Pesquisa mapeia perfil do usuário do AcessaSP

Disponível on-line, levantamento anual também sinaliza caminhos para aprimoramento do serviço paulista de inclusão digital

O AcessaSP, programa paulista de inclusão digital, divulgou em seu site os números da 13ª pesquisa on-line (Ponline). O levantamento anual identifica o perfil dos usuários dos 840 postos ativos do serviço no Estado de São Paulo e apresenta a avaliação do público sobre o serviço prestado. O estudo foi realizado em dezembro com 3,2 mil usuários de 80% dos postos.

A análise das informações está registrada em um documento de 109 páginas apresentado no formato PDF (ver serviço). A pesquisa foi realizada pela Escola do Futuro, uma das parceiras da Secretaria de Governo do Estado no AcessaSP, sendo responsável pela comunicação do programa com os usuários e pela Rede de Projetos (ver serviço).

Com mais de 2,2 mil trabalhos inscritos, a Rede é um conjunto de iniciativas idealizadas por monitores do AcessaSP e cidadãos. Esses projetos podem ocupar até 30% do horário de atendimento nos postos. O conceito que orienta a Rede de Projetos é o de aproveitar a infraestrutura física e on-line (computadores e acesso à internet) dos postos para desenvolver atividades de cidadania nas mais diversas áreas.

A coordenadora de Pesquisa e Projetos da Escola do Futuro, Drica Guzzi, diz que as informações da Ponline são também usadas para a formulação de políticas públicas com o objetivo de aperfeiçoar o programa. Ela destaca que as séries históricas do estudo tendem a refletir as tendências da internet no Brasil.

A Ponline indicou que 27% dos usuários têm acesso à internet somente nos postos do AcessaSP – e os 78% restantes também se conectam em casa e em outros locais, por rede sem fio (wi-fi). Sublinhou, também, o fato de a maioria dos frequentadores dos postos ter baixa escolaridade, renda familiar de até dois salários mínimos e usar o serviço para procurar emprego (mais de 50% deles) e atividades profissionais e educacionais.

Mobilidade

Drica relata que muitos usam o AcessaSP para criar uma conta de e-mail, hoje uma necessidade comum à maioria dos cidadãos. Para isso, explica, o engajamento dos monitores no atendimento é fundamental. “O mundo está cada vez mais conectado e, quanto mais novo é o usuário, maior é a probabilidade de ele ter familiaridade com a informática e uma postura de independência no posto”, observou.

De acordo com o levantamento, 20% dos entrevistados têm entre 15 e 19 anos de idade; 19% (30 e 39); 14% (40 e 49); 13% (20 e 24); 12% (11 e 14); 11% (mais de 50 anos); 10% (25 e 29); e 1% (crianças com até 10 anos de idade).

Wi-fi

Dos entrevistados, 80% têm celular – 67% na modalidade pré-pago e 13% pós-pago. O grupo usa o aparelho para fazer ligações, fotografar, navegar, acessar aplicativos e redes sociais – 88% deles têm Facebook; 85%, WhatsApp; e 62% assistem a vídeos no Youtube.

“Muitos usuários acessaram a internet pela primeira vez no celular”, revela Drica. “Porém, a maioria não tem recursos para pagar planos de dados móveis cobrados pelas operadoras, cada vez mais caros e restritos. Assim, o acesso sem fio (wi-fi) do programa passou a ser opção”, explica.

Inovações

Cibele Franzese, assessora da Subsecretaria de Tecnologia e Serviços ao Cidadão, da Secretaria de Governo, informa que, desde julho de 2000, data de criação do programa, o conceito de inclusão digital cresceu muito, embora metade da população brasileira ainda não tenha acesso doméstico à internet. Assim, uma das respostas recentes a esse desafio foi a ampliação do acesso wi-fi nos postos.

Hoje, das 840 unidades do AcessaSP existentes no Estado, 174 têm wi-fi. Para aumentar esse número, em 31 de maio foi encerrado um edital com o objetivo de oferecer a conexão sem fio para mais unidades e municípios, a partir da seleção de projetos enviados em uma espécie de concurso. “Os critérios de escolha adotados foram a relevância e o impacto social de cada projeto municipal do posto solicitante vinculado à inscrição”, revela Cibele. “O nome dos selecionados será anunciado até 31 de julho no site do Acessa”, assegura.

Trilhas

Outra inovação, conta Cibele, é a criação do programa Trilhas do Conhecimento (ver serviço). Gratuito, como todos os serviços do AcessaSP, foi concebido para atender três públicos: o interessado disposto a abrir uma microempresa; o profissional em busca de emprego; e o jovem formado no ensino médio que precisa decidir sobre qual carreira seguir.

As chamadas trilhas foram pensadas para todos os perfis de usuários. Cada uma reúne conteúdos selecionados. Quem busca emprego, por exemplo, tem à disposição sites com ofertas e recebe instruções sobre como preencher currículos e se comportar nas redes sociais para não se prejudicar com os empregadores.

Infraestrutura

Na capital e nas 38 cidades da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o AcessaSP é mantido 100% pelo Estado. Todo o programa é coordenado pela Subsecretaria de Tecnologia e Serviços ao Cidadão, da Secretaria de Governo. A gestão é feita pela Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp) e, além da Escola do Futuro, os municípios paulistas também são parceiros da iniciativa.

No interior e litoral, a prefeitura cede espaço físico, faz a seleção e o pagamento dos monitores – a maioria servidores públicos municipais. Em contrapartida, o Estado fornece equipamentos, banda larga, programas de computador e mobiliário, além de capacitar os monitores e acompanhar a qualidade do atendimento.

Para usar os computadores e as redes wi-fi, na maioria dos postos, o cidadão precisa se cadastrar com um documento de identidade original com foto.

Serviço

AcessaSP
13ª pesquisa on-line
Rede de Projetos
Trilhas do Conhecimento

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/06/2016. (PDF)

Governo vai criar laboratório de inovação para o setor público

Pioneiro no País, o iGovLab abre espaço permanente para o debate e solução de questões públicas complexas

Buscar soluções coletivas para problemas complexos do setor público é a proposta do Laboratório de Inovação em Governo (iGovLab), primeiro do gênero a ser criado no País. Com inauguração prevista para a segunda quinzena de junho, a iniciativa resulta da parceria entre Secretaria Estadual de Governo, Universidade de São Paulo (USP), Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam).

O iGovLab adotará metodologias e técnicas gerenciais modernas, centradas na colaboração e na criatividade, como Design Thinking (métodos de abordagem de problemas a partir de processos utilizados por designers) e o Storytelling (técnica de contar histórias que consiste em transmitir eventos na forma de palavras, imagens e sons), entre outras.

Inéditas em órgãos públicos, essas abordagens propõem ouvir a sociedade, gestores e agentes públicos interessados em um processo, com o objetivo de revê-lo, incorporando melhorias, seguindo os seis passos propostos pelo Design Thinking: entender, observar, definir, idealizar, prototipar e testar as soluções encontradas.

Coletivo

O laboratório vai adotar como um de seus princípios o aproveitamento das novas tecnologias disponíveis e a inteligência coletiva de servidores e cidadãos, explica Roberto Agune, da Unidade de Inovação da Secretaria Estadual de Governo; além de incentivar a criatividade, o protagonismo e o empreendedorismo dos participantes na busca por soluções.

“Buscar estender para outros serviços públicos o padrão de excelência atingido pelo Poupatempo (99% de aprovação) está entre os objetivos do projeto”, explica Agune. Hoje, o cidadão pode agendar pela internet ou por telefone atendimento nos 64 postos espalhados pelo Estado. No próprio balcão, cada usuário atribui uma nota ao serviço prestado. Instantaneamente tabulada, essa informação permite aos responsáveis pelo programa tomar decisões gerenciais rápidas e contornar desafios imprevistos (ver serviço).

Interesse público

Álvaro Gregório, também da Unidade de Inovação e um dos mentores do iGovLab, informa alguns dos temas previstos para análise no laboratório. O Acessa São Paulo – rede estadual com 847 infocentros lançada há 15 anos – será o primeiro. A ideia é rever o modelo de negócio, processos, instalações e serviços ligados ao programa de inclusão digital.

O trabalho dos bombeiros aparece como segunda pauta. Periodicamente, a corporação estuda o conjunto de ocorrências atendidas e analisa as de maior incidência e de periculosidade. No iGovLab, há a proposta de capacitar os agentes desse processo para propor e estabelecer ações preventivas (mais baratas que as ostensivas) e capazes de prevenir situações de risco à população, como incêndios e outros acidentes.

“Pretende-se criar um espaço permanente para o Estado atacar problemas de difícil resolução e de caráter multidisciplinar. Questões que abrangem diversos atores públicos e privados em várias áreas, como saúde, segurança e mobilidade urbana”, observa Agune.

Para inovar e formatar soluções, uma das estratégias é apostar na progressiva abertura e integração das bases de dados governamentais, hoje dispersas e fragmentadas em diversas secretarias de Estado e órgãos federais e municipais.

“Uma das ideias é criar uma camada integradora envolvendo esses cadastros e aproveitar essa ‘janela tecnológica’ no iGovLab para propor novos serviços e políticas públicas”, explica Agune. Como exemplo do que pode ser feito, pode-se citar o novo Registro de Identidade Civil (RIC).

Este projeto do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt substituirá o documento de identificação tradicional. O novo RG terá por característica armazenar em memória interna informações pessoais do proprietário, para preservar a privacidade, dar segurança e permitir leitura rápida, via QRcode (leitura pela câmera do celular), inclusive em sistemas móveis, em transações públicas e privadas.

Contatos

Para sugerir temas ou se comunicar com o iGovLab, o cidadão ou servidor público pode recorrer aos portais da Rede Paulista de Inovação em Governo (iGovSP) e o da Fundap. Também há a opção de contatar a Ouvidoria-Geral do Estado, cujo site direciona o interessado às ouvidorias de secretarias, fundações, autarquias e demais empresas públicas paulistas, responsáveis pela demanda (ver serviço).

Todas as manifestações recebidas nas ouvidorias recebem um número de protocolo e ficam registradas nos sistemas internos de informática, independentemente de ser pedido de informação, elogio, reclamação, denúncia, sugestão ou outras demandas. Além disso, o solicitante pode acompanhar pela internet o andamento do seu contato.


iGovLab: montagem e estrutura

O iGovLab segue em fase de montagem. O laboratório de inovação será administrado por um comitê gestor e funcionará, em área de 200 metros quadrados, no quarto andar do edifício sede da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), localizada na Rua Alves Guimarães, 429 – capital.

O espaço inclui ambiente de aprendizagem, com capacidade para 40 pessoas; local para resolução de problemas, para apoiar a criação, desenvolvimento e lançamento de projetos e sala de descompressão, para descanso, troca de ideias e de impressões entre os participantes.

Os encontros presenciais e virtuais do iGovLab terão suas possibilidades ampliadas com quatro lousas digitais e quatro computadores (servidores de redes) cedidos pela USP. Com microfones capazes de capturar o áudio ambiente e câmeras com rotação de 360º, o sistema de videoconferência permite debates e capacitações em tempo real, com participantes geograficamente distantes.

“A inovação em governo é tão importante quanto a tecnológica. Trata-se de caminho promissor para buscar respostas a desafios impostos pela legislação, burocracia e outras questões complexas”, informa o professor da USP e diretor executivo da Fundap, Wanderley Messias da Costa. “Fruto de convênio assinado em outubro de 2013, entre a USP e os demais parceiros estaduais, o iGovLab tem consultoria acadêmica e muita dedicação dos pesquisadores Ulisses Araújo e Ary Plonski ao projeto”, esclarece o professor.

Ouvidoria-Geral do Estado
Rede Paulista de Inovação em Governo (iGovSP)
Fundap
Poupatempo

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/05/2015. (PDF)

Projetos potencializam inclusão digital e social

Acessa SP mantém rede que estimula iniciativas de cidadania nos infocentros do Estado; 2,2 mil propostas já foram registradas

No passado, inclusão digital. No presente, inclusão digital e social. Esse é o mote do Acessa São Paulo, programa de infocentros e de serviços tecnológicos gratuitos para o cidadão, criado em julho de 2000. No ano em que celebra o seu 15º aniversário, a ação executada pelo Estado, em parceria com as prefeituras, tem 3 milhões de usuários cadastrados e contabiliza 80 milhões de acessos presenciais em 840 postos espalhados no Estado.

Das 645 cidades paulistas, 597 têm postos ativos do Acessa São Paulo e, nas demais, novas unidades seguem em fase de instalação. A meta de seus gestores é finalizar o ano com, ao menos, um infocentro funcionando em cada um dos municípios.

O Acessa São Paulo surgiu como resposta estatal à explosão das lan houses – telecentros distribuídos pelo País com serviços pagos de uso de computadores e de banda larga. Atualmente, a ação paulista de inclusão digital se transformou em modelo, sendo replicada em outros países, como a Costa Rica.

Parcerias

Na capital e nas 38 cidades da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o Acessa é mantido 100% pelo Estado. O programa tem coordenação da Secretaria de Governo paulista e gestão da Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp) e dois parceiros principais.

O primeiro é o Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária (Lidec) da Escola do Futuro da USP, corresponsável por diversas atividades, como a Rede de Projetos. O segundo, são as prefeituras.

No interior e litoral, a prefeitura cede espaço físico, seleciona e paga os monitores, que, na maioria das vezes, são servidores públicos municipais. O Estado fornece, em contrapartida, equipamentos, banda larga, programas de computador e mobiliário. Também capacita os monitores e acompanha a qualidade do atendimento.

A lista de endereços dos postos fica disponível no site do programa. Para usar os computadores e as redes sem fio (wi-fi), na maioria deles, o cidadão precisa se cadastrar apresentando um documento de identidade original com foto. A inscrição não demora mais do que um minuto.

Valor reconhecido

O Acessa São Paulo oferece mais de 6 mil PCs aos usuários. São 804 postos urbanos e 36 rurais, 30 Acessinhas (para crianças entre 4 e 10 anos) e quatro postos Super Acessas, em Jaboticabal, São Paulo, Vargem Grande do Sul e Votuporanga. Inclui, ainda, a Rede de Projetos (ver abaixo), oito oficinas tecnológicas, 32 minicursos a distância e formação pedagógica continuada, entre outros serviços.

O empenho dos gestores do programa e dos seus 1,1 mil monitores – profissionais responsáveis pelo atendimento ao público – obteve destaque internacional. O resultado foi o prêmio Acesso ao Conhecimento, concedido em outubro de 2013 pela fundação Bill & Melinda Gates, promovido pelo fundador da Microsoft, gigante mundial da indústria de informática.

Multiplicando

Considerado o Nobel da inclusão digital, o Acesso ao Conhecimento foi, na avaliação dos gestores, um reconhecimento à qualidade dos serviços prestados e, também, uma celebração do uso da tecnologia e da inovação em prol da sociedade. Um dos maiores exemplos foi a criação, em maio de 2003, da Rede de Projetos.

Trata-se de um conjunto de iniciativas livres, sociais, culturais, econômicas, pedagógicas, direcionadas à cidadania, executadas nos postos. Com o auxílio do monitor e de modo colaborativo, essas ações originais se aproveitam de todo o aparato à disposição na internet, como blogs, sites de vídeos, redes sociais e demais ferramentas de uso gratuito para ser executadas.

Os 2,2 mil projetos aprovados e demais conteúdos on-line da rede são registrados sob licença Creative Commons. Popular na comunidade do software livre, esse modelo inovador de cessão de direito autoral permite aos autores definir as condições de uso e reprodução de sua propriedade intelectual. Assim, é possível consultar qualquer projeto e se inspirar nele para adaptá-lo livremente ou replicá-lo de acordo com a realidade e demandas de quaisquer comunidades.

Potencializar

Para inscrever uma proposta, basta preencher formulário on-line no site da Rede de Projetos (ver serviço) e enviá-lo à curadoria da Escola do Futuro da USP. A resposta ao autor, com a aprovação ou, ainda, sugestão de adequação às normas, demora no máximo uma semana.

O autor pode ser qualquer cidadão, monitor de posto, representante de grupos de estudo e de projetos culturais, etc. Cada projeto é classificado em uma das 16 áreas temáticas disponíveis.

“Não há limites na Rede de Projetos. O conceito básico é fazer dos postos um ponto de encontro para potencializar pessoas e suas ideias”, comenta Érica Campanha, responsável pelo serviço. “O site da rede funciona como vitrine dos projetos e possibilita interação e aprimoramento permanente deles”, observa Érica, acompanhada de Geová Junior, da equipe de comunicação da rede.

Visibilidade

De acordo com as regras do Acessa São Paulo, as atividades ligadas aos projetos da rede podem ocupar até 30% do horário total de atendimento nos postos. Todo monitor é estimulado a inscrever projetos e, se possível, de impacto social em sua comunidade.

A rede não financia projetos, mas se faltar dinheiro para pôr em prática uma ação, o caminho recomendado são os sites de financiamento coletivo (crowdfunding), como o Catarse e os editais públicos de captação (ver serviço). O site da Rede de Projetos divulga links para diversas oportunidades afins e orienta sobre como pedir o recurso.

Uma das principais opções de financiamento é o Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria Estadual de Cultura. Outra opção recomendada é o programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da prefeitura da capital.

Prêmio

Segundo Érica, a principal motivação do monitor para inscrever projetos costuma ser sua evolução pessoal e profissional. Outro estímulo, aponta, é a visibilidade e o prestígio conquistado com os pares, com reconhecimento do impacto social validado pela comissão julgadora do Prêmio Acessa São Paulo, cuja quinta edição será no segundo semestre.

No Estado, a repercussão do trabalho executado nos postos segue reconhecida. Dos sete finalistas do Prêmio Mario Covas 2014 na categoria Cidadania em Rede, cinco eram projetos da rede do Acessa. Além disso, todos os anos os monitores participam de concursos internacionais, como o Changemakers, da Ashoka, associação global de empreendedores e transformadores sociais.


Música depois do expediente integra jovens

Sabe o Jaçanã? Sim, o simpático bairro da zona norte da capital, eternizado por Adoniran Barbosa (1910-1982) na memorável Trem das Onze, canção inspirada na rota ferroviária São Paulo-Guarulhos. Se vivo fosse, certamente o pai do samba paulistano se orgulharia do projeto cultural e social montado por Thiago Araújo, monitor desde 2007 do posto do Acessa do CIC Norte (Centro de Integração da Cidadania Jova Rural).

Violonista autodidata, Thiago toca percussão, teclados, guitarra, contrabaixo e violino. Dedicado e criativo, desenvolveu método próprio de aprendizagem e de ensino musical. Sua iniciativa voluntária, iniciada em 2011 e recém-inscrita na Rede de Projetos, surgiu da paixão comum pela música, compartilhada com o talento nato dos garotos do Jaçanã e de Guarulhos, assíduos do posto, localizado na divisa da capital com a cidade vizinha e próximo da Rodovia Fernão Dias (BR-381).

Aprendizado conjunto

“Para tocar uma música, o primeiro passo é ouvi-la à exaustão, e assim aprender as escalas e decodificar batida, melodia e ritmo”, explica Thiago. Durante o horário de atendimento do posto, ele conquistou o respeito e a amizade dos meninos, interessados inicialmente em baixar músicas, cifras e partituras da internet para estudar em casa.

Depois do expediente, Thiago os convidava a permanecer no CIC para cantar e ouvir canções ao violão sugeridas por eles. Desse modo, os incentivava a evoluir, com o conceito de estudar, aprender e trazer mais amigos para compor o grupo musical.

Atualmente, o grupo tem 14 componentes – moradores do Jaçanã, exceto Felipe Oliveira, que é de Guarulhos e trabalha como monitor do Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) do CIC.

Repertório eclético

Sem preconceitos musicais, o repertório é variado, com releituras e composições próprias. Todos tocam ou cantam, inclusive em japonês, trilhas sonoras de animes, como Haruka Kanata, tema de Naruto, desenho animado de origem nipônica.

O playlist tem outras inovações com uma versão heavy metal de Morango do Nordeste, canção popular de Lairton e seus Teclados. Há ainda o tema do Yoshi, dinossaurinho amigo do Super Mário, músicas de Beatles, Metallica, Iron Maiden e, finalmente, o Rock das aranhas, megahit de Raul Seixas, um dos maiores roqueiros brasileiros, cuja gravação em vídeo será a aposta do grupo para arrecadar R$ 2 mil por financiamento coletivo (crowdfunding) e comprar mais instrumentos (bateria e baixo acústico) e um amplificador.

Welington Donizete, de 18 anos, foi o primeiro aluno. Trouxe então Igor Santiago, de 19, e depois vieram amigos que trouxeram mais amigos, como Bruno Ataíde, de 24 anos, Isaque Marcílio, de 15, Paulo Simas, de 17, e a lista não parou mais de crescer.

Repercussão

Para participar das aulas, basta conversar com o monitor Thiago. Ele vê a música como um dom espiritual, caminho para o autoconhecimento para evitar más influências, assim como ponte para fazer amizades.

Thiago conta que não teve dificuldade para inscrever seu curso na rede. Redigiu o texto em uma tarde e, na outra, o projeto estava aprovado. Espantado com a repercussão da iniciativa, se diz “grato ao pessoal do CIC e do Acessa São Paulo, que segue apoiando a ação”, conta orgulhoso.


Comunidade presente no Núcleo Jacuí

Moradora de São Miguel Paulista, zona leste da capital, Francisca dos Santos se encantou com os serviços oferecidos pelo Acessa São Paulo do núcleo Vila Jacuí. Pouco familiarizada com a informática, Fran, como é conhecida, trabalhava como ascensorista do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Com afinco e dedicação, conseguiu aprender o bê-á-bá da tecnologia nos computadores do infocentro.

Com o conhecimento adquirido, vislumbrou novas possibilidades, como se tornar monitora do posto que um dia a acolheu. Sua meta era ajudar outros adultos da região nos primeiros passos no mundo digital a repetir a sua trajetória, repleta de avanços profissionais e pessoais.

Apoios e conexões

Uma série de encontros entre o público frequentador do parque e os gestores da área verde permitiu identificar as necessidades dos moradores. Uma das principais era a inclusão digital – sob essa justificativa, Fran deixou de comandar elevadores e passou a ensinar as pessoas da comunidade a digitar textos, criar pastas e diretórios no sistema, enviar e-mails e, finalmente, criar um perfil no Facebook para interagir com amigos e familiares.

Em todos os seus passos, Fran teve o apoio “decisivo” de Edson Depetri, coordenador do Acessa no posto Jacuí. Ele conta que o projeto bem-sucedido de inclusão digital é simples e pode ser replicado em outros postos. “Sigo à disposição para colaborar com quem precisar”, diz.

Ideia engatilhada

Na capacitação obrigatória, que antecede o atendimento ao público, Fran estruturou as bases de seu projeto de inclusão digital. Em abril de 2013, duas semanas após assumir a nova função, formalizou sua ideia na Rede de Projetos. Desde então, o curso com duração de 20 aulas formou cem pessoas em sete turmas.

A capacitação expede certificado e tem festa de formatura para os concluintes. Muitos deles expressam sua gratidão com recortes no mural do infocentro – todos digitados pelos ex-alunos. Os textos relatam as impressões e conquistas obtidas com o curso e são, para Fran, um orgulho para todos da região e prova do sucesso da iniciativa.

Círculo virtuoso

Com o tempo, os progressos dos primeiros formandos atraíram mais público para a capacitação. Maria Eurides dos Santos ficou empolgada com a desenvoltura no teclado e mouse que seu marido, João dos Santos, adquirira na turma anterior. Em sua terceira aula, sente-se mais segura para ligar o computador sem medo de danificá-lo. Novamente incentivado pelas duas filhas, o casal acabou de comprar o primeiro computador da residência.

Alzenira Otávio, de 50 anos, colega de turma de Maria, contou que seu filho ganhou um PC, mas nunca teve tempo para ensiná-la. Disposta a aprender as técnicas para trocar correspondência com primas que moram no Maranhão, se inscreveu no curso. “Depois da caminhada matinal no parque, aproveito para aprender. Está sendo ótimo”, comenta sorridente.

Também matriculado, Dirceu dos Santos, de 37 anos, é porteiro e vigia do Parque Jacuí. Nas horas vagas, mantém um mercadinho, no Jardim Helena, em sociedade com a esposa. “Nunca pude aprender informática. Estou adorando”, conta o microempreendedor, cuja meta é aproveitar os novos conhecimentos no seu negócio.

História e instalações

Com 170 mil metros quadrados, o núcleo Vila Jacuí (Unidade de Lazer Engenheiro Antônio Arnaldo de Queiroz e Silva) é administrado pelo DAEE. Foi o primeiro espaço público de lazer, cultura, recreação e educação ambiental do projeto Parque Várzeas do Tietê, cuja proposta do Estado é construir mais 32 centros com o mesmo perfil na região.

Inaugurado em março de 2010, o parque é uma compensação ambiental pela extensão da Avenida Jacu-Pêssego até o trecho sul do Rodoanel. A área verde tem projeto arquitetônico de Ruy Ohtake.

Localizado na Vila Jacuí, zona leste, fica próximo à estação São Miguel da CPTM. Oferece ao público dois campos de futebol, três quadras poliesportivas, pistas de bicicross e skate, campo para vôlei de praia, áreas para recreação, 12 quiosques com churrasqueiras, salão de festas, vestiários e sanitários, núcleo de educação ambiental, equipamentos de ginástica e centro de atividades para a terceira idade, incluindo pista asfaltada de 1,6 quilômetro para caminhada e corrida.

Serviço

Acessa São Paulo
Rede de Projetos
Telefone (11) 3091-6366
E-mail rededeprojetos@gmail.com
Financiamento on-line de projetos – Catarse

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/02/2015. (PDF)