Produtor rural de pequeno porte tem assistência permanente do Estado

Instituto Biológico capacita assentados e cooperados nas áreas de sanidade animal, vegetal e ambiental; meta é garantir a sustentabilidade desses empreendimentos

Oferecer assistência técnica ao pequeno produtor rural ao longo de todo o processo produtivo. Essa é a proposta do Programa de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf), iniciativa da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA) para melhorar a qualidade de vida dos agricultores e também dos alimentos produzidos no Estado. Desde sua criação, em 2009, o programa promoveu 63 capacitações em 32 municípios paulistas.

Executado por técnicos, agrônomos, veterinários e profissionais de diversas formações, o Prosaf transferiu conhecimento a mais de 3 mil produtores. Gratuito, o serviço do Instituto Biológico (IB) atende o produtor nas áreas de sanidade animal, vegetal e ambiental em um trabalho realizado em parceria com outros órgãos da SAA, como Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado (CDA) e Fundação Instituto de Terras do Estado (Itesp), entre outros.

Ilimitado

Responsável pela ação, a agrônoma Harumi Hojo, do IB, destaca a multiplicidade de temas abordados. Inclui controle biológico de pragas em hortifrútis (maracujá, lichia, tomate) e plantas ornamentais (orquídea, gérbera, rosa), manejo de infestações de carrapatos (em bovinos) e de ácaros e estratégias para aprimorar a qualidade do leite.

“Nenhuma solicitação fica sem resposta, inclusive as mais específicas”, garante Harumi. Com Antonio Batista Filho, diretor-geral do IB, ela ressalta a importância de o Estado apoiar, com tecnologia e assistência técnica, o pequeno produtor, para fortalecer e garantir a sustentabilidade desse elo “fundamental e estratégico” da cadeia produtiva.

Segundo dados de 2015 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 70% dos alimentos consumidos no País têm origem na agricultura familiar, assentamentos e cooperativas.

Praga

Um dos serviços mais recentes do Prosaf foi o atendimento a 34 citricultores do Assentamento Conquista, de Tremembé, no Vale do Paraíba. O grupo identificou no final de 2014 a queda na produtividade da tangerina ponkan. Menor tamanho, pouco suco e aspecto deformado levantaram a suspeita de greening (Huanglongbing/HLB), a mais destrutiva praga da citricultura mundial, até então sem registro na região.

O grupo comunicou o fato ao Polo da APTA, em Taubaté, que repassou a suspeita ao IB, para orientação técnica e análises laboratoriais no âmbito do Prosaf. “Além do apoio permanente prestado pelo Itesp aos assentados, solicitamos ao Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) a indicação de um especialista para capacitar os produtores em suas propriedades, em Tremembé”, conta Harumi.

Campo

Em setembro de 2015, além da palestra e do material didático recebido, os assentados aprenderam, com o agrônomo Guilherme Rodriguez, do Fundecitrus, a monitorar, com armadilhas adesivas nas árvores, a infestação da Diaphorina citri. Esse inseto do gênero psilídeo é o transmissor da bactéria Candidatus liberibacter sp., causadora da doença – e a quantidade dessa espécie no pomar é um dos indicativos de greening.

No trabalho de campo foi feita a coleta de folhas e frutos para análises laboratoriais mais detalhadas no IB, realizadas pela equipe do pesquisador Ricardo Harakava. “A citricultura paulista gera muitos empregos e renda para o País. Nesses encontros em Tremembé, todos se uniram para o combate da doença: produtores, prefeitura, Governo do Estado e Fundecitrus”, contou o agrônomo do Fundecitrus, sublinhado o fato de o site da instituição ter disponíveis a legislação e os meios de prevenção da doença (ver serviço).

Erradicação

A Instrução Normativa nº 53/2008 do Mapa determina que todo citricultor com mais de 200 pés de citros precisa manter cadastro na Coordenadoria de Defesa Agropecuária e informar, a cada seis meses, a sanidade do pomar. A lei obriga a eliminação da área cultivada se 28% dos exemplares apresentarem sintomas de greening. Casos de descumprimento podem resultar em multa de 500 a 3,5 mil Ufesps (R$ 23,55 cada, hoje).

Prevenção

Com 3 mil pés de tangerina e laranja, Luís Bustos foi o primeiro citricultor a desconfiar da existência de greening em seu pomar. Nele, trabalham sua mulher e filho, e a peste obrigou a família a derrubar 1,5 mil árvores. Dessas, mil foram replantadas. A vigilância passou a ser permanente: “Hoje, graças ao apoio do IB, tão logo entro no laranjal sei qual pé está contaminado”, revela Bustos.

O controle fitossanitário tem sido satisfatório, pois, segundo ele, o grupo percebeu a necessidade de adoção de medidas preventivas para conter a multiplicação do vetor da doença. Outras medidas são: a verificação diária das plantas em busca de sintomas; pulverização regular; plantio de cerca viva para dificultar a dispersão do transmissor; replantio com mudas certificadas (como as produzidas pela Cati); dificultar o acesso de pessoas estranhas nos plantios, para evitar contaminações, entre outras.

“Para os assentados de Tremembé a visita à sede do IB, em maio, foi inesquecível. Nesse dia, conheceram os laboratórios onde foram analisadas as amostras de seus pomares e receberam os resultados”, lembrou.

Serviço

Prosaf
Telefone (11) 5087-1704
E-mail hojo@biologico.sp.gov.br

Fundecitrus
Instrução Normativa nº 53/2008

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 06/10/2016. (PDF)

Pesquisa da Cena-USP em Mato Grosso e Rondônia estuda causas do efeito estufa

Trabalho relaciona as emissões de gases com a expansão da atividade agropecuária, queimadas e desmatamento

Uma equipe multidisciplinar do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP) iniciou, em maio, um estudo para medir a concentração dos principais gases causadores do efeito estufa nos Estados de Mato Grosso e Rondônia. Ligado à Universidade de São Paulo, esse trabalho do Cena tem a coordenação do pesquisador Carlos Cerri e término previsto para 2010.

A pesquisa foi dividida entre dois grupos de trabalho e está avaliando, na região, o impacto do desmatamento, das queimadas e o avanço da agricultura nos últimos 40 anos. A verificação das emissões é feita em pontos especiais de coleta, distribuídos em uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, porção equivalente ao dobro do território da França.

Efeito estufa

No retorno da primeira expedição para a sede do Cena, localizada junto ao campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba, o professor Cerri explicou que um dos objetivos do trabalho é mapear a vegetação nativa. A expedição percorreu 15 mil quilômetros e avaliou 22 municípios em 45 dias, para medir as quantidades de carbono e nitrogênio emitidas na atmosfera por meio de atividades humanas, como a pecuária e a agricultura.

A metodologia da pesquisa emprega diversas bases obtidas nas prefeituras e mapas da superfície terrestre geradas por satélites da Agência Espacial Norte-americana (Nasa). Quando for finalizado, esse levantamento auxiliará a formulação e revisão de políticas públicas ligadas ao meio ambiente, ocupação do solo e definição de fronteiras agrícolas.

O professor Cerri é um dos pesquisadores brasileiros que contribuíram para a elaboração do Protocolo de Kyoto. O tratado internacional, redigido em 1997, pretende reduzir, com o passar dos anos, as emissões de gases que ampliam o efeito estufa na atmosfera terrestre, por meio do aumento da radiação infravermelha da base da atmosfera.

“Os números sobre as emissões na região permitirão às comunidades científicas brasileira e internacional aprofundar estudos sobre o efeito estufa”, explica o cientista. Segundo ele, 66% das emissões globais de gases responsáveis pelo fenômeno natural provêm da queima de combustíveis minerais (petróleo, carvão mineral e gás natural). O restante é relacionado à agricultura (20%) e ao desmatamento (14%).

O efeito estufa ocorre em uma faixa determinada da atmosfera, quando parte da radiação solar, refletida pela superfície terrestre, é absorvida pelos gases presentes na atmosfera. Os principais gases envolvidos no processo natural são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e os clorofluorcarbonos (CFCs).

Os gases absorvem uma porção da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre e irradiam partes dessa energia de volta para a superfície. Como consequência, o calor é retido e concentrado, devido à superfície receber quase o dobro de energia da atmosfera do que a proveniente do Sol.

Importância vital

“O efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida na Terra. Eleva a temperatura em 30ºC na superfície do planeta e a torna amena e adequada à sobrevivência da biodiversidade e dos ecossistemas. Porém, traz riscos quando é acelerado pela ação humana. Pode desestabilizar o equilíbrio energético no planeta e contribuir para o aquecimento global”, explica o professor Cerri.

Segundo o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), estabelecido em 1988 pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial, a maior parte desse aquecimento, observado durante os últimos 50 anos, se deve muito provavelmente a um aumento dos gases do efeito estufa.

Grande parte da comunidade científica internacional concorda com a tese. Aponta como fatores o aumento da poluição provocada pela queima de combustíveis minerais, o maior consumo energético e o uso intensivo de águas subterrâneas e do solo para a agricultura.

Verdade inconveniente

A industrialização dos três últimos séculos aumentou a concentração de gases do efeito estufa. O efeito sentido foi a elevação, com o passar dos anos, das temperaturas médias mundiais, o chamado aquecimento global. Se a tendência não for revertida, há a possibilidade de seca, desertificação, inundações, furacões, proliferação de doenças e extinção de espécies. Outro risco é o derretimento das calotas polares e geleiras, pois o aumento do nível das águas do mar ameaça áreas litorâneas e ilhas densamente povoadas.

A concentração de emissões no Hemisfério Norte é ligada à industrialização e ao grande consumo de combustíveis minerais. na porção Sul, os riscos incluem a expansão das fronteiras agrícolas, um dos principais pontos de interesse do estudo do Cena nas regiões Norte e Centro-Oeste. com relação ao Brasil, a emissão de gases é inversa à situação global: apenas 25% provém da queima de combustíveis fosseis.

“Cerca de 75% do dióxido de carbono que o País emite na atmosfera é derivado de práticas agrícolas. Se desconsiderarmos o desmatamento, o Brasil cai para a 17ª posição na classificação mundial dos emissores de gases do efeito estufa”, esclarece.

Segundo Cerri, há opções para reduzir a concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, como estimular reflorestamentos e empregar a técnica do plantio direto na agricultura. “Em vez de usar implementos que revolvem a terra, essa metodologia aumenta a fixação do carbono no solo. É preciso, ainda, estimular a produção e o consumo dos biocombustíveis, para diminuir as emissões desses gases”, finaliza.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/11/2007. (PDF)

Agricultura é destaque nas discussões da Conferência Nacional de Bioenergia

Debates incluem avanço das fronteiras tecnológicas e agrícolas e ampliação da matriz energética do País

Dois painéis ampliaram as discussões da Conferência Nacional de Bioenergia, evento promovido pela Universidade São Paulo na capital, entre os dias 26 e 28 de setembro. Os principais temas dos debates foram O avanço do desenvolvimento tecnológico no País e A ênfase da agricultura brasileira em produzir matérias-primas para os biocombustíveis (etanol e biodiesel).

A professora Beatriz Kilikian, da Escola Politécnica da USP, iniciou os trabalhos lembrando os presentes que no início de sua formação acadêmica já eram comuns debates sobre a diversificação de matérias-primas em relação à cana para a produção de álcool.

“Na época, havia na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a preocupação de se impedir a transformação das terras agriculturáveis do País em imensos canaviais. Considerávamos o sorgo como opção de cultivo no cerrado brasileiro, em razão de grande parte do solo brasileiro ser inadequado para a cultura da cana. Agora, essa discussão foi retomada”, observou.

Sobre a produção acadêmica atual, Beatriz mencionou sua pesquisa mais recente. Ela estuda técnicas de reaproveitamento do bagaço e da palha da cana para produzir etanol, meta já presente no Brasil em 1975, com o advento do Proálcool.

Segundo Beatriz, um ponto positivo foi a formação no País, ao longo dos últimos 30 anos, de recursos humanos capazes de assegurar a liderança brasileira nos estudos com bioetanol. “Cabe aqui um reconhecimento da sociedade pelo serviço prestado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) ao patrocinar muitos destes estudos”, destacou.

Parque tecnológico

Na sequência, Weber Amaral, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e coordenador do Pólo Nacional de Biocombustíveis, indicou quatro pontos que julga estratégicos para a manutenção da competitividade do etanol brasileiro.

O primeiro é a ampliação do mercado global para o álcool brasileiro. O passo seguinte será expandir, de modo sustentável, a atual capacidade produtiva. O terceiro é reduzir barreiras técnicas e gargalos na infraestrutura do País, como o transporte, a armazenagem e a distribuição, áreas carentes, em sua opinião. E a última proposta é investir continuamente em inovação.

Com relação ao biodiesel, e para fazer frente à liderança européia nas pesquisas sobre esse combustível de origem vegetal, Weber anunciou o projeto de construção do Parque Tecnológico de Piracicaba.

“A região é berço de novas tecnologias para o setor sucroalcooleiro. Fornece 65% dos bens de capital para manutenção e expansão da capacidade de produção. Além disso, há suporte da prefeitura e de âncoras públicas de pesquisa, como a Esalq, e privadas, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC)”, lembrou.


Fronteira tecnológica

A pesquisadora Elba Bom, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sugeriu coordenação nacional para as pesquisas com os biocombustíveis – uma opção para o País ganhar mais competitividade. Na oportunidade, apresentou projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia para a produção de biomassa.

Segundo a pesquisadora, biomassa é a denominação genérica para toda matéria-prima orgânica de origem animal ou vegetal que pode ser aproveitada como matriz energética. Trata-se de uma fonte renovável, que tem origem possível na cana, gordura bovina, soja, milho, mamona, dendê, girassol, canola, pinhão-manso, madeiras e resíduos orgânicos e de indústrias agrícola e alimentícia.

Expansão agrícola

A pesquisadora descartou o risco de a agricultura brasileira privilegiar culturas direcionadas para os biocombustíveis (cana e a soja) em detrimento da atividade para a alimentação. Minimizou também a questão do avanço das fronteiras agrícolas sobre áreas de preservação ambiental, como o Pantanal, a Amazônia e trechos remanescentes de Mata Atlântica.

Rebateu, ainda, críticas recentes à expansão dos biocombustíveis, proferidas pelos presidentes Evo Morales, da Bolívia, e Hugo Chavez, da Venezuela. “De soja, o País tem área plantada equivalente ao Estado do Paraná; de milho, o espaço corresponde ao Ceará; e de cana, ao da Paraíba. Na verdade, preservar a natureza é uma necessidade fundamental para obtermos sucesso em qualquer cultura agrícola”, ensinou.

Hidrólise

Segundo Elba Bom, a hidrólise enzimática é um tema atual e objeto de grande interesse da comunidade científica internacional. “Vencer esse desafio permitirá ampliar e talvez até dobrar a atual eficiência dos biocombustíveis, sem aumentar áreas de plantio. Há, porém, estratégia de pesquisa exclusiva a ser desenvolvida com cada cultura agrícola e um dos problemas é o alto custo para usar as enzimas, que são importadas”, observou.

No Brasil, a cana é a opção mais promissora, com o reaproveitamento do bagaço e da palha. “A moagem do vegetal na usina para ser fermentado já é um pré-tratamento para a hidrólise. Esta é uma vantagem competitiva a ser considerada, pois o custo desse processo industrial é computado na fixação de preço do açúcar e do álcool pelo mercado”, observa.


Investimento em bioenergia

O ex-presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, encerrou os debates analisando perspectivas de investimento em bioenergia no País. Ele comanda a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), empresa disposta a investir US$ 2 bilhões no etanol, com capital nacional e estrangeiro. O objetivo é instalar dez destilarias de álcool, processar por ano 44 milhões de toneladas de cana e produzir 3,7 bilhões de litros de álcool.

Segundo Reichstul, em comparação com outras culturas, a cana é a matéria-prima com maior eficiência energética. “É uma matriz limpa e sustentável e tem preço competitivo com a gasolina. Além disso, o Brasil tem o menor custo de produção de etanol”, analisa.

Na sua opinião, há oferta suficiente de álcool nas bombas dos postos de todo o País, inclusive na época da entressafra da cana. Destaca que no primeiro semestre do ano, 88% dos veículos vendidos no País eram equipados com motor flex. “Há maturidade no setor e abre-se uma oportunidade de expansão internacional, aliada a uma necessidade premente de aprofundar a co-geração de eletricidade nas usinas, uma saída para conter um apagão elétrico nos próximos anos”, finalizou.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/10/2007. (PDF)