Carrapaticida natural é inovação do Instituto de Zootecnia

Defensivo foi desenvolvido em cooperação técnico-científica com a HYG Systems; inédita, parceria foi firmada entre um centro de pesquisa paulista e uma empresa privada

Uma pesquisa do Instituto de Zootecnia (IZ), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), deu origem ao primeiro carrapaticida natural desenvolvido no País. Criado em parceria com a HYG Systems, empresa de Campo Limpo Paulista, município próximo a Jundiaí, o defensivo agrícola aprimorado no IZ, sediado em Nova Odessa, tem formulação a partir de extratos de óleos essenciais. Com diversas vantagens em comparação ao pesticida convencional, a tecnologia resulta de uma cooperação técnico-científica firmada em novembro do ano passado (ver serviço).

De acordo com o engenheiro agrônomo Waldssimiler Teixeira de Mattos, responsável pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IZ, esse foi o primeiro contrato assinado entre um Instituto de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (ICTESP) com uma empresa privada. No final desse mês será concluída a primeira fase da cooperação técnico-científica e, então, a HYG Systems irá buscar um parceiro para começar a produzir e comercializar o carrapaticida, já devidamente registrado (marca própria).

Propriedade intelectual

“A base legal desse tipo de projeto é a Resolução nº 12/2016 da SAA”, informa Mattos. Segundo ele, a legislação regulamenta e organiza a gestão dos processos de transferência de tecnologia dos centros científicos vinculados à pasta da Agricultura, como o IZ. Nesse acordo, a mediação entre as partes foi realizada pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag), entidade também responsável por gerir o contrato.

“Nas cooperações, variam os direitos e deveres dos participantes, mas a questão da propriedade intelectual compartilhada vai além do registro da patente”, explica Mattos. Como exemplo, cita a própria parceria do IZ com a HYG Systems. Nele, a empresa optou por não encaminhar pedido de depósito da patente, pois o atendimento à solicitação poderia demorar alguns anos, porém, resguardou o direito de preservar o segredo industrial da formulação inédita.

Empreendedor

No primeiro semestre de 2015, o farmacêutico Leandro Rodrigues iniciou estágio no IZ. Ao longo das atividades acadêmicas, conheceu um estudo promissor da veterinária Luciana Morita Katiki, a partir do uso de óleos essenciais para controlar verminoses de bois e de carneiros. De olho no potencial dessa inovação, propôs à veterinária e pesquisadora Cecília José Veríssimo desenvolver um carrapaticida a partir desse princípio ativo.

No segundo semestre de 2015, durante as aulas de pós-graduação do IZ, um aluno de Cecília informou Germano Scholze, dono da HYG Systems, sobre a pesquisa com o carrapaticida natural. Disposto a transformar esta tecnologia em um produto, o empreendedor se associou ao projeto e investiu nele. O dinheiro foi usado para manter os animais participantes nos testes, instalações e laboratórios, e assegurou uma bolsa de estudos para Rodrigues, atualmente cursando mestrado.

Desenvolvimento

De acordo com Cecília, os testes iniciais em laboratório visavam a averiguar se as fêmeas da praga expostas ao novo carrapaticida morreriam ou colocariam ovos incapazes de germinar. “Com essas respostas confirmadas, partimos para a avaliação de campo. Os resultados obtidos também atestaram a eficácia e a eficiência do defensivo natural”, explica. “Além do apelo à sustentabilidade, outro diferencial é matar a praga em todas as fases de seu desenvolvimento”, destaca Cecília.

Atualmente, informa a cientista, os pesticidas convencionais têm ação maior contra larvas e ninfas do carrapato do boi. Entretanto, muitas fêmeas adultas acabam ficando imunes à sua ação, efeito da resistência adquirida pela espécie nas últimas décadas. Dados de 2014 da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) estimam em US$ 3 bilhões as perdas anuais no País decorrentes da infestação de ectoparasitas em bovinos. O gado leiteiro de origem europeia, em especial o holandês, é o mais suscetível.

Outra vantagem do carrapaticida do IZ é poder ser aplicado diretamente no corpo do animal, nas áreas com mais parasitas, sem precisar ser diluído em água. “Em vez de gastar de três a cinco litros de pesticida por animal, a pulverização de 200 ml é suficiente”, explica Cecília. Segundo ela, o defensivo natural ainda não tem preço definido, mas a intenção será comercializá-lo em embalagens de 1 litro, 5 litros ou 20 litros. Eventuais interessados em conhecê-lo devem procurar a HYG Systems (ver serviço).


Estado parceiro do empreendedor

Estruturada em setembro do ano passado, a rede de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) contempla os 14 polos regionais de pesquisa agropecuária e mais os NITs do IZ e dos institutos Agronômico (IAC), Biológico (IB), de Economia Agrícola (IEA), de Pesca (IP) e de Tecnologia de Alimentos (Ital) e possui acordo de cooperação com o NIT-Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio).

Como regra geral, nos contratos o pesquisador do NIT participante dos projetos recebe até 33% do ganho econômico da instituição relacionado à exploração comercial dos inventos. Além da Resolução nº 12/2016 da SAA, essas cooperações são também amparadas no chamado Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, Lei federal nº 13.243/2016 e na Lei Paulista de Inovação nº 1.049/2008. Essa legislação desburocratiza e dá transparência às relações entre os institutos de pesquisa financiados pelo Governo paulista e o setor privado.

De acordo com o coordenador da Apta, Orlando Melo de Castro, essa é uma nova fase na relação entre as empresas e os institutos paulistas de pesquisa. Segundo ele, é momento oportuno para destacar a inovação surgida nos laboratórios vinculados à pasta da Agricultura nos últimos cem anos. Esse trabalho inclui o desenvolvimento de tecnologias direcionadas a aumentar a produção de alimentos, a promoção da sanidade animal e vegetal e o aprimoramento de processos nas cadeias produtivas, entre outros serviços realizados.

Serviço

Instituto de Zootecnia (IZ)
HYG Systems
Fundepag

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 29/11/2017. (PDF)

Vacinação obrigatória em bovídeos contra a aftosa vai até quinta-feira

Produtor deve adquirir as doses em loja cadastrada no Sistema de Gestão de Defesa Animal e Vegetal; prazo para o envio da Declaração de Imunização termina no dia 7

A Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), informa: até quinta-feira, 30, deverão ser vacinados contra a febre aftosa os 11 milhões de bovídeos (bovinos e bubalinos) do rebanho paulista. De acordo com o médico veterinário da CDA, Luiz Henrique Barrochelo, devem ser vacinados os animais imunizados em maio, à época com até 24 meses de idade.

A vacina somente pode ser adquirida em casa agropecuária cadastrada no Sistema de Gestão de Defesa Animal e Vegetal (Gedave) da CDA. Comercializada em embalagens com 10 doses e 50 doses, tem preço médio de aplicação por animal de R$ 1,40. Em cada compra de frascos, a quantidade repassada para o criador fica vinculada no Gedave à sua propriedade. Para não perder a eficácia, o produto nunca pode ser congelado, devendo ser mantido entre 2ºC e 8ºC e transportado em caixa de isopor, com, no mínimo, 66% do seu volume em gelo.

Registro

Não pode ser usada vacina fora da validade nem sobras de campanhas anteriores. No procedimento, deve ser priorizado o horário de temperatura mais amena do dia e, para evitar acidentes, é preciso separar os animais por idade e sexo. Cada dose contém 5ml, quantidade recomendada para cada rês, e o local indicado para aplicação é o terço médio (‘tábua’) do pescoço. É vedado o uso de produtos químicos, como álcool e cloro, e somente podem ser usadas seringas e agulhas novas e higienizadas, material que deve ser substituído a cada dez animais vacinados, para evitar infecções. Outro cuidado é manter os frascos resfriados durante o procedimento.

O produtor tem prazo até o dia 7 para encaminhar, pelo próprio Gedave, ou entregar em qualquer unidade da CDA no Estado, a Declaração de Vacinação. Além desse documento, ele precisa também informar a relação de outras espécies existentes em sua propriedade, como equídeos (equinos, asininos e muares), suídeos (suínos, javalis e javaporco), ovinos, caprinos e aves (granjas de aves domésticas, criatórios de avestruzes) (ver serviço).

A imunização contra a aftosa é obrigatória nos bovídeos, porém proibida em quaisquer outras espécies da propriedade. Deixar de vacinar bois ou búfalos ou de comunicar essa operação sujeita o criador a sanções definidas em Unidade Fiscal do Estado do Estado de São Paulo (Ufesp), valor atual de R$ 25,07. A não vacinação implica multa de 5 Ufesps (R$ 125,35) por cabeça; e a não declaração, por sua vez, pode ter multa de 3 Ufesps (R$ 75,21) por animal.

Calendário invertido

No ano que vem, São Paulo adotará o calendário anual de vacinação definido pelo Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA) (ver serviço) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Essa mudança vai uniformizar o calendário de proteção do rebanho bovídeo paulista com o das demais unidades da Federação. Assim, as duas etapas atuais de imunização serão invertidas.

Em maio, o procedimento será obrigatório para todo o plantel paulista, independentemente da faixa etária; em novembro, a segunda dose deverá ser aplicada somente nos animais com até 24 meses de idade. “À exceção de Santa Catarina, haverá vacinação no País inteiro”, informa Barrochelo, também diretor do escritório de defesa agropecuária de Araçatuba, um dos 40 da CDA distribuídos pelo território paulista.

Segundo ele, a meta da coordenadoria é retirar, gradativamente, se possível, toda a vacinação no Estado em 2021, adotando para isso medidas preventivas auxiliares como a vigilância sanitária no transporte animal.

Erradicação

Altamente contagiosa e causada por um aphtovirus, a febre aftosa obriga o criador a sacrificar toda rês infectada. No Brasil, o último caso registrado foi em 2005; no Estado de São Paulo, em 1996. A transmissão se dá pela saliva, secreções, leite e fezes dos animais doentes e a moléstia acomete bovídeos e biungulados, isto é, quadrúpedes com casco bipartido. O contágio em humanos é raríssimo, contudo, qualquer objeto ou pessoa em contato com as fontes de contaminação pode levar o vírus para outros plantéis.

Serviço

Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA)
Manual de Declaração de Vacinação contra a Febre Aftosa
Resolução SAA nº 55/2017
Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA/Mapa)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/11/2017. (PDF)

Instituto Biológico: 90 anos de bons serviços ao agronegócio

Comemorações tiveram como ponto alto o lançamento de livro sobre as realizações da instituição, principal referência do País em sanidade vegetal e animal

O lançamento do livro intitulado Instituto Biológico 90 Anos – Inovando o Presente foi o ápice das comemorações do aniversário da instituição de pesquisa em sanidade animal e vegetal vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA). Sediado na Vila Mariana, na capital, e com unidades em Campinas, Bastos, Descalvado e Votuporanga, o IB preserva em sua história o título de primeiro centro paulista de formação de cientistas.

Referência nacional em pesquisas agropecuárias e em serviços relacionados para clientes públicos e privados, o IB deu origem também à Sociedade Brasileira de Entomologia. O livro comemorativo aborda a trajetória do órgão desde sua criação, a partir da Lei estadual nº 2.243/1927, editada pelo então presidente do Estado, Júlio Prestes de Albuquerque.

Resgate

A publicação alusiva à data festiva teve edição do historiador Roney Cytrynowicz e apoio da bióloga Márcia Rebouças, responsável pelo Centro de Memória do IB. A obra foi distribuída para os participantes da 30ª Reunião Anual do Instituto Biológico (Raib), realizada na sede do órgão de 6 a 9 de novembro. “Até o final do ano, o conteúdo histórico da obra será veiculado no site do IB”, informa Márcia (ver serviço).

O livro registra, em dez capítulos, as transformações e inovações desenvolvidas pelo IB ano após ano nessas nove décadas, entrecortadas por reproduções de ilustrações de época, recortes de jornal e material de arquivo. No último deles, já neste século, são destacadas ações recentes.

Incluem os cursos de pós-graduação stricto sensu, as medidas de controle e monitoramento de pragas urbanas e de resíduos de agrotóxicos em alimentos, os programas de Inovação e Transferência de Tecnologia em Controle Biológico (Probio) e de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf) e as iniciativas a serviço do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), entre outros projetos.

Riquezas

Inspirada na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), localizada no Rio de Janeiro, e com importância para a agricultura brasileira equivalente à do órgão nacional para a saúde, o nome original do IB era Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal. Sua comissão de cientistas, liderada por Arthur Neiva, teve como missão inicial debelar a broca do café (Hypothenemus hampei) no Estado.

Desde 1924, a praga vinda da África assolava as lavouras, diminuindo o peso dos grãos. Na época, o café era a principal fonte de receitas do País e representava 70% do agronegócio paulista. Bem-sucedido, o combate ao besouro daninho combinou ações em silos e sacarias com a inspeção de 50 milhões de plantas em 1,3 mil propriedades.

Em 1937, o centro foi batizado definitivamente como Instituto Biológico e sua atuação mostrou ao poder público e aos donos de terras a necessidade de investimento permanente em vigilância sanitária e em pesquisa agronômica, saída para preservar e desenvolver as muitas riquezas agrícolas nacionais. O trabalho prosperou e hoje o IB mantém 138 projetos científicos, executados por 101 pesquisadores e 82 servidores.

Peste erradicada

Na festa dos 90 anos, um destaque foi a entrega da Medalha Rocha Lima para a veterinária Josete Bersano. No IB desde 1977, ela integra o grupo de 33 pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, sendo uma das principais responsáveis pela erradicação, em 2002, da peste suína clássica no Estado, sem recorrer à vacinação.

“Essa moléstia é altamente contagiosa, obriga o suinocultor a sacrificar o animal doente. Nos registros do Mapa, os três Estados do Sul já haviam conseguido erradicar a doença. Era fundamental São Paulo também zerá-la”, conta Josete. Segundo a pesquisadora, a primeira notificação no Estado ocorreu em 1943 e a doença viral se alastrou rapidamente.

“Nos grandes plantéis, a vacinação e o soro resolviam o problema, porém a erradicação definitiva somente foi alcançada quando todas as propriedades, em especial as menores, receberam as equipes de orientação e seus donos puseram em prática as recomendações técnicas”, recorda.

Mutirão

Para Josete, o fim da peste suína é uma grande soma de esforços de diagnóstico e de trabalho de campo dos produtores rurais, Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). Hoje, preventivamente, o instituto ainda monitora propriedades rurais e mantém pesquisas com anticorpos.

“Esse apoio e a interação com o produtor rural são fundamentais, nunca cessam”, comenta. Embora experiente, a homenageada ainda não pensa em aposentadoria. “Tenho a mesma empolgação que sentia quando comecei a trabalhar. Aliás, sigo atendendo pessoalmente e visitando muitas propriedades”, comenta.

Agricultura familiar

Um dos mais recentes trabalhos de Josete foi auxiliar na elaboração do boletim Sanidade suína em agricultura familiar – Como produzir com qualidade. Lançada em agosto, a cartilha (com cópia disponível gratuitamente) integra o acervo on-line do Prosaf no site do IB. Foi produzida para ajudar o suinocultor em suas atividades diárias e assim aumentar a produtividade e a sustentabilidade da pequena propriedade.

Segundo a agrônoma Harumi Hojo, coordenadora do Prosaf, essa ação realizada desde 2009, em parceria com a Apta Regional e com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), capacitou mais de 2,5 mil produtores em todo o Estado. “Esse boletim e os demais materiais didáticos do Prosaf são distribuídos nas palestras e nos dias de campo”, explica Harumi, destacando o fato de esses materiais tratarem dos principais desafios da agricultura familiar paulista.

Sustentabilidade

O agrônomo Antonio Batista Filho, atual diretor-geral do IB, completou, no dia 7, 34 anos de trabalho na instituição. Doutor em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), ingressou em 1983 no Laboratório de Controle Biológico e aprimorou soluções para manejar pragas como o percevejo-de-renda da seringueira e as cigarrinhas-das-pastagens, entre outros inimigos naturais das lavouras.

De 1990 a 1998 esteve no comando do laboratório; depois, assumiu o Centro Experimental Central de Campinas e desde fevereiro de 2004 está à frente do instituto. “Meus maiores orgulhos na vida são integrar a equipe do IB e minha formação acadêmica na Esalq-USP”, revela.

Serviço

Instituto Biológico (IB)
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1.252 – Vila Mariana – capital
Telefone (11) 5579-4234
E-mail imprensa@apta.sp.gov.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/11/2017. (PDF)