Cetesb lança quatro guias técnicos ambientais de Produção Mais Limpa

Manuais orientam como produzir bijuterias, couros, cítricos, cerveja e refrigerantes com menos água e resíduos tóxicos

Durante a realização da 20ª reunião da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado (Cetesb) lançou quatro Guias Técnicos Ambientais com informações para empresários aprenderem a produzir bijuterias, couros, sucos cítricos e cerveja sob o conceito Produção mais Limpa (P+L), inovação que traz economia para o empreendedor e reduz emissões de resíduos lançados no meio ambiente.

O sistema P+L foi definido pelo Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA), no início da década de 1990. É aplicado nos processos produtivos e visa a conservar recursos naturais (matérias-primas, água e energia), eliminar matérias-primas tóxicas e reduzir resíduos. E também, a diminuir impactos negativos existentes no ciclo de vida de um produto no mercado e reduzir riscos para as pessoas e o meio ambiente.

A reunião da Abema, realizada de 29 de junho a 1º de julho, na capital trouxe novidades internacionais, como a incorporação do consumo e do agronegócio ao conceito de Produção mais Limpa. Essa proposta foi apresentada no 8º Seminário Internacional de Consumo e Produção Sustentáveis, realizado pelo PNUMA, na cidade de Monterrey, no México nos dias 15 e 16 de junho.

Quatro manuais

O guia de bijuterias é uma parceria da Cetesb iniciada em 2003 com a Associação Limeirense de Jóias, o Sindijoias e o Ciesp. A região de Limeira é o principal pólo produtor do País e responde por 50% do total do Estado. Os outros três guias foram desenvolvidos internamente na Cetesb.

Para os couros, foi criado o guia de curtumes com o auxílio de dados fornecidos por seis entidades espalhadas pelo País, ligadas à produção do insumo. Visa a reduzir o consumo de água e problemas relacionados à contaminação por cromo, sulfetos e carga orgânica de efluentes e resíduos. São Paulo detém 23% da produção nacional e o Brasil responde por 11% da produção mundial.

O Estado de São Paulo é o maior pomar citrícola do mundo. Produz 45% da laranja mundial e envolve 320 municípios com 400 mil empregos diretos. O objetivo do guia desse segmento é prevenir impactos relacionados com o uso da água, odores e efluentes. E o manual é inovador: torna públicas informações até então escassas na literatura técnica brasileira sobre a citricultura.

O guia sobre cervejas e refrigerantes teve apoio das indústrias cervejeiras. O foco também foi a redução no consumo de água e da carga orgânica dos efluentes e resíduos. “É um setor com grande potencial de criar e efetivar ações de uso racional e minimização de poluentes. Por exemplo, o bagaço de cevada pode ser utilizado como ração animal e o setor cervejeiro oferece diversas opções de reúso de água dentro do próprio processo”, explica o engenheiro Flávio Ribeiro, gerente do setor de tecnologias limpas da Cetesb.

Download disponível

Interessados nas informações dos guias podem fazer o download dos quatro manuais no site da Cetesb. Segundo Ribeiro, os manuais não indicam soluções definitivas para as empresas, porém apontam caminhos possíveis para atender a problemas ambientais previstos na legislação e trazem ações preventivas.

“O objetivo dos guias é estimular o empreendedor a rever seus processos produtivos. Somente ele conhece profundamente todas operações de seu negócio e, desse modo, consegue adequar-se ambientalmente, evitando multas e acidentes. Melhora também a imagem de sua organização junto à sociedade e diminui os gastos com tratamento e disposição final dos resíduos, além de satisfazer imposições de mercados consumidores mais exigentes”, explica Ribeiro.

O engenheiro observa que as grandes corporações dispõem de tecnologias de preservação ambiental mais eficientes, porém seu desafio é conter seu maior potencial poluidor em virtude da sua escala de produção. Para as pequenas e médias empresas, a intenção dos guias é oferecer informações difíceis de serem encontradas.

Casos de sucesso

No site da Cetesb, há espaço para divulgação de experiências bem-sucedidas com tecnologias limpas. Um exemplo é o da filial da cervejaria Ambev, instalada em Jaguariúna. Em 2002, a empresa fez uma ação para conter desperdícios de água, principalmente na lavagem de equipamentos e resfriamento de processos. Assim, modificou a planta das instalações, introduziu medidas de reúso e eliminou vazamentos. O investimento foi de R$ 98 mil e, depois de um ano, a economia proporcionada já era de R$ 250 mil.

Outro exemplo é o da Mahle, empresa metalúrgica do setor automotivo, instalada no ABC, que substituiu o dióxido de carbono por ar-comprimido. O dióxido de carbono é um gás que contribui para o efeito estufa, enquanto o ar-comprimido é um insumo que já era utilizado para outras finalidades dentro da empresa. A inovação foi empregada em 2002 para a montagem de eixos automotivos, sem nenhum custo extra para a empresa.

Em contrapartida, trouxe redução de emissão de 160 toneladas anuais do gás e os custos de produção do eixo foram reduzidos em R$ 300 mil por ano, já que o gás não precisou mais ser comprado.

Mais manuais

A proposta da Cetesb é revisar e trazer informações atualizadas para os manuais, além de estender os títulos da coleção Produção Mais Limpa para outros setores produtivos que impactam o meio-ambiente, como o de cosméticos (edição quase pronta), mineração, calçados, abatedouros, sucroalcooleiro e pisos e revestimentos cerâmicos. E Ribeiro informa que a Cetesb está de portas abertas para quaisquer setores interessados em desenvolver parcerias.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 01/07/2005. (PDF)

ParqTec comemora 20 anos com 70 empresas instaladas em São Carlos

Primeira e maior incubadora de empresas tecnológicas da América Latina fixa pesquisadores no Estado e gera emprego e renda

No 20º aniversário da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (ParqTec), a entidade comemora o sucesso de 70 empresas que passaram pela incubadora e hoje geram emprego e renda na região central do Estado. Fabricam produtos inovadores e prestam serviços diferenciados, todos desenvolvidos com novidades tecnológicas.

A ParqTec é a maior incubadora de empresas de base tecnológica da América Latina. Pioneira no País, é uma entidade de direito privado, não visa ao lucro e foi criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recebe apoio da prefeitura local, governo federal e Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo.

Sylvio Rosa, professor da USP São Carlos e presidente da fundação, conta que a entidade tem diretoria executiva e conselhos consultivo e deliberativo. Seus representantes são professores de centros de pesquisa locais, como a USP e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e instituições como a Unesp, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), prefeitura e empresários do Centro das Indústrias do Estado (Ciesp).

O modelo de serviço prestado pelo ParqTec estimulou a criação de incubadoras em mais de 50 cidades paulistas, entre elas Marília, Presidente Prudente e Bebedouro. Também iniciou e orientou o empreendimento em cada uma dos municípios. “A ideia é aproveitar a vocação de cada local e prepará-lo para receber investimentos na área de tecnologia”, explica Sylvio.

Infraestrutura

A ParqTec oferece a infraestrutura necessária para o empreendedor começar e tocar seu negócio enquanto está incubado. Tem salas mobiliadas, de reunião, biblioteca, laboratórios de desenvolvimento de produtos, oficina mecânica, rede local de computadores, internet, telefone, serviço de limpeza, água e luz.

Sylvio conta que a incubadora não estipula período mínimo nem máximo de permanência, porém o valor mensal cobrado é reajustado progressivamente. A meta é que o empresário não fique mais do que três ou quatro anos incubado. A cobrança estimula-o a crescer, ceder o espaço e fixar-se em São Carlos.

O engenheiro Luis Antonio Pereira, gerente da ParqTec, conta que atualmente 14 empresas estão abrigadas no complexo, limite máximo. O centro está atualmente dividindo salas para abrir mais vagas e instalar outros negócios. “É grande a procura para se estabelecer no aqui, e, quando consegue, o empreendedor recebe acompanhamento em tempo integral de seu negócio”, explica.

A ParqTec aproveita a vasta produção acadêmica local, em especial de ciências exatas – engenharias (elétrica, mecânica, materiais e produção), física e ciência da computação. “O convívio diário entre empreendedores e gestores da incubadora é enriquecedor. E a maioria das histórias tem tido final feliz, com a consolidação de empresas sólidas e inovadoras, que geram emprego e renda na região”, relata Pereira.

A incubadora oferece também capacitação técnica e empresarial para interessados em abrir e gerir um negócio. A ParqTec ensina a criar plano completo de negócio, com análise de concorrência, definição do mercado a ser enfrentado, planejamento da produção, investimento em maquinário, treinamento de pessoal e fluxo de caixa. E tem biblioteca especializada em administração e marketing.

Science Park

O Science Park é o projeto mais ambicioso da ParqTec. É um distrito industrial que está sendo construído em terreno cedido pela prefeitura, ao lado da fábrica de motores da Volkswagen em São Carlos. Terá capacidade para 56 firmas e funcionará também como incubadora para formar e receber empresas. A obra está prevista para ser concluída em dezembro de 2005 e tem investimento de R$ 1,5 milhão.

Os atrativos são a logística favorável do complexo, próximo da Rodovia Washington Luiz, redes de informática capazes de receber tráfego de dados em alta quantidade e velocidade, automação, linhas de ônibus, redes de água, eletricidade e uma conexão com o Gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelo local.

“O objetivo é integrar toda a cadeia produtiva, como fazem as montadoras de veículos, que agrupam fornecedores em torno de sua linha de montagem. E também como fizeram os norte-americanos no Vale do Silício, base da indústria de informática local”, comenta Sylvio.

Projetos especiais

O ParqTec mantém sete atividades básicas em funcionamento: incubadora de empresas, escola de administração, núcleo de pesquisa, assessoria e consultoria, programas institucionais, eventos e promoções, São Carlos Science Park e centro de modernização empresarial.

Mantém ainda o núcleo de prototipagem rápida, capaz de projetar, modelar e construir peças e componentes com durabilidade e resistência. Sylvio conta o exemplo de um fabricante local de bebedouros que encomendou uma tampa especial higiênica para seu equipamento, produzido a base de um plástico. “Hoje o consumidor encontra nas lojas o bebedouro, que é de qualidade comprovada”, comenta.

O ParqTec tem também laboratórios que simulam a produção de um forno industrial – aquece, queima e esfria amostras. Faz todos os testes físicos de um produto cerâmico antes de ser fabricado. O forno de rolo determina qual é o melhor processo de queima e o forno a gradiente queima simultaneamente diversas amostras de argila em temperaturas e quantidades diferentes. O objetivo é oferecer parâmetros para produção em escala industrial. E a sequência de testes continua com uma panela de pressão especial, que testa amostras na água e revela como ocorre o processo de absorção de líquido na cerâmica.

Núcleo de design

Marcos Brefe é o chefe do grupo de pesquisa e desenvolvimento em design do ParqTec. O núcleo oferece soluções e projetos sob medida, é composto por oito designers e dois engenheiros de materiais. Atende há dez anos o polo cerâmico de Santa Gertrudes, maior produtor paulista e nacional de cerâmica, com 200 linhas fabris e catálogo de 800 tipos de produto.

O designer relata que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerâmica e exporta por US$ 2,50, o metro quadrado. A Itália, líder mundial do segmento, vende por US$ 10 e a Espanha, a segunda colocada por US$ 8. “O produto nacional já é, do ponto de vista técnico, comparável ao europeu, porém lhe falta marketing e funcionalidades. Este é o desafio para conseguir um maior preço de exportação”, conta.

Os profissionais do núcleo de design escrevem artigos técnico-científicos, participam de palestras e congressos estrangeiros como visitantes e mantêm intercâmbio com os EUA e Europa para se adaptar às novas tendências. “O Brasil tem excelente designers, arrematou 18 prêmios internacionais em 2004, porém lhe falta políticas de valorização e incentivo governamental ao design. O núcleo da ParqTec valoriza a cultura nacional e temos como inspiração uma biblioteca composta por livros de arquitetura, paisagens, cidades, pedras, madeiras, flora e fauna brasileiras”, conta.

Logística sob controle

O paulistano Fabrizio Passari, 28 anos, deixou a capital para estudar na USP em São Carlos e hoje, engenheiro mecatrônico formado com especialização na Alemanha, é sócio fundador da BR Express. Sua empresa é especializada em programas para áreas de logística e transporte de cargas.

Fabrizio tem o típico perfil do empreendedor incubado no ParqTec: jovem, na faixa etária de 30 anos. Seus sócios são um professor que o orientou nos anos de graduação e mais dois empresários locais. Sua empresa está incubada na ParqTec há três anos.

Um dos produtos que a BR Express vende é um sistema de roteirização de entregas para transportadoras. Flexível, se adapta às necessidades de cada cliente e traz mapas detalhados que indicam quarteirões, ruas com sentido obrigatório, contramão e locais para conversão à esquerda e à direita. “A vantagem é poder planejar e distribuir entregas com o máximo de eficiência para 300 caminhões e traçar a rota com o menor custo e tempo possíveis”, explica Fabrizio.

Hoje a BR Express tem 12 empregados e recebe financiamento da Fapesp. “A empresa desenvolve agora outro software, que permite acompanhar em tempo real pedidos on-line. É útil para quem tem loja virtual e para o comprador, pois oferece informação instantânea sobre o andamento da encomenda”, finaliza.

Sebrae, parceiro constante

O Sebrae é parceiro natural do ParqTec. Apoia e prepara microempreendedores interessados em abrir um negócio. Paola Goulart Rosa, 33 anos, gerente, relata que a entidade ministra com exclusividade no País o Empretec, capacitação desenvolvida pela ONU que não requer instrução mínima e reforça e faz aflorar características empreendedoras nos donos de negócios.

Paola explica que a ONU entrevistou empresários de diversas regiões do globo, na faixa etária de 50 anos. Todos tinham origem humilde, deixaram a pobreza para trás e progrediram. Em comum, tinham nove características bem definidas: persistência, capacidade de correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de informações, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento sistemáticos, persuasão e rede de contatos e independência e autoconfiança.

Os incubados da ParqTec são estimulados a cursar o Empretec, atividade de imersão. “No Brasil, um traço cultural predominante é o de só pedir auxílio quando o negócio está próximo de falir”, conta. O objetivo é aproveitar que na ParqTec o negócio ainda está no início e estimular os empresários a também participar dos cursos e consultoria nas áreas de marketing, financeira e jurídica. Os serviços prestados pelo Sebrae são todos gratuitos.

Robô educativo e de entretenimento

Antônio Valério Netto, especialista em computação é um dos 33 pesquisadores com título de doutor e mestre que estudaram em São Carlos e criaram a Cientistas Associados, cooperativa da área de tecnologia incubada na ParqTec. A empresa mantém projetos nas áreas de automação, robótica e produtos tecnológicos e desenvolve aplicações de realidade virtual. Entre seus projetos, o destaque é um robô para educação e entretenimento.

O autômato é movido a bateria e será controlado por joystick. Móvel, terá um sensor para identificar objetos e carregá-los por meio de uma garra mecânica. É programável e a ideia é utilizá-lo como recurso tecnológico capaz de motivar alunos do ensino médio. “É leve, evita quedas, colisões e tem visor para passar instruções”, conta Antônio, entusiasmado.

Informações

ParqTec
Rua Alfredo Lopes, 743-841 – Jardim Macarengo (ver no Google Maps)
CEP 13560-460 – São Carlos (SP)
Tel. (16) 3362-6262

Rogério Mascia Silveira (texto e fotos)
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/08/2004. (PDF)