Meta conjunta é reduzir emissão de poluentes e estimular o uso de fontes de energia renováveis
Os Estados da Califórnia (EUA) e de São Paulo iniciaram nesta semana nova fase de relacionamento na área de biocombustíveis. Em encontro realizado na Câmara Americana do Comércio (Amcham), em São Paulo, representantes dos dois Estados apresentaram números relativos à pesquisa e à produção de energias renováveis, em especial do álcool (etanol) e do biodiesel. Também debateram políticas públicas brasileiras de incentivo à produção e as barreiras comerciais impostas à circulação internacional desses produtos.
O seminário abre espaço para o compartilhamento de tecnologias. A meta conjunta é reduzir a emissão de poluentes e aprimorar e estimular o uso das fontes renováveis de energia. O interesse dos 20 empresários e representantes do governador Arnold Schwarzenegger é conhecer o modo de produção do etanol de cana, de amido e celulósico, biodiesel e metanol.
A visita dos americanos termina no fim de semana. Em aberto, está a exploração de possibilidades de colaboração entre os dois países (incluindo instituições de pesquisa públicas e do setor privado). O governo paulista mostrou a situação atual da agroindústria brasileira do setor e as possibilidades de aumento de produção e de investimentos.
Virgínia Parente, do Instituto Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP), informou que a produção de cana ocupa 10% da área cultivável brasileira (sendo metade para açúcar e 50% para etanol) e não vai inviabilizar a plantação de alimentos e nem ocupar a Amazônia ou o Pantanal.
O futuro é agora
O diretor do Departamento de Alimentos e Agricultura da Califórnia, Steve Shaffer, explicou que o plano de bioenergia californiano estipula a redução de 10% da emissão de carbono proveniente de combustível até 2020 e o acréscimo do uso de bionergia em 20% até 2010, com aumento progressivo ao longo dos anos.
Para atingir essas metas, o governo, disse Shaffer, busca novas fontes renováveis de energia e aumento de utilização dos combustíveis disponíveis que emitem menos poluentes (CO2) na atmosfera.
Na Califórnia, há quatro fábricas de etanol em operação e mais duas em construção. Os americanos produzem etanol a partir do milho e o Brasil extrai o combustível da cana.
Virgínia disse que o diferencial entre os dois produtos é quanto de energia é gasto para produzir e o quanto de energia se obtém do processo: “A proporção no caso da cana é de 1 para 8; para o milho é de 1 para menos de 2. A diferença de preço também é grande. O etanol americano é subsidiado; o brasileiro, não”.
Em relação à possibilidade de acordo, Virgínia ressaltou que ambos os países têm muito a contribuir na troca de conhecimentos e tecnologias. “Com o fim da era do petróleo, o álcool terá papel muito importante e o futuro do etanol é agora. O petróleo não será substituído por uma única forma de energia porque é utilizado em várias aplicações”.
Jonnalee Henderson, analista política da Secretaria de Alimentos e Agricultura do Estado da Califórnia, disse que esse encontro serviu para estabelecer contato entre especialistas com a mesma visão, ideia e objetivos, o que pode ajudar em trabalhos conjuntos e em entendimentos futuros.
Ao término do encontro, Joseph Tutundjian, um dos representantes da Amcham, sublinhou a importância do trabalho da Câmara de Comércio em “facilitar a relação dos americanos com os brasileiros e permitir o entendimento entre os países”.
Contatos e oportunidades
Uma das palestras do encontro foi proferida por Joseph Tutundjian, representante da Amcham e especialista em comércio exterior. Na oportunidade citou o empenho da Califórnia para reduzir emissões até 2020. Revelou a intenção do governador Arnold Schwarzenegger de estreitar laços com o Estado de São Paulo.
“No momento, a fase é de reconhecimento. Este intercâmbio poderá transferir tecnologia entre universidades e abrir caminho para parcerias com empresas dos dois países. E até facilitar futura redução tarifária sobre o etanol brasileiro e expandir o mercado do biodiesel”, assinalou.
A agenda da comitiva tem visitas agendadas na capital à Cetesb, USP, Ceagesp e Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Em Piracicaba, o grupo de 20 representantes norte-americanos conhecerá a Dedini, principal fabricante brasileira de caldeiras e componentes para usinas sucroalcooleiras. O roteiro também prevê ida ao Centro Experimental de Cana da Secretaria Estadual da Agricultura, em Ribeirão Preto, responsável pela produção de mudas especiais para as fazendas paulistas.
O brasileiro Tutundjian preside a empresa Winner Comércio Internacional. Acredita num caminho comum para a expansão do etanol brasileiro, derivado da cana, e o dos Estados Unidos, produzido a partir do milho.
“A tecnologia permite ampliar o rendimento da fabricação de biocombustíveis, sem precisar aumentar as áreas de plantio. Permite reaproveitar sobras vegetais ricas em celulose – bagaço de cana e palhas de milho e de arroz”, observa.
“Além do custo de produção menor, o rendimento por tonelada da cana no Brasil é superior ao do etanol nos EUA. Uma motivação brasileira é exportar a tecnologia de construção de projetos de usina de açúcar e álcool. Este é um dos pontos de interesse dos americanos, que já estão investindo no etanol celulósico, favorecido pela hidrólise enzimática”, destacou.
Mitos sobre o etanol brasileiro
(Fonte: apresentação de Virginia Parente, pesquisadora do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP)
1) Destruição da floresta amazônica para produção de biocombustíveis.
Há áreas propícias ao cultivo da cana no Centro-Oeste brasileiro.
2) Somente a produção subsidiada será possível.
Em São Paulo a cadeia sucroalcooleira é 100% privada.
3) Abandono do cultivo de grãos para plantar cana.
No Estado de São Paulo, todas as áreas possíveis para o cultivo da cana são exploradas, sem prejuízo para as culturas agrícolas tradicionais.
4) Emissão de poluentes na produção do açúcar e do álcool.
A tecnologia é limpa, exceto com as queimadas que não serão mais usadas a partir de 2014.
5) Incompatibilidade entre as frotas de veículos.
O motor flex é uma realidade e a tecnologia de sua produção é bastante difundida no Brasil.
6) A experiência brasileira com o etanol é única no mundo.
Diversos outros países produzem etanol a partir de cana e milho.
Claudeci Martins e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial
Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 27/09/2007. (PDF)