Em 7 anos, Banco do Povo destinou R$ 269 milhões a microempreendedores

Créditos de R$ 200 a R$ 5 mil auxiliam na expansão de pequenos negócios de clientes com dificuldades de comprovar renda e preencher requisitos exigidos pelo sistema financeiro tradicional

Há pouco mais de quatro anos, Paulo Sérgio do Nascimento montou informalmente uma quitandinha numa garagem de 40 metros quadrados, em Botujuru, bairro da periferia de São Bernardo do Campo. Junto com o irmão vendia legumes. Nascimento queria ampliar o negócio, mas não tinha dinheiro. Ao participar de cursos de empreendedorismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) foi informado de que, mesmo não tendo firma aberta, poderia obter empréstimo do Banco do Povo Paulista (BPP).

Nascimento não hesitou. Em setembro de 2001, fez seu primeiro microcrédito, de R$ 2 mil. “O Banco cobra só 1% de juros ao mês. Diversifiquei as mercadorias com bebidas e gêneros alimentícios, que antes não comercializava. Comecei a adquirir os produtos nos atacadistas à vista, com lucros de 30% a 40%. Desse jeito, fica fácil pagar a dívida”, explica.

Daí em diante, investiu o lucro na ampliação de seu negócio. Obteve equipamentos de caixa, duas balanças eletrônicas e quatro freezers. Nos anos seguintes, solicitou outros empréstimos, num total de mais de R$ 30 mil. Nascimento frisa que sempre pagou as parcelas em dia e até quitava antes do prazo.

As conquistas não pararam por aí. A área da quitanda foi aumentada e se transformou em mercadinho, conhecido como Sacolão e Minimercado Thaynara. Oferece aos clientes um pouco de tudo: desde artigos de papelaria, utilidades domésticas até uma pequena variedade de calçados (chinelos). No andar superior, instalou bar com mesa de sinuca e bebidas. Como também é pedreiro, assumiu o trabalho de construção e economizou um bom dinheiro.

O dono do mercadinho conta que a experiência de empreendedorismo, aliada ao constante aprimoramento, só lhe rende bons resultados. “Duas vezes por semana vou ao Poupatempo São Bernardo do Campo orientar-me com os consultores do Sebrae. Se não buscar informações, como vou desenvolver meu negócio? Sem o Banco do Povo, não teria saído do lugar”, avalia.

Até o carnaval de 2006, pretende pedir outros empréstimos e criar um mini-açougue e uma mini-padaria. Quando concretizar esse objetivo, diz que sairá da informalidade. O pequeno comércio inicial de 40 metros quadrados ganhou mais 80 metros quadrados de área construída.

Geração de empregos

O Banco do Povo Paulista, considerado o maior programa de microcrédito do País, é uma iniciativa do governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho (Sert). Criado em setembro de 1998, mantém parceria com 347 municípios paulistas. Até o mês passado, o total de contratos assinados pela instituição ultrapassou 100 mil, com a destinação de R$ 269 milhões para pequenos empreendedores, na informalidade ou não.

Nos dias 12 e 13, foram instaladas agências do Banco do Povo nas cidades de Canitar, na região de Ourinhos, e Ituverava, cidade próxima a São Joaquim da Barra. Amanhã, será inaugurada nova unidade em Barretos.

A finalidade da instituição financeira é gerar ocupação e renda aos beneficiários. As parcelas são pequenas e calculadas para não sobrecarregar o tomador de empréstimo. Com juros de 1% ao mês, a inadimplência é de apenas 2%. Em quase sete anos de atividade, a iniciativa gerou 61,9 mil empregos diretos, 12,8 mil indiretos e 44,5 mil colocações profissionais de efeito renda (emprego obtido a partir da transformação da renda dos trabalhadores em consumo).

Menos burocracia

O agente financeiro da operação é o Banco Nossa Caixa e o empréstimo é concedido em qualquer uma das 347 agências no Estado. O banco empresta, em média, R$ 8 milhões mensais. O dinheiro está disponível para pequenos negócios, em especial para clientes como catadores de papelão, que têm dificuldades de comprovar renda e preencher os requisitos exigidos pelo sistema financeiro tradicional. Pode fazer o empréstimo qualquer tipo de empreendedor com atividade lícita: açougue, bicicletaria, carrinho de pipoca, artesanato, oficina de costura, mecânica, bar, chaveiro e produção rural.

O agente de crédito é o grande motor do Banco do Povo. Esse profissional atende ao empreendedor, estuda a viabilidade do negócio, orienta e acompanha o cliente. É ele quem identifica riscos de inadimplência e define o valor do empréstimo. Para isso, desloca-se da agência bancária até a propriedade ou negócio do interessado e faz estudo de viabilidade. Um dos objetivos da ida ao local de trabalho do empreendedor é evitar a possibilidade de calote.

Comitê de crédito

O Estado tem 485 agentes de crédito. Cada um recebe treinamento constante como noções de matemática financeira, comunicação e assistência As lições aprendidas são sempre repassadas aos empreendedores. Além das prefeituras, o Banco do Povo mantém parcerias com o Sebrae e Pró-lar (programa do governo estadual que oferece moradia e melhores condições de habitação a famílias de baixa renda).

Outros projetos da Sert também utilizam o microcrédito estadual: Programa de Auto Emprego (PAE) e a Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), que investe na capacitação e formação de cooperativas de artesãos. Recentemente, a instituição governamental firmou convênio com o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp) para oferecer empréstimo a empreendedores artesanais.

O Banco do Povo responde por 90% dos recursos direcionados aos clientes, e as prefeituras paulistas desembolsam os outros 10%. Cerca de 73% dos financiamentos concedidos retornaram aos fundos para novo empréstimo. O cliente solicita o crédito e o seu negócio tende a progredir. Quitando a dívida, a tendência é que regularize a situação (antes informal) para conseguir créditos maiores. O dinheiro é liberado somente após aprovação do comitê de crédito, formado por representantes de quatro entidades: Sert, comissão municipal de emprego, Banco Nossa Caixa e prefeitura.

Como obter o crédito

Para conseguir empréstimo, o interessado deve ter endereço fixo e produzir no município há mais de seis meses, com firma aberta ou não. Ter nome limpo na Serasa, no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e faturar menos de R$ 150 mil por ano. É necessário apresentar um avalista. Esse fiador pode ser parente de primeiro grau, desde que não more na mesma casa.

O dinheiro é cedido tanto para investimento fixo (compra de máquinas, equipamentos e ferramentas) como para capital de giro (mercadoria, matéria-prima, consertos e ferramentas). Não é permitido usar os recursos para aquisição de insumos do setor agropecuário (sementes, fertilizantes, animais) e pagamento de dívidas. É proibido fazer uso do crédito para compra de veículos de passeio e para qualquer atividade ilegal. A verba deve ser empregada na produção e em atividades de empreendedorismo.

Outras instituições oferecem linhas de financiamentos especiais na área de agropecuária. O valor mínimo do empréstimo é de R$ 200 e o máximo, R$ 5 mil. O prazo de pagamento é de até seis meses para capital de giro e no máximo 18 para investimento fixo. Se o solicitante for uma cooperativa legalizada, o valor pode alcançar até R$ 25 mil.


Segredo do sucesso: capacitação e responsabilidade

Izabel de Souza Sampaio tinha um pequeno salão de cabeleireiro em sociedade com outra pessoa, em São Bernardo do Campo. Quando a parceira resolver desfazer o negócio, a cabeleireira passou por dificuldades financeiras. No início de 2001, ao participar de curso de empreendedorismo do Sebrae, foi indicada a conhecer o Programa de Microcrédito do governo paulista.

De início, fez um empréstimo de R$ 2,7 mil, que lhe possibilitaram comprar novo lavatório, cadeira e maca. Resultado: aumento de 30% da clientela. Meses depois, Izabel percebeu a necessidade de mais espaço. Em novembro do mesmo ano, alugou uma casa numa rua bem localizada, em Rudge Ramos, bairro comercial da cidade. Nesse local, mora com a família e mantém o salão de beleza, agora, mais amplo.

A profissional contratou uma esteticista e mais uma cabeleireira. Em abril, pediu mais R$ 3 mil ao Banco do Povo. Ampliou o salão ainda mais e deu novo visual ao ambiente. Adquiriu novas bancadas, duas cadeiras e admitiu outra funcionária.

“Quanto ao acerto da dívida, não tenho problemas. Pago 18 parcelas de R$ 182. Se fosse num banco comum, os juros seriam bem maiores”, ressalta a moça, completando: “Compro os equipamentos à vista e obtenho entre 4% e 5% de desconto. Com isso, os juros de 12% ao ano (do Banco do Povo) caem para 7% ou 8%”, celebra.

“Se parcelasse os produtos nas lojas, as prestações seriam bem mais altas”, calcula. Izabel relata que sempre pagou os débitos com o banco em dia, por isso tem credibilidade para novos recursos. A dona do Lis Cabeleireiras dá uma dica a quem quer progredir no empreendedorismo: “Seja um profissional responsável. Estude bastante e capacite-se para a função”.


Soluções encontradas na agência Araraquara

A agência Araraquara do Banco do Povo é uma das mais movimentadas do interior. Criada em dezembro de 2001, dispõe de três agentes de crédito e emprestou mais de R$ 1,1 milhão.

O agente Paulo Alexandre da Silva conta que 80% dos pedidos atendidos são de trabalhadores informais e os 20% restantes para os formais. “A maior motivação é saber que, depois do levantamento econômico para conceder o primeiro crédito, passamos para o cliente nova visão gerencial de seu próprio negócio, que ele não era capaz de enxergar”, diz.

Seu colega Celso Paiva afirma que os vínculos de amizade formados são frequentes: “Muitos empreendedores voltam para trocar ideias, informações e pedir novos empréstimos”.

Juliana Porto, também agente de crédito, lembra da história de um migrante que veio para a região colher laranja e ficou desempregado na entressafra. Decidido, começou a percorrer a cidade recolhendo sucata com sacolas. Logo, transformou uma geladeira velha em carrinho para carregar mais itens. Para expandir a atividade e coletar o material proveniente de indústrias, solicitou ao Banco do Povo o financiamento de uma kombi.

O comitê de crédito estudou a viabilidade e constatou que o homem não teria como arcar com as despesas do veículo e da carteira de habilitação. Foi sugerido, então, que financiasse uma charrete com mula, por R$ 1 mil. “Foi a solução encontrada, viável e que atendeu à necessidade do cliente sem sobrecarregá-lo”, diz Juliana.


Depoimentos de empreendedores da região de Araraquara

“Ajudou-me na produção, tornando-a mais rápida e com melhor qualidade”. Ana Maria Mauri – dona de confecção

“Com o financiamento ampliei os itens vendidos, oferecendo comodidade aos clientes e aumentando o movimento”. Andréia Rodrigues – setor de alimentação

“Auxiliou-me na compra de equipamentos para expandir a produção e aperfeiçoar a qualidade”. Antônio Ciniato – afiador de ferramentas

“Tive oportunidade de ampliar minha floricultura. E o número de consumidores aumentou”. Inara de Freitas – dona de floricultura

“O Banco do Povo Paulista me deu condições de maior produção e variedades na parte de tecelagem”. Josefa da Silva – proprietária de confecção

“Com o financiamento, comprei uma máquina de café expresso. E aumentei a minha clientela”. Manoel Gomes – setor de alimentação

“Promoveu impulso mais rápido para viabilizar negócios maiores”. Maria Cristina Ruivo – artesã

“Consegui melhorar diagnósticos com mais rapidez, depois que comprei equipamentos com o financiamento”. Roberto Zacarias – oficina mecânica


Números do Banco do Povo desde 1998

– Total de contratos formalizados: 100.699;
– Valor emprestado: R$ 269.045.895;
– Geração de 61,9 mil empregos diretos e 12,85 mil indiretos, com efeito renda de 44,5 mil.

Viviane Gomes e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/08/2005. (PDF)

Banco do Povo Paulista encerra biênio 2003-2004 com 55 mil novos contratos

Crescimento de 166% comparando períodos entre 98 e 2002. Em seis anos, programa de apoio ao pequeno empreendedor gerou 54 mil empregos diretos e 11 mil indiretos

O Banco do Povo Paulista, iniciativa da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert), em parceria com os municípios do Estado, encerra o biênio 2003-2004 com a assinatura de 55 mil novos contratos. O crescimento foi de 166% em comparação com o período de setembro de 1998 a dezembro de 2002. O volume de dinheiro emprestado desde o início das atividades do banco aproxima-se dos R$ 230 milhões.

Segundo o consultor técnico do programa, José Francisco Ramos Bastia, o objetivo do Banco do Povo Paulista é gerar ocupação e renda para o pequeno empreendedor paulista, com situação regularizada ou não. “O projeto tem apelo social, não visa ao lucro, empresta dinheiro com juros de 1% ao mês e a inadimplência é baixa, menos de 2%. Desde o início das atividades, gerou 54 mil empregos diretos e 11 mil indiretos”, informa.

Condições para o empréstimo

Para conseguir o recurso financeiro, o interessado deve ter endereço fixo e estar produzindo no município há mais de seis meses, com firma aberta ou não. Precisa, também, ter nome limpo no Serasa e no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), e faturar menos que R$ 150 mil por ano. É necessário, ainda, apresentar avalista que não tenha restrições no comércio. O fiador pode ser parente de primeiro grau, desde que não more na mesma residência.

O dinheiro deve ser cedido para investimento fixo (compra de máquinas, equipamentos e ferramentas) ou para capital de giro (mercadoria, matéria-prima, consertos e ferramentas). Não é permitido usá-lo para compra de insumos para o setor agropecuário – sementes, fertilizantes, animais – pagar dívidas, adquirir veículos de passeio e qualquer atividade ilegal.

O valor mínimo do empréstimo é de R$ 200 e o máximo, de R$ 5 mil. O prazo de pagamento é de até seis meses para capital de giro e de até um ano e meio para investimento fixo. Se o solicitante for cooperativa legalizada, o valor pedido pode chegar até R$ 25 mil. O agente financeiro da operação é o Banco Nossa Caixa e o empréstimo é concedido em qualquer uma das 340 agências no Estado.

O dinheiro está disponível para pequenos negócios, em especial clientes como um catador de papelão que, muitas vezes, não consegue comprovar renda e preencher todos os requisitos exigidos pelo sistema financeiro tradicional. “A proposta do Banco do Povo não é fazer caridade e sim possibilitar a expansão do negócio. As parcelas são baixas e calculadas para não sobrecarregar a pessoa necessitada”, ressalta Guaracy Fontes Monteiro Filho, diretor-executivo do programa.

Agentes de cidadania

O agente de crédito é o grande motor do banco. Ele atende ao empreendedor, faz estudos de viabilidade do negócio e orienta e acompanha o cliente. É ele quem identifica riscos de inadimplência e define o valor a ser emprestado. Esse profissional não tem perfil burocrático, se desloca da agência até a propriedade ou negócio do cliente e faz um estudo de viabilidade.

O Estado dispõe de 482 agentes de crédito. Cada um recebe treinamento constante e tem noções de matemática financeira, comunicação e assistência. As lições aprendidas são sempre repassadas para os empreendedores. Além das prefeituras, o banco mantém parcerias com o Sebrae, Banco Nossa Caixa e com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), por meio do Projeto Vida Nova, de financiamento a parentes de detentos.

Outras iniciativas da Sert também participam como o Programa de Auto Emprego (PAE) e a Sutaco, que investem na capacitação e formação de cooperativas de artesãos. Guaracy informa que, em breve, será firmada parceria do banco com o Fundo Social de Solidariedade do Estado (Fussesp). “A meta é atender os empreendedores que participaram das oficinas artesanais mantidas pelo Fussesp.”

Dupla que deu certo

José Luiz Mendonça e Lúcio Antonio Giannini, proprietários da MG Artes Gráficas, conheceram o Banco do Povo Paulista por meio de um folheto e decidiram procurar a agência, em Matão, para financiar R$ 5 mil, parte do preço de uma máquina offset. O equipamento permitiu à empresa imprimir 2,5 mil folhetos monocromáticos por hora, no formato ofício, e ampliar a produção.

O investimento teve retorno rápido e a dupla decidiu quitar o empréstimo antes do vencimento das 18 parcelas. Objetivo: comprar outra offset para imprimir no formato duplo ofício e ampliar a variedade de panfletos para os clientes. “O empréstimo permitiu a expansão do negócio. Antes restrito a nós dois, já chegamos a ter 12 funcionários”, lembra Lúcio.

Números do Banco do Povo Paulista em seis anos

Total de empréstimos formalizados 
87.235
Valor emprestado
R$ 228,9 milhões
Empregos diretos gerados
53.885
Empregos indiretos criados
10.878

Rogério Mascia Silveira (texto e fotos)
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/12/2004. (PDF)

ParqTec comemora 20 anos com 70 empresas instaladas em São Carlos

Primeira e maior incubadora de empresas tecnológicas da América Latina fixa pesquisadores no Estado e gera emprego e renda

No 20º aniversário da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (ParqTec), a entidade comemora o sucesso de 70 empresas que passaram pela incubadora e hoje geram emprego e renda na região central do Estado. Fabricam produtos inovadores e prestam serviços diferenciados, todos desenvolvidos com novidades tecnológicas.

A ParqTec é a maior incubadora de empresas de base tecnológica da América Latina. Pioneira no País, é uma entidade de direito privado, não visa ao lucro e foi criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recebe apoio da prefeitura local, governo federal e Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo.

Sylvio Rosa, professor da USP São Carlos e presidente da fundação, conta que a entidade tem diretoria executiva e conselhos consultivo e deliberativo. Seus representantes são professores de centros de pesquisa locais, como a USP e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e instituições como a Unesp, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), prefeitura e empresários do Centro das Indústrias do Estado (Ciesp).

O modelo de serviço prestado pelo ParqTec estimulou a criação de incubadoras em mais de 50 cidades paulistas, entre elas Marília, Presidente Prudente e Bebedouro. Também iniciou e orientou o empreendimento em cada uma dos municípios. “A ideia é aproveitar a vocação de cada local e prepará-lo para receber investimentos na área de tecnologia”, explica Sylvio.

Infraestrutura

A ParqTec oferece a infraestrutura necessária para o empreendedor começar e tocar seu negócio enquanto está incubado. Tem salas mobiliadas, de reunião, biblioteca, laboratórios de desenvolvimento de produtos, oficina mecânica, rede local de computadores, internet, telefone, serviço de limpeza, água e luz.

Sylvio conta que a incubadora não estipula período mínimo nem máximo de permanência, porém o valor mensal cobrado é reajustado progressivamente. A meta é que o empresário não fique mais do que três ou quatro anos incubado. A cobrança estimula-o a crescer, ceder o espaço e fixar-se em São Carlos.

O engenheiro Luis Antonio Pereira, gerente da ParqTec, conta que atualmente 14 empresas estão abrigadas no complexo, limite máximo. O centro está atualmente dividindo salas para abrir mais vagas e instalar outros negócios. “É grande a procura para se estabelecer no aqui, e, quando consegue, o empreendedor recebe acompanhamento em tempo integral de seu negócio”, explica.

A ParqTec aproveita a vasta produção acadêmica local, em especial de ciências exatas – engenharias (elétrica, mecânica, materiais e produção), física e ciência da computação. “O convívio diário entre empreendedores e gestores da incubadora é enriquecedor. E a maioria das histórias tem tido final feliz, com a consolidação de empresas sólidas e inovadoras, que geram emprego e renda na região”, relata Pereira.

A incubadora oferece também capacitação técnica e empresarial para interessados em abrir e gerir um negócio. A ParqTec ensina a criar plano completo de negócio, com análise de concorrência, definição do mercado a ser enfrentado, planejamento da produção, investimento em maquinário, treinamento de pessoal e fluxo de caixa. E tem biblioteca especializada em administração e marketing.

Science Park

O Science Park é o projeto mais ambicioso da ParqTec. É um distrito industrial que está sendo construído em terreno cedido pela prefeitura, ao lado da fábrica de motores da Volkswagen em São Carlos. Terá capacidade para 56 firmas e funcionará também como incubadora para formar e receber empresas. A obra está prevista para ser concluída em dezembro de 2005 e tem investimento de R$ 1,5 milhão.

Os atrativos são a logística favorável do complexo, próximo da Rodovia Washington Luiz, redes de informática capazes de receber tráfego de dados em alta quantidade e velocidade, automação, linhas de ônibus, redes de água, eletricidade e uma conexão com o Gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelo local.

“O objetivo é integrar toda a cadeia produtiva, como fazem as montadoras de veículos, que agrupam fornecedores em torno de sua linha de montagem. E também como fizeram os norte-americanos no Vale do Silício, base da indústria de informática local”, comenta Sylvio.

Projetos especiais

O ParqTec mantém sete atividades básicas em funcionamento: incubadora de empresas, escola de administração, núcleo de pesquisa, assessoria e consultoria, programas institucionais, eventos e promoções, São Carlos Science Park e centro de modernização empresarial.

Mantém ainda o núcleo de prototipagem rápida, capaz de projetar, modelar e construir peças e componentes com durabilidade e resistência. Sylvio conta o exemplo de um fabricante local de bebedouros que encomendou uma tampa especial higiênica para seu equipamento, produzido a base de um plástico. “Hoje o consumidor encontra nas lojas o bebedouro, que é de qualidade comprovada”, comenta.

O ParqTec tem também laboratórios que simulam a produção de um forno industrial – aquece, queima e esfria amostras. Faz todos os testes físicos de um produto cerâmico antes de ser fabricado. O forno de rolo determina qual é o melhor processo de queima e o forno a gradiente queima simultaneamente diversas amostras de argila em temperaturas e quantidades diferentes. O objetivo é oferecer parâmetros para produção em escala industrial. E a sequência de testes continua com uma panela de pressão especial, que testa amostras na água e revela como ocorre o processo de absorção de líquido na cerâmica.

Núcleo de design

Marcos Brefe é o chefe do grupo de pesquisa e desenvolvimento em design do ParqTec. O núcleo oferece soluções e projetos sob medida, é composto por oito designers e dois engenheiros de materiais. Atende há dez anos o polo cerâmico de Santa Gertrudes, maior produtor paulista e nacional de cerâmica, com 200 linhas fabris e catálogo de 800 tipos de produto.

O designer relata que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerâmica e exporta por US$ 2,50, o metro quadrado. A Itália, líder mundial do segmento, vende por US$ 10 e a Espanha, a segunda colocada por US$ 8. “O produto nacional já é, do ponto de vista técnico, comparável ao europeu, porém lhe falta marketing e funcionalidades. Este é o desafio para conseguir um maior preço de exportação”, conta.

Os profissionais do núcleo de design escrevem artigos técnico-científicos, participam de palestras e congressos estrangeiros como visitantes e mantêm intercâmbio com os EUA e Europa para se adaptar às novas tendências. “O Brasil tem excelente designers, arrematou 18 prêmios internacionais em 2004, porém lhe falta políticas de valorização e incentivo governamental ao design. O núcleo da ParqTec valoriza a cultura nacional e temos como inspiração uma biblioteca composta por livros de arquitetura, paisagens, cidades, pedras, madeiras, flora e fauna brasileiras”, conta.

Logística sob controle

O paulistano Fabrizio Passari, 28 anos, deixou a capital para estudar na USP em São Carlos e hoje, engenheiro mecatrônico formado com especialização na Alemanha, é sócio fundador da BR Express. Sua empresa é especializada em programas para áreas de logística e transporte de cargas.

Fabrizio tem o típico perfil do empreendedor incubado no ParqTec: jovem, na faixa etária de 30 anos. Seus sócios são um professor que o orientou nos anos de graduação e mais dois empresários locais. Sua empresa está incubada na ParqTec há três anos.

Um dos produtos que a BR Express vende é um sistema de roteirização de entregas para transportadoras. Flexível, se adapta às necessidades de cada cliente e traz mapas detalhados que indicam quarteirões, ruas com sentido obrigatório, contramão e locais para conversão à esquerda e à direita. “A vantagem é poder planejar e distribuir entregas com o máximo de eficiência para 300 caminhões e traçar a rota com o menor custo e tempo possíveis”, explica Fabrizio.

Hoje a BR Express tem 12 empregados e recebe financiamento da Fapesp. “A empresa desenvolve agora outro software, que permite acompanhar em tempo real pedidos on-line. É útil para quem tem loja virtual e para o comprador, pois oferece informação instantânea sobre o andamento da encomenda”, finaliza.

Sebrae, parceiro constante

O Sebrae é parceiro natural do ParqTec. Apoia e prepara microempreendedores interessados em abrir um negócio. Paola Goulart Rosa, 33 anos, gerente, relata que a entidade ministra com exclusividade no País o Empretec, capacitação desenvolvida pela ONU que não requer instrução mínima e reforça e faz aflorar características empreendedoras nos donos de negócios.

Paola explica que a ONU entrevistou empresários de diversas regiões do globo, na faixa etária de 50 anos. Todos tinham origem humilde, deixaram a pobreza para trás e progrediram. Em comum, tinham nove características bem definidas: persistência, capacidade de correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de informações, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento sistemáticos, persuasão e rede de contatos e independência e autoconfiança.

Os incubados da ParqTec são estimulados a cursar o Empretec, atividade de imersão. “No Brasil, um traço cultural predominante é o de só pedir auxílio quando o negócio está próximo de falir”, conta. O objetivo é aproveitar que na ParqTec o negócio ainda está no início e estimular os empresários a também participar dos cursos e consultoria nas áreas de marketing, financeira e jurídica. Os serviços prestados pelo Sebrae são todos gratuitos.

Robô educativo e de entretenimento

Antônio Valério Netto, especialista em computação é um dos 33 pesquisadores com título de doutor e mestre que estudaram em São Carlos e criaram a Cientistas Associados, cooperativa da área de tecnologia incubada na ParqTec. A empresa mantém projetos nas áreas de automação, robótica e produtos tecnológicos e desenvolve aplicações de realidade virtual. Entre seus projetos, o destaque é um robô para educação e entretenimento.

O autômato é movido a bateria e será controlado por joystick. Móvel, terá um sensor para identificar objetos e carregá-los por meio de uma garra mecânica. É programável e a ideia é utilizá-lo como recurso tecnológico capaz de motivar alunos do ensino médio. “É leve, evita quedas, colisões e tem visor para passar instruções”, conta Antônio, entusiasmado.

Informações

ParqTec
Rua Alfredo Lopes, 743-841 – Jardim Macarengo (ver no Google Maps)
CEP 13560-460 – São Carlos (SP)
Tel. (16) 3362-6262

Rogério Mascia Silveira (texto e fotos)
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/08/2004. (PDF)