenações municipais de DST/Aids que atuam com a população de homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo masculinos e travestis.

Em 2002, os 37 programas de redução de danos entre usuários de drogas do Estado distribuíram 138 mil seringas/agulha fixa, 47,5 mil seringas removíveis, 43,5 mil agulhas, 125 mil frascos de água destilada, 129 mil lenços para assepsia, 99 mil copos para diluição e 58,5 mil estojos para kits de redução de danos.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/12/2003. (PDF)