Jogo da USP São Carlos é selecionado para a SBGames 2017

Criado por estudantes, o Stack é um dos 90 jogos escolhidos para apresentação, em novembro, no maior simpósio científico do segmento na América Latina

O Stack, jogo desenvolvido por alunos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), é um dos títulos seleciona dos para exposição no 16º Simpósio Brasileiro de Games e Entretenimento Digital (SBGames).

Considerada por seus organizadores como o maior e principal evento acadêmico da América Latina na área de jogos e entretenimento digital, a competição anual será disputada, neste ano, em Curitiba (PR), de 2 a 4 de novembro, no câmpus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (ver serviço).

Promovida pela Sociedade Brasileira de Computação, a SBGames investe nos jogos eletrônicos como objeto de investigação científica e fonte de novos produtos e serviços, isto é, como fator de geração de emprego e renda no País. Nas suas últimas edições, o simpósio recebeu, em média, mil participantes formados por estudantes, pesquisadores, desenvolvedores e empresários de diversas regiões brasileiras e de países como Argentina, Peru, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra, entre outros.

Foram inscritos 274 jogos para a edição 2017 da SBGames, e 90 deles foram selecionados: 80 digitais e 10 analógicos. Na primeira categoria, a Profissional, há 55 títulos (40 para computador, 13 para celular (mobile) e 2 de tabuleiro – boardgames).

Entre os 55 títulos, 7 são em realidade virtual e 6 os chamados jogos sérios (serious games), modalidade onde a proposta é utilizar o design e elementos de interatividade para transmitir conteúdo educacional ou de treinamento. Na outra categoria em disputa, Jogos de Estudantes, foram classificados 35 títulos, entre eles o Stack: 24 para computadores (PCs), 8 boardgames e 3 para mobile. Desses, dois são em realidade virtual e quatro, serious games.

Baixar e jogar

Criado com o auxílio da plataforma de desenvolvimento Unity, o Stack é gratuito e está disponível para cópia (download) em site próprio nas versões estáveis de 32 e 64 bits para computadores com sistemas operacionais Windows, Linux ou Mac OS X (ver serviço). É recomendado para jogadores de todas as idades, exigindo apenas teclado e mouse.

O projeto do jogo foi elaborado pela estudante Anayã Gimenes Ferreira, do 6º ano do curso de Ciências da Computação do ICMC-USP, com seus colegas de graduação Rafael Gallo e Gil Barbosa Reis. O trio integra o Fellowship of the Game (FoG), grupo de extensão universitária criado em 2007 por alunos da USP São Carlos. Com 40 componentes, essa comunidade discente está sempre aberta à inclusão de novos participantes e aceita estudantes de todos os cursos da USP. As regras de seleção e o cronograma ficam disponíveis no site e também na fanpage do FoG no Facebook (ver serviço).

Inovação

O Stack foi lançado durante a Semana de Computação do ICMC, a 20ª Semcomp, realizada de 11 a 18 de agosto, no instituto. Seu desenvolvimento contou pontos para os estudantes como trabalho extracurricular no currículo acadêmico e exigiu deles três meses de dedicação, sendo a maioria desse tempo gasto fora do horário letivo, inclusive durante as madrugadas e finais de semana.

De acordo com Anayã, uma das estratégias da equipe foi procurar sempre trabalhar junto nos laboratórios do ICMC-USP. “Estar ao lado dos colegas ajuda a comunicação, dá vez e voz a todos e acelera as correções e a obtenção de resultados”, explica a estudante, fã declarada de franquias consagradas da Nintendo, como Zelda e Super Mário, e também apreciadora de títulos independentes, os chamados indies.

Inspiração

O Stack tem como ponto de partida Tetris, um quebra-cabeças (puzzle) clássico oferecido em diversas plataformas de videogames, no qual o jogador precisa ter raciocínio lógico para encaixar rapidamente as peças que caem sem parar em uma superfície bidimensional. “A inovação principal do Stack é incorporar a tridimensionalidade, para tornar o jogo ainda mais desafiador”, revela Anayã, responsável por desenhar os cenários e os menus, sendo a programação do jogo incumbência de Rafael com trilha sonora de Gil.

“Por outro lado, para facilitar o encaixe das peças, incluímos no design os tijolinhos de construção usados no brinquedo Lego, uma referência espacial conhecida pela maioria dos jogadores”, compara Anayã. Outras novidades são os conceitos de tempo e de estratégia acrescentados: o jogador pode analisar sem pressa qual movimento da peça seguinte é o mais indicado, permitindo assim vislumbrar cenários futuros do tabuleiro antes de fazer os empilhamentos. “Diferentemente de Tetris, em Stack as peças não caem freneticamente”, afirma a estudante.

Serviço

Jogo Stack em versões para Windows, Linux e Mac
SBGames 2017

Fellowship of the Game (FoG – ICMC-USP):
Site
Facebook
– E-mail fog@icmc.usp.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 06/10/2017. (PDF)

Técnica de restaurar imagens reduz exposição de paciente à radiação

Criado na USP São Carlos, sistema retira das imagens de mamografias granulações e ruídos prejudiciais ao diagnóstico; testes clínicos com a tecnologia começarão em 2018

Uma inovação do Laboratório de Visão Computacional (Lavi) da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) pretende diminuir em até 30% a exposição das pacientes à radiação decorrente de exames periódicos de mamografia. Orientado pelo professor Marcelo Andrade da Costa Vieira, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação, esse trabalho acadêmico é a tese de doutorado do pesquisador Lucas Rodrigues Borges.

Apresentado no mês de junho na EESC-USP, o estudo consiste de um sistema de informática projetado exclusivamente para fazer simulações em imagens digitais de mamografias. A tecnologia abre caminho para solucionar um problema antigo da físico-medicina.

“Quanto mais radiação é utilizada na mamografia, melhor é a qualidade das imagens obtidas e, consequentemente, mais preciso se torna o diagnóstico. Porém, quanto mais exposição da mulher à radiação nos exames, maior o risco de ela desenvolver, no futuro, câncer de mama”, esclarece o pesquisador Borges, que é também engenheiro eletricista.

Impacto

Para o pesquisador, o filtro desenvolvido possibilita usar dosagens menores de radiação, pois sua característica principal é restaurar as imagens, isto é, retirar delas imperfeições como granulações e ruídos prejudiciais ao diagnóstico. “O software calcula a quantidade necessária de ‘ruído’ em cada imagem para simular a exposição da paciente à baixa radiação”, explica.

Na avaliação do professor Vieira, essa redução na concentração das doses de radiação tem relevância para a saúde feminina, quando considerada sua aplicação futura em larga escala: “Para preservar a saúde, os médicos recomendam às mulheres fazerem mamografias periódicas após os 40 anos. Sob essa perspectiva, metade da população mundial tem essa necessidade, assim, a redução na exposição à radiação nas pacientes será bastante significativa”, conclui.

Parcerias

Aluno da EESC-USP desde a graduação, Borges conta ter iniciado em 2011 a parceria com o professor Vieira, especialista com diversos trabalhos em andamento na área de diagnóstico por imagem. Nessa época, o docente o orientou em projeto voluntário de iniciação científica, cuja proposta foi criar um filtro analógico para analisar imagens de mamografias digitalizadas, já com o intuito de otimizar o trabalho de médicos radiologistas.

O projeto inicial evoluiu, foi tema do mestrado de Borges e originou o sistema com o filtro restaurador de imagens. Ao longo da última e mais recente etapa, o estudo acadêmico teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Pioneiro no País na área de mamografias tridimensionais, o trabalho teve colaboração de dois físicos-médicos com pesquisas na área de câncer de mama: Andrew Maidment e Predrag Bakic, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e do cientista da Universidade de Tecnologia de Tampere (Finlândia), Alessandro Foi, especializado em matemática e restauração de imagens.

Metodologia

A estrutura principal do sistema é um banco de dados construído por Borges, contendo 1,8 mil imagens, volume de amostras suficiente para permitir ao software simular a realização de novos exames das pacientes usando quantidades menores de radiação. Essas imagens (mamografias realizadas em 72 pacientes voluntárias) integram protocolo de pesquisa do Hospital da Universidade da Pensilvânia, entidade parceira no estudo.

A parceria da EESC-USP com o hospital foi firmada em 2012. No sistema desenvolvido em São Carlos, as 72 imagens originais são simuladas em cinco diferentes doses de radiação, somando 360 exposições. No projeto, cada uma delas foi avaliada individualmente por cinco pesquisadores físicos-médicos, totalizando 1,8 mil leituras diferentes. “Nas mamografias, esses cinco especialistas não conseguiram identificar em quais delas o software simulou a dose reduzida de radiação, prova da eficiência do sistema desenvolvido”, afirma Borges.

Futuro

Segundo ele, existem disponíveis outras opções de exames não invasivos para detectar alguns tipos de tumores, como, por exemplo, a ressonância magnética, porém, o custo ainda é alto em comparação com raio X, método mais barato, rápido e amplamente disseminado na maioria dos centros de saúde.

Os próximos passos são os testes clínicos, previstos para o ano que vem, com a nova tecnologia, e incluindo a participação de radiologistas. Nessa etapa experimental, os médicos irão considerar nos diagnósticos as imagens restauradas pelo software antes de fazerem novos exames com as pacientes. Participam dessa etapa quatro instituições de saúde: Hospital do Câncer de Barretos, Clínica Eco e Mama de São Carlos, Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da USP e Hospital da Universidade da Pensilvânia.

Serviço

Laboratório de Visão Computacional (Lavi – EESC-USP)
E-mail mvieira@sc.usp.br
Telefone (16) 3373-9362

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 05/10/2017. (PDF)

Secretaria de Energia e Mineração apoia pesquisas com o biogás

Estudo conjunto avalia impactos da conversão do motor a diesel de caminhão para também funcionar com gás; meta é reduzir emissões de dióxido de carbono e ampliar o uso do GNV e do biometano

Com a proposta de estimular no território paulista o desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis, como o biogás proveniente da vinhaça, a Secretaria Estadual de Energia e Mineração tomou parte em um protocolo de intenções firmado na 25ª Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética (Fenasucro & Agrocana), realizada em Sertãozinho, de 21 a 24 agosto. Experimental, o projeto reúne agentes públicos e privados e consiste em converter um motor a diesel de caminhão para o sistema bicombustível (flex) e também para funcionar a gás.

Participam desse protocolo a secretaria e a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado (Arsesp) e as empresas GasBrasiliano Distribuidora S.A., Grupo São Martinho, Mercedes-Benz do Brasil, Convergas Fuel Systems e Mahle-Metal Leve. Os testes com o abastecimento do motor estão sendo realizados com Gás Natural Veicular (GNV) e biometano (biogás), produzido a partir do reaproveitamento e transformação da vinhaça, resíduo orgânico da produção de açúcar e etanol, por meio de reatores anaeróbios (biodigestores).

Ação conjunta

“A proposta é avaliar e promover o uso da tecnologia Dual–Fuel (Diesel-Gás) em caminhões pesados utilizados pelas usinas paulistas durante a época da safra da cana, período anual que vai de março a novembro”, explica Francisco Emilio Baccaro Nigro, assessor técnico da Secretaria Estadual de Energia e Mineração e professor de engenharia mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Especialista em motores de combustão interna a combustíveis alternativos, Nigro vê o protocolo como um esforço conjunto dos setores público e privado em prol da diminuição do impacto ambiental e o classifica como medida capaz de gerar economia e renda. “Além de ser uma ação alinhada ao Programa Paulista de Biogás (Decreto estadual nº 58.659/2012)”, ressalta (ver serviço).

Segundo ele, essa legislação propõe ampliar o papel das fontes renováveis na matriz energética paulista, destaca a biomassa como opção renovável, sustentável e de baixa emissão de carbono e sublinha a oportunidade de desenvolvimento regional a partir da geração de biogás proveniente do setor sucroenergético.

Atualmente, a secretaria estima em 2.250 megawatts o potencial paulista de produção de biometano a partir da utilização da vinhaça, volume suficiente para ser transformado em biogás – se for queimado e transformado em eletricidade, é volume suficiente para manter em operação uma cidade com 450 mil habitantes.

Laboratório

Os testes com a tecnologia Diesel-Gás prosseguirão até o final do primeiro trimestre do ano que vem, quando os primeiros resultados serão apresentados à Arsesp e à secretaria. Além da análise do motor marca Mercedes-Benz de 440 cavalos de potência, estão sendo realizadas medições comparativas de emissões atmosféricas e de consumo específico de combustível no laboratório da Mahle-Metal Leve, em Jundiaí.

A avaliação prevista no protocolo de ações vai aferir a eficiência e a eficácia do motor e o sistema de pós-tratamento de emissão de gases poluentes, de acordo com os requisitos da NBR 15.634, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para homologação de motores Euro 5 e Euro 6.

Campo

O projeto piloto com o caminhão pesado está sendo realizado pelo Grupo São Martinho na Usina Santa Cruz, planta industrial da companhia sucroalcooleira instalada no município Américo Brasiliense, região de Araraquara. Com quatro unidades produtoras e capacidade de moagem anual de 24 milhões de toneladas de cana, a empresa é uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do País.

Segundo estimativas de mercado, o processamento de uma tonelada de cana necessita de quatro litros de diesel – e a previsão de colheita no Brasil para a safra 2017/2018 é de 647 milhões de toneladas de cana. Se já fosse adotado um modelo como o do projeto piloto em todas as usinas sucroalcooleiras do País usando metade do combustível a gás natural ou biometano e o restante a diesel, as empresas poderiam economizar cerca de 1,3 bilhão de litros de diesel por safra, reduzindo significativamente as emissões de carbono.

Biometano

Por possuir elevado teor de metano em sua composição, o biometano também pode ser misturado ao gás natural e comercializado por meio de conexão à rede de distribuição de gás canalizado ou, então, aproveitado na forma de gás comprimido.

Para também aproveitar esse biocombustível dessa maneira, a Secretaria de Energia e Mineração instalou, em março, o Comitê Gestor do Programa Paulista de Biogás, que, atualmente, estuda qual porcentual de biometano pode ser acrescentado ao gás natural canalizado, assim como quais seriam os impactos dessa mudança para os consumidores e o mercado. Os resultados desse estudo técnico serão apresentados na reunião do Conselho Estadual de Política Energética (Cepe), prevista para ser realizada até o final do ano.

Em julho, a Arsesp publicou a Deliberação nº 744/2017. Inédita no País, essa legislação regulamenta as condições de distribuição de biometano na rede de gás canalizado do Estado e estabelece como esse biocombustível fornecido pelos produtores rurais pode ser inserido e distribuído pela rede de gás canalizado (ver serviço).

Serviço

Secretaria Estadual de Energia e Mineração
Arsesp
Programa Paulista de Biogás, Decreto nº 58.659/2012
Deliberação Arsesp nº 744/2017

Convergas Fuel Systems
Grupo São Martinho
GasBrasiliano
Mahle-Metal Leve
Mercedes-Benz

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 03/10/2017. (PDF)