Com foco na preservação, pesquisa identifica frutas raras da mata atlântica

Estudo da Esalq-USP e Unicamp comprova ação antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória de ubajaí, grumixama, araçá-piranga, bacupari-mirim e cereja-do-rio-grande

Estudo acadêmico pioneiro identificou cinco espécies de frutas originárias da mata atlântica com elevadas propriedades bioativas, isto é, além do valor nutricional, elas possuem ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana, entre outras características funcionais. Os autores são os professores Severino Matias de Alencar, doutor em ciências de alimentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e Pedro Luiz Rosalen, doutor em farmacologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

De acordo com os cientistas, as pesquisas com alimentos naturais com funções biológicas encontrados em biomas brasileiros começaram há mais de 20 anos. O própolis, considerado um dos antibióticos mais antigos que se tem conhecimento, foi o primeiro extrato vegetal estudado. Desde o princípio, o trabalho da dupla tem a participação do biólogo Masaharu Ikegaki, doutor em ciências de alimentos da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

Prata da casa

O trabalho pretende preservar biomas ameaçados, como a mata atlântica, incentivar o uso sustentável da biodiversidade por meio da agricultura familiar e encontrar novas matérias-primas para a indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica, entre outros propósitos. “Uma das expectativas é repetir o sucesso internacional do açaí”, explicam Alencar e Rosalen, comentando sobre o fruto de palmeira amazônica altamente energético, rico em antioxidantes, com vasto consumo no Brasil e exportado para diversos países.

Segundo eles, as frutas nativas pesquisadas apresentam novos sabores e texturas para chefs de cozinha ávidos a inovar em seus pratos. Elas são também fonte de recursos para a universidade pública. “Essas descobertas resultaram no depósito de cinco patentes, e uma delas gera renda a partir da venda de produtos registrados”, explica a dupla, sublinhando o “papel fundamental” das agências de inovação da USP e da Unicamp no processo de definição das regras de exploração de uso da propriedade intelectual desenvolvida.

Saudáveis

Com exceção do bacupari-mirim, as outras quatro variedades provenientes na mata atlântica estudadas a partir do ano 2012 são do gênero Eugenia: araçá-piranga, cereja-do-rio-grande, grumixama e ubajaí. “Elas são raras e algumas estão em risco de extinção. As amostras usadas nos testes de laboratório foram fornecidas por um produtor de Campina do Monte Alegre, cidade paulista próxima a Itapetininga”, explicam.

O estudo analisou os compostos fenólicos das folhas, sementes e polpa das frutas, isto é, averiguou o conjunto de estruturas químicas presentes nelas com potencial preventivo e funcional e seus mecanismos antioxidantes e anti-inflamatórios. Essas propriedades inibem processos ligados a fatores de risco do desenvolvimento de doenças, como câncer, diabetes e Alzheimer. Combatem também os chamados radicais livres, aceleradores do envelhecimento.

Promissoras

Do ponto de vista da ação antioxidante e antirradicais livres, as frutas com maiores porcentuais encontrados nos testes foram a grumixama e a cereja-do-rio-grande – ambas têm sabor agridoce, semelhante ao da amora e do morango. O araçá-piranga se revelou um anti-inflamatório poderoso. Ele inibiu 63% dos processos estimulados em laboratório e apresentou significativa ação antimicrobiana.

O próximo passo, informam os pesquisadores, é aprimorar o cultivo e a produção das plantas pesquisadas. “Iremos agora ‘domesticar’ essas espécies para o cultivo, com o intuito de homogeneizar frutos, obter mudas e orientar um método de manejo adequado a pequenos produtores. Assim, além de preservarem as espécies nativas, eles terão alimento saudável e a opção de gerar renda para suas famílias”, explicam.

Cooperação

Desde 2012, o estudo conjunto Esalq-USP e FOP-Unicamp recebe auxílio regular da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que é direcionado para manter equipamentos e comprar materiais de consumo. De acordo com Alencar e Rosalen, também bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o fato de terem passado por uma seleção da Fapesp para receber o recurso inicial os credenciou a firmarem em 2014 uma cooperação bilateral com a Universidad de La Frontera, do Chile, na área de alimentos funcionais e funções biológicas.

No acordo internacional estabelecido, os cientistas brasileiros estudam as frutas nativas de seu território, e os chilenos, as do país deles, incluindo fungos comestíveis. Os dois grupos mantêm contato permanente, compartilham metodologias de trabalho, resultados encontrados e promovem o intercâmbio de pesquisadores entre as instituições científicas participantes: Esalq-USP, FOP-Unicamp e Universidad de La Frontera.

“Hoje, no mundo, há uma corrida entre diversos centros de pesquisa para encontrar substitutos para os antioxidantes sintéticos usados pela indústria, como o hidroxitolueno butilado (BHT), substâncias que podem provocar efeitos colaterais no organismo”, explica a dupla. “Assim, outro rumo do trabalho é achar na flora brasileira uma opção natural ao BHT e similares, se possível, a partir de uma dessas frutas ameaçadas de extinção. Essa opção seria mais barata, sustentável e teria apelo ecológico”, concluem.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/11/2017. (PDF)

Núcleo Itutinga-Pilões é opção de passeio gratuito no litoral

Roteiros pelo Parque Estadual da Serra do Mar fortalecem a educação ambiental com dezenas de trilhas e observação de espécies nativas em trechos preservados de mata atlântica

Sediado em Cubatão, o Itutinga-Pilões é um dos dez núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) administrados pela Fundação Florestal, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. A área verde preservada é um dos maiores trechos remanescentes de mata atlântica, um dos cinco biomas mais ameaçados no mundo e também um corredor biológico fundamental para a preservação da biodiversidade local, composta por 1,4 mil espécies de animais e 20 mil de vegetais.

O PESM parte da faixa litorânea do Estado do Rio de Janeiro, adentra o território de 25 municípios paulistas e vai até o Paraná. Tem 332 mil hectares de extensão e, desses, 43,8 mil integram o Núcleo Itutinga-Pilões. Os demais trechos, cada um com características próprias de interação social e preservação da flora e da fauna, dividem-se entre os núcleos Bertioga, Caraguatatuba, Cunha, Curucutu, Itariru, Padre Dória, Picinguaba, Santa Virgínia e São Sebastião.

Água de beber

Com origem no tupi-guarani, a palavra Itutinga-Pilões significa portal da água branca rumorejante, referência às diversas cascatas, piscinas naturais e aos rios Passareúva, Pilões e Cubatão presentes no ecossistema. Essas fontes hídricas fornecem 80% da água consumida na Baixada Santista e abastecem também mananciais da Represa Billings, localizada no entorno da capital.

Além de Cubatão, o Núcleo Itutinga-Pilões se estende pelos municípios de Mogi das Cruzes, Praia Grande, Santos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Paulo e São Vicente. O complexo abriga, na encosta da Serra do Mar, a Usina Hidrelétrica Henry Borden e o trecho inicial da Rodovia Caminhos do Mar (SP-148).

De traçado sinuoso, a via foi a primeira interligação do litoral com a capital. Ao longo de seus 9,2 quilômetros, a rodovia mantém preservados diversos monumentos históricos, como o Pouso Paranapiacaba, o Belvedere Circular, o Rancho da Maioridade e a Calçada do Lorena.

Grátis e agendado

A advogada Patrícia Rodrigues, gestora do Núcleo Itutinga-Pilões, explica que a ida ao parque é gratuita e realizada mediante agendamento prévio por telefone ou e-mail, com no mínimo uma semana de antecedência (ver serviço).

Distante 60 quilômetros da capital, a visita pode ser feita de terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas e, aos sábados, das 9 ao meio-dia. São aceitos grupos com até 40 pessoas e o público mais frequente são excursões de professores e alunos de escolas da rede pública e particular. “Muitos passeios terminam com as crianças plantando mudas de espécies nativas”, revela Patrícia.

Durante toda a estadia no núcleo, a equipe de monitores ambientais da Fundação Florestal acompanha os turistas. “Esses profissionais contam a história do local e atuam como educadores ambientais, destacando a importância da conservação dos recursos naturais e culturais brasileiros”, explica Patrícia.

Atrações ilimitadas

Em todos os roteiros do Núcleo Itutinga-Pilões, o visitante deve passar protetor solar e repelente contra insetos. São recomendadas também roupas leves, boné e calçados fechados para fazer caminhadas. A câmera fotográfica é fundamental para registrar as belezas infinitas do PESM, cujo visual mistura floresta com ar puro de montanha e atrai muitos observadores de aves e praticantes de esportes radicais (rafting, mountain bike, rapel), entre outros tipos de turistas.

Na sede, o público pode conhecer o Centro de Visitantes e a Oca do Curumim, atração infantil. Na sequência, visitar as ruínas da Vila Itutinga (hospital, cadeia velha, fábrica de doces e o casarão da vila), antiga morada de trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Itutinga. O próximo passeio são as trilhas do Rio Pilões (1,2 km, dificuldade baixa), da Usina (9 km, dificuldade alta), do Rio Passareúva (3 km, dificuldade média), do Lambari (1,7 km, dificuldade baixa), da Ferradura (1,5 km, dificuldade baixa) e do Laranjal (2 km, dificuldade média).

Na região da Vila de Paranapiacaba, ramal ferroviário construído pelo ingleses no alto da serra, próxima do município de Santo André, todas as trilhas têm dificuldade de nível médio: Vale do Rio Mogi (13 km), Cachoeira Escondida (4 km), Cachoeira da Fumaça (6 km) e Poço Formoso (4 km).


Desenvolvimento sustentável

O tecnólogo ambiental Nilton Peres divide as tarefas do Núcleo Itutinga-Pilões com Patrícia. Morador de Peruíbe e há oito anos no núcleo, ele é responsável pelo atendimento a cientistas interessados em pesquisar as milhares de espécies do PESM, cuja lista inclui várias ameaçadas de extinção, incluindo orquídeas raras e mamíferos como a onça-pintada e macacos mono-carvoeiro e bugio, entre outras.

“O maior felino das Américas tem hábitos noturnos e costuma evitar o contato com os humanos”, revela. “Entretanto, tive o privilégio de avistá-la pessoalmente muitas vezes, sem dizer os registros fotográficos feitos com as ‘traps cameras’ – máquinas fotográficas camufladas escondidas na mata para estudar a vida animal”, informa.

Nilton aposta na educação ambiental e no uso sustentável como caminhos para a preservação do PESM. Como exemplo, cita o trabalho constante de vigilância para combater a caça e a pesca ilegais, que dizimam as espécies polinizadoras e dispersoras de sementes, fundamentais para a perpetuação da vida no parque.

Apaixonado pelo parque, ele sugere no PESM a extração racional dos recursos da floresta nos mesmos moldes do extrativismo realizado na região norte com o açaí. “Diferentemente do corte da palmeira juçara para retirada do palmito, que mata a árvore, a coleta de seus frutos pode ser feita ao longo de toda a vida da espécie”, explicou. “Evita-se, assim, o desmatamento; e essa matéria-prima da floresta é ótima para produzir biscoitos, pão e farinhas”, ensina.

Serviço

Fundação Florestal
Parque Estadual da Serra do Mar (PESM)
Núcleo Itutinga-Pilões (agendamento de visitas)
Estrada Elias Zarzur, km 8, s/nº – Água Fria – Cubatão (SP)
E-mail pesm.itutinga@fflorestal.sp.gov.br
Telefone (13) 3361-8250

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/02/2016. (PDF)

Programa recupera matas ciliares

Com foco na consciência ecológica, ação integra pacote de 21 projetos estratégicos da Secretaria do Meio Ambiente e tem como objetivo reflorestar, com vegetação nativa, 6 mil quilômetros de cursos d’água no Estado de São Paulo

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente trabalha de maneira multidisciplinar em 21 projetos considerados estratégicos, envolvendo municípios, órgãos públicos, instituições ambientalistas e a iniciativa privada. O objetivo é preservar as águas e o ar, acelerar o processo de licenciamento ambiental, combater o desmatamento e promover a educação ambiental, entre outros.

Um exemplo é o Programa Nascentes em Prol do Meio Ambiente. Executada diretamente pela secretaria, a ação é a maior do gênero lançada pelo Poder Público para manter e recuperar olhos-d’água e matas ciliares. Localizada na margem dos rios, córregos, lagos e represas, a mata ciliar é um tipo de vegetação que faz a interação entre sistemas aquáticos e terrestres.

Na mata ciliar, as raízes das plantas ajudam a evitar a erosão e enchentes, impedem a chegada de poluição difusa aos cursos d’água e são importantes para preservar recursos hídricos e a biodiversidade.

Esforço

O Programa Nascentes abrange 6 mil quilômetros de cursos d’água no território paulista, mobilizando proprietários rurais, prefeituras, sindicatos, ONGs, secretarias de Estado, associações e cooperativas. As ações abrangem as bacias hidrográficas do Alto Tietê, Paraíba do Sul e o sistema Piracicaba/Capivari/Jundiaí (Bacia PCJ), áreas onde se concentra uma população superior a 30 milhões de habitantes.

A meta do programa é recuperar 4.464 hectares de matas ciliares, área equivalente a 5,4 mil campos de futebol. Para isso, serão utilizados 6,3 milhões de mudas de espécies nativas. O primeiro plantio foi realizado em março, no município de Piracaia, na Bacia PCJ, que atende o Sistema Cantareira. A operação prossegue em mais 10,2 hectares do entorno dos cursos d’água de áreas ciliares de seis propriedades rurais, próximas da Represa da Cachoeira.

Replantios

A segunda etapa do projeto começou em abril, no município de Jacareí, e segue reflorestando 371 hectares de matas ciliares na bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. No total, serão plantadas 619 mil mudas de 80 espécies nativas da mata atlântica em dez áreas localizadas no reservatório da Usina Hidrelétrica Jaguari, pertencente à Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

A lista de espécies nativas de mata atlântica a serem utilizadas nos replantios inclui aroreira-pimenteira, sangra-d’água, pau-cigarra, tamboril, ingá, paineira-rosa, copaíba, canafístula, jatobá, tapiá, cedro-rosa, araucária, açoita-cavalo, eritrina, embaúba e figueira.

Iniciada em junho, a terceira etapa prossegue com a frente de trabalho organizada na cidade de Joanópolis. Vem sendo executada em três propriedades particulares, totalizando dez hectares na Bacia PCJ, trecho prioritário para o programa, por fornecer grande volume de água para o abastecimento público.

Reconhecimento

Pessoa física ou pessoa jurídica participante do Programa Nascentes em Áreas de Proteção Permanente (APP) recebe certificado de participação da secretaria. Na mesma linha, o Selo Nascentes será entregue pela pasta às empresas que, voluntariamente, desenvolvam proposta de restauração no âmbito do programa e também àquelas que a executem em área superior à imposta em sede administrativa ou judicial, em cumprimento à obrigação legal.

Serviço

Nascentes em Prol do Meio Ambiente (site).
Demais programas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 12/08/2015. (PDF)