TV Cultura e Programa Acessa Escola são destaques da Campus Party 2009

Público tem até domingo para conhecer na capital as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital

O governo do Estado de São Paulo está participando da Campus Party com os estandes da TV Cultura e do Programa Acessa Escola. O local escolhido para abrigar a feira internacional de informática em 2009 foi o Centro de Convenções Imigrantes, na zona sul da capital. O público tem até domingo (25) para conhecer as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital.

Realizada no Brasil pela segunda vez, a Campus Party é uma feira anual, criada na Espanha em 1997. Após 12 edições, o evento transformou-se no principal ponto de encontro das comunidades on-line do mundo. Desde o ano passado, tem o apoio institucional do governo paulista.

O estande da TV Cultura é um dos maiores do evento, com 500 metros quadrados. Conta com 50 funcionários, sete equipes de jornalismo, quatro ilhas de edição e uma estação de rádio. No centro da instalação, a emissora montou cabine para transmitir ao vivo pela Internet, rádio e TV os principais destaques e curiosidades da Campus Party.

Uma das atrações é a IPTV Cultura, espécie de YouTube com vídeos produzidos pela emissora durante o evento. Traz reportagens, entrevistas com visitantes e debates. Quem acessa a página na web pode votar nos vídeos preferidos, deixar comentários e também blogar (publicar textos e fotos). O endereço eletrônico é www.iptvcultura.com.br e todos os serviços oferecidos são gratuitos.

Conteúdo colaborativo

Ricardo Mucci, coordenador do Núcleo de Novas Mídias da Fundação Padre Anchieta, explica que o trabalho no estande segue o modelo da produção colaborativa (wiki) de conteúdo. E os parceiros da TV Cultura no estande são o Sesc SP, a USP e a Universidade Metodista, que ajudam a produzir e a difundir as informações.

A concepção do estande segue o conceito de convergência de mídias (TV, rádio e internet) no jornalismo. É um novo modo de cobrir eventos, já adotado nas Olimpíadas de Pequim e na posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por grandes emissoras internacionais, como a norte-americana CNN e a britânica BBC.

“Oferecemos 12 horas de notícias da Campus Party diariamente. É um trabalho complexo, realizado fora dos estúdios da emissora, que envolve jornalistas, cinegrafistas, designers, programadores e demais produtores. A equipe grava, edita e prepara o conteúdo para as três plataformas”, explica Ricardo.

Poupatempo Digital

O estande da emissora também apresenta dois projetos voltados para a TV Digital e desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP. Um dos destaques é o Poupatempo Digital, parceria dos pesquisadores com a administração estadual para a área de governo eletrônico.

Segundo o professor Marcelo Zuffo, coordenador de Meios Eletrônicos Interativos do LSI, a meta do Poupatempo Digital é permitir ao telespectador usar o televisor para solicitar documentos e atestados. O eletrodoméstico está presente em mais de 90% dos lares brasileiros, e com o controle remoto o usuário navega e faz escolhas em menus apresentados na tela.

“Queremos aproximar os serviços públicos do cidadão, sem que ele precise sair de casa”, informa Marcelo. “O LSI também está em contato com a Imprensa Oficial, autoridade certificadora oficial do Estado de São Paulo. O objetivo é atestar a autenticidade dos documentos expedidos a partir do televisor”, esclarece Zuffo.

Outro projeto é o HD3D, iniciativa pioneira que oferecerá visualização de conteúdo tridimensional em alta definição pela TV aberta brasileira. No telespectador o efeito 3D é obtido utilizando-se óculos especiais já em desenvolvimento no LSI. A transmissão é semelhante à empregada pelos canais digitais. “Os dois projetos estão em desenvolvimento e a expectativa é termos novidades até o final do ano”, prevê Zuffo.

Acessa Escola

A rede pública estadual está representada com dois ambientes na Campus Party 2009. O primeiro é uma lan house com acesso gratuito para o público. O espaço reproduz as instalações das salas oferecidas no Programa Acessa Escola, projeto criado em setembro de 2008 pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).

O segundo ambiente é um centro de capacitação e reciclagem de conhecimento exclusivo para os 2,1 mil alunos monitores do programa. Esta iniciativa atende 500 escolas na capital e a previsão da FDE é estendê-la até o final de 2010 para as outras unidades de ensino em território paulista.

Em cada unidade de ensino, o serviço é gerenciado por um grupo de seis alunos estagiários (monitores) do ensino médio, selecionados por concurso da Fundap. A jornada de trabalho é de quatro horas diárias durante o período letivo e o grupo se reveza na atividade. Todos trabalham em horário diferente ao da matrícula pelo período de um ano, podendo ser prorrogado por mais um.

Na média, cada sala dispõe de 15 a 20 computadores novos, adquiridos no final do ano passado. Ligadas em rede, oferecem banda larga e aplicativos de escritório. Diferente do Programa Acessa São Paulo, o Acessa Escola é para uso exclusivo dos alunos e professores do estabelecimento de ensino.

Cada acesso dá direito a usar o equipamento por 30 minutos, sempre fora do horário de aula. A sessão pode ser estendida sem limites, desde que ninguém esteja esperando para usar o computador. O tempo de uso é gerenciado pelo Blue Control, aplicativo desenvolvido sob medida para o Acessa Escola.

Elaine Lima, uma das responsáveis pelo programa, explica que a FDE levará a cada dia 600 alunos estagiários para a Campus Party. “O Acessa Escola favorece a inclusão digital e incentiva o protagonismo do aluno para ficar mais tempo na escola”, conclui.


Campus Party – oportunidades

A estudante Juliana Silva discorda do chavão de que tecnologia é território masculino por excelência. Pela manhã, estuda na Escola Estadual Heróis da FEB. Das 16 às 20 horas é monitora do Programa Acessa Escola na EE Maria Montessori, ambas localizadas na Vila Maria, zona norte da capital.

A garota aprovou a ida à feira da Campus Party. Para ela, foi uma oportunidade única de ampliar seus conhecimentos e trocar experiências com outros monitores. “Mesmo tendo feito cursos de informática, está difícil conseguir uma vaga por não ter experiência. Agora, minhas classificações aumentaram e, de quebra, as chances no mercado de trabalho”, acredita Juliana.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/01/2009. (PDF)

TV Cultura se prepara para ingressar na era da transmissão digital

Primeiros equipamentos já chegaram e em breve serão feitas as primeiras gravações no novo sistema, com programas culturais

O dia 2 de dezembro de 2007 promete entrar para a história. Nesse domingo será realizada a primeira transmissão aberta em rede nacional da TV digital. A migração de um sistema para o outro será lenta, só estará completa em 2017, quando todas as transmissões televisivas serão digitais. No Estado de São Paulo poderá haver até 45 canais com recepção gratuita.

No início de 2006 a TV Cultura destinou US$ 5,5 milhões para a aquisição de equipamentos de vídeo digitais. Parte desse recurso foi usada na compra de 13 câmeras digitais, quatro das quais estão em operação na produção televisiva. O próximo passo será investir mais US$ 8 milhões para adquirir um transmissor digital, uma antena e adaptar a torre de transmissão.

A imagem digital tem mais definição e nitidez que a analógica, explica o engenheiro José Chaves Oliveira, diretor técnico operacional da emissora. Na nova produção, mudam a iluminação, o cenário, o figurino e a maquiagem. Contudo, a captação de áudio e a operação de câmera continuam as mesmas. “Na verdade, a migração para o digital já começou. O programa Cocoricó já é filmado com câmera de alta definição, porém a exibição continua analógica”, afirma.

O diretor explica que a prioridade atual da emissora é finalizar a montagem da primeira unidade móvel (carro) de produção digital. Ela permitirá a gravação de concertos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e de musicais como o Ensaio e o Bem Brasil. “Esses programas têm prioridade na programação. A produção é rápida e podem ser convertidos em DVD”, informa.

Apelo educacional

Desde o início a emissora mantém convênio com instituições de ensino superior, visando a desenvolver programas interativos para aproveitar esse recurso digital na formação artística, cultural e educacional do telespectador. “Ainda não foi criada nenhuma ferramenta com essa finalidade específica. Porém, depois de finalizado o primeiro aplicativo, a ideia é adaptá-lo para uso na grade da programação”, explica.

José Chaves prevê grandes oportunidades de educação com a TV digital, como cursos on-line de reciclagem para professores e alfabetização de adultos por meio de videoconferência. “Estudamos parcerias com outras entidades do Estado e secretarias para divulgar conteúdos ligados à cidadania, à informação e à cultura. Outro viés é oferecer serviços públicos eletrônicos: certificação digital, vendida pela Imprensa Oficial, e talvez uma versão do Poupatempo com acesso via terminal, dispensando o uso do computador”, prevê.

Desde o anúncio da chegada do sistema digital a TV Cultura tem investido na capacitação dos seus recursos humanos. “As equipes técnicas operam os novos métodos sem dificuldade. A emissora também desenvolveu projeto de arquitetura exclusivo para acomodar o sistema de edição digital. É um conjunto de salas especiais, iluminadas, com vidro transparente e móveis feitos sob medida, na nossa oficina de marcenaria”, orgulha-se.

Nova imagem

A TV digital é móvel, funciona dentro de veículos e ao ar livre. Tem como característica a convergência de mídias distinta: internet, o cinema e o rádio digital. O sinal aberto será recebido em televisores e em dispositivos portáteis (celulares e notebooks) de última geração. Por ocupar menos espaço de banda que o sistema analógico, permite às emissoras oferecer programação diferenciada em vários canais.

A nova tecnologia elimina chuviscos e fantasmas na recepção e amplia a interatividade do espectador com a emissora. No início, para sintonizar a TV digital aberta, o telespectador (doméstico) usará um equipamento denominado terminal de acesso a serviços públicos, ou set-top-box – nome comercial utilizado pelos fabricantes.

Para receber o sinal digital será preciso conectar o televisor a esse terminal. Prolonga-se, assim, o uso dos atuais televisores, que têm vida útil média de 15 anos. Outra opção para o usuário será comprar uma TV de plasma ou LCD com o receptor do sinal digital embutido.

O terminal de acesso receberá o sinal digital em até 12 bandas de frequência. Se houver obstáculos físicos à transmissão – prédio ou de paredes –, o aparelho usa como alternativa uma das outras bandas disponíveis. Automática, rapidamente sincronizará o som e a imagem, permitindo ao espectador assistir à programação sem interrupção.

Conteúdo exclusivo

O sinal digital já é usado no País em serviços pagos – TV por assinatura, e em pacotes oferecidos por operadoras de celular. Atualmente, a principal dificuldade encontrada pelas emissoras de conteúdo restrito tem sido estabelecer um canal de retorno para receber as respostas e escolhas do espectador enviadas para o programa. Essa conexão ainda é feita pela linha telefônica.

Uma tendência da TV digital é adaptar o controle remoto para ter funções parecidas com as do mouse dos computadores. Por meio dele, o espectador fará escolhas em menus na tela, de acordo com as opções disponíveis pelo programa. Também poderá, no futuro, acessar a internet e usar correio eletrônico.


Relevância pública

Em 1995, o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) iniciou o estudo da TV digital. O grupo de cientistas coordenou três dos 22 consórcios formados no Brasil para tratar do assunto, nas áreas de codificação de áudio, vídeo e tecnologias com terminais de acesso. Hoje, pesquisa a adaptação do modelo japonês, padrão definido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia para ser utilizado no Brasil.

O engenheiro Marcelo Zuffo, do LSI, é um dos participantes no estudo do sistema digital. Segundo ele, há no País 100 milhões de televisores. “O principal desafio para a TV digital no Brasil será assegurar o envio do sinal em um país de dimensões continentais e baratear o custo do terminal de acesso a serviços públicos, hoje calculado em R$ 300, preço elevado para a maioria da população. Acredito que a estréia do sinal aberto derrubará o custo do aparelho”, prevê Marcelo.

Ele vê, também, grandes chances de inclusão social com a nova tecnologia nas áreas de educação e saúde, desde que melhore a distribuição de renda no País e as emissoras ofereçam programação de qualidade. “Uma possibilidade é usar o laptop de US$ 100 para receber conteúdos educativos. Essa iniciativa internacional é coordenada no Brasil pelo LSI e entregará, em breve, um notebook para cada criança dos países pobres do planeta”.


Pioneirismo e parceria

As diretrizes para implementação do sistema digital brasileiro foram definidas pelo governo federal em novembro de 2006. “A regulamentação é resultado do esforço de mais de 500 pesquisadores brasileiros comprometidos em processos de inovação nos consórcios da TV digital. A lei privilegia o interesse nacional em um mercado potencial com números superlativos”, destaca o engenheiro Marcelo Zuffo.

O mercado brasileiro é o quarto maior do mundo para a TV digital. Atualmente o País pesquisa processos de transmissão, produção de equipamentos e formação de pessoal especializado. Sobre a escolha do padrão japonês, Marcelo aprova a robustez, a flexibilidade e a portabilidade, embora, na comparação com os sistemas europeu e norte-americano, ofereça menos interatividade.

Zuffo comenta que o processo de tropicalização da tecnologia surpreendeu seus criadores. “Em algumas questões técnicas, não nos cobraram direitos autorais e propuseram parceria. Um dos exemplos foi a criação de um padrão mundial de radiodifusão, o International Standards on Digital Broadcasting (ISDB)”, explica.

Informa também que o Brasil será pioneiro na utilização do Linux, sistema operacional de uso livre em um terminal de acesso. Adotará o formato de vídeo Mpeg-4 High Definition, inovação capaz de aumentar a compressão de dados e oferecer maior número de canais de uma mesma emissora para o telespectador.

Nas próximas duas décadas, 1,5 bilhão de televisores no mundo migrarão para o digital. “O avanço tecnológico derruba preços, mas é preciso considerar a diferença entre o custo, o valor de produção de um componente e o preço, relativo a quanto um cliente está disposto a desembolsar. Em 2006, um chip utilizado no terminal de acesso saía por US$ 120 – hoje vale US$ 20”, constata Zuffo.


Pessoal especializado

Em abril, o professor João Fernando Gomes de Oliveira, do Departamento de Engenharia de Produção da USP de São Carlos, foi incumbido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para estruturar a formação de recursos humanos especializados em TV digital no País.

O objetivo é aprimorar a tecnologia e estimular a inovação no Brasil. Motivar fabricantes de equipamentos, geradores de sinal, emissoras a interagir com os centros nacionais de pesquisa. “Hoje, poucas universidades brasileiras pesquisam o assunto. Temos recurso estatal disponível e um edital pronto para atrair cientistas interessados em projetos de pós-graduação”, afirma Oliveira.

A intenção inicial é atrair cientistas das áreas de engenharia e computação. No segundo momento, congregar também especialistas de tecnologia da informação, mídia e profissionais dispostos a aprender sobre como produzir conteúdo para a TV digital.

“Essa iniciativa da Capes segue as diretrizes do Ministério de Ciência e Tecnologia. Estamos numa corrida contra o tempo e ainda não foi definido o limite de bolsas e projetos que podem vir a ser aprovados. Inclusive há a possibilidade de o pesquisador fazer parcerias com empresas e universidades de outros países e continentes. Por exemplo, no Japão predomina o investimento privado em inovação e tecnologia. Quem quiser, poderá propor associações com fabricantes locais”, destaca Oliveira.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/08/2007. (PDF)

Caverna Digital da USP comanda estudo da realidade virtual no País

Aplicações incluem telemedicina, prospecção de petróleo em águas profundas e construção de um planetário interativo em 2005

A Caverna Digital da USP é o principal centro de pesquisa e desenvolvimento em realidade virtual (RV) da América Latina. É uma iniciativa do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP, iniciada em março de 2001 que investe na criação de sistemas interativos e de imersão. Um dos objetivos é transferir o conhecimento adquirido para governos e empresas. As atividades são centralizadas na Cidade Universitária, na capital.

A RV é um conceito vasto e compreende três áreas principais – visualização, computação de alto desempenho e transmissão de dados em alta velocidade. Hoje, ela tem aplicações em telemedicina, TV digital e também em áreas como engenharia (naval, oceânica, mecânica, civil, automobilística e eletrônica), medicina (simulações cirúrgicas, estudos em anatomia), ciências básicas (astronomia, astrofísica, biologia e química), pedagogia (jogos interativos educativos), arquitetura (maquetes virtuais), entretenimento, (roteiros imersivos e interativos e estudos em imagens de alta resolução).

Diferentes segmentos empresariais brasileiros já utilizam e fazem economia com o uso da RV. Indústrias como a aeronáutica, montadoras e de óleo e gás reduzem custos com a produção digital de maquetes virtuais, cujo preço é muito inferior à construção de protótipos reais. Outra vantagem é poder modificar o projeto em qualquer fase de desenvolvimento sem precisar reiniciar todo o processo.

Na área médica, treinamentos cirúrgicos já são realizados com a ajuda de uma interface que simula um bisturi. Além disso, os serviços prestados pela Caverna Digital incluem o auxílio na prospecção e exploração de petróleo em águas profundas pela Petrobras. O centro investe também em educação e, em 2005, colocará em funcionamento um planetário interativo para crianças, que será construído ao lado do Zoológico, na zona sul da capital. A previsão é receber 150 mil visitantes por ano.

Equipe multidisciplinar

O engenheiro eletrônico Marcelo Knörich Zuffo é o cientista responsável pela criação e comando da equipe multidisciplinar de 30 profissionais (pós-graduandos, professores e estagiários) da Caverna Digital. Ele conta que seu gosto pelo estudo de imagens começou no natal de 1982, quando ganhou uma calculadora científica que imprimia gráficos coloridos.

Desde então, Marcelo se especializou no tema e explica que a Caverna Digital teve grande impulso com o desenvolvimento interno de clusters – agrupamentos de computadores de baixo custo e alta capacidade computacional. No arranjo, cada máquina é responsável por projetar simultaneamente as imagens em cada uma das cinco paredes da Caverna Digital. E assim, criar, de modo artificial a sensação de tridimensionalidade. No Brasil, a Caverna Digital é pioneira no desenvolvimento desses sistemas e dispõe de três conjuntos.

O cluster é composto por algumas unidades de computadores, que podem chegar a algumas dezenas. As máquinas funcionam sincronizadas e as projeções simultâneas, associadas aos efeitos sonoros, tornam mais atraentes e interativas as aplicações em RV. Marcelo informa que daqui a dez anos, a meta será disponibilizar um computador para cada pixel, a menor unidade de imagem projetadas na telas do computador.

“Com milhares de máquinas trabalhando juntas, as experiências, serão ainda mais realísticas. Um dos desafios em RV é estimular a interoperabilidade e o uso comum entre os diferentes sistemas de computadores. E também criar filmes que dispensem um sistema operacional para ser executados”, explica.

Transmissor estereoscópico

Marcio Cabral é formado em ciências da computação e gerente de projetos da Caverna Digital. Atualmente está envolvido na construção de um transmissor de vídeo estereoscópico sem fio.

Trata-se de um equipamento que contém um capacete com duas câmeras acopladas – de visão frontal e traseira e mais uma mochila com um computador portátil (laptop) no seu interior. Ao se deslocar, o usuário transmite as imagens capturadas para um outro computador ou ambiente.

“As possibilidades de uso do transmissor são ilimitadas. Abrangem treinamento para portadores de deficiências, conserto à distância de motores e máquinas, uso militar e exploração de áreas perigosas, como campo minados”, conta.

O engenheiro de computação Luciano Pereira Soares é um dos pioneiros da equipe da Caverna Digital. “Trabalhei na Silicon Graphics, empresa multinacional de computação gráfica e vim fazer mestrado na Caverna Digital. Utilizei aqui meus conhecimentos prévios e colaborei na concepção das paredes, salas de máquinas e clusters. Aproveitei ainda as soluções encontradas pela Escola Politécnica da USP para clusters numéricos e adaptei-as para a área de computação gráfica”, conta.

Luciano explica que desenvolver ferramentas educacionais é uma das principais propostas do centro. “O ensino tradicional, restrito à lousa e giz, não tem o mesmo apelo do passado. Para estudar a estrutura do átomo, é mais fácil e instigante assistir a um filme com uma aplicação em RV mostrando para o aluno o seu funcionamento, com cores, animações e interatividade”, comenta.

Um dos desafios para a expansão da RV é desenvolver ferramentas para construir aplicações. “Comprar software é caro e nem sempre o programa corresponde totalmente às expectativas”, explica. O custo dos computadores, baseado em dólar, é outro fator de limitação. “E finalmente, é preciso criar conteúdo brasileiro para os filmes”, salienta.

A mestranda Júlia Benini é estagiária da Caverna Digital e formada em Propaganda pela USP. Trocou empregos anteriores em produtoras de sites, pela possibilidade de se aprofundar na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. “Aqui encontro respostas para as pesquisas de viabilidade prática que faço com bolsistas de iniciação cientifica e graduandos. É diferente de locais que colocam o estagiário para somente tirar xerox“, conta.

Rede Kyatera

A Rede Kyatera é um projeto da Fapesp que vai interligar a Caverna Digital com sistemas similares no Brasil e no mundo. Permite a realização de exercícios de imersão e teleimersão à distância – ou seja, gerar e transferir as imagens e sons digitais por meio da internet de alta velocidade e, no outro ponto da rede, repassar a sensação de ilusão para usuários distantes, até mesmo em outros continentes.

O estudo da telepresença é apoiado pela Rede Nacional de Pesquisas (RNP) e é diferente do teletransporte de matéria, brincadeira recorrente no antigo desenho animado dos Jetsons. Marcelo Zuffo conta que esta aplicação já é uma realidade, sendo utilizada por médicos para ensinar outros colegas a realizar procedimentos cirúrgicos delicados.

Vôos panorâmicos

Na Caverna Digital, o visitante pode fazer um vôo panorâmico, como se estivesse em uma asa-delta sobrevoando o Corcovado na cidade do Rio de Janeiro. Se quiser, pode também conhecer todo o campus da USP na capital e, para aprender astronomia, “viajar” pelo Sistema Solar e estudar as estrelas da Via Láctea na Caverna Digital. A experiência é controlada por um joystick, dispositivo de controle igual ao utilizado nos jogos eletrônicos. O computador cria artificialmente as sensações de profundidade, movimento e de imersão”, explica Marcelo.

Para participar da experiência, o visitante coloca óculos especiais e, de meia ou de chinelo, anda e interage com o ambiente, que é revestido por telas especiais que recebem as projeções – são brancas com três metros de altura e três de largura. A luminosidade do local também é calculada e o projeto das salas foi acompanhado por professores de arquitetura da USP. O objetivo é oferecer conforto máximo para os usuários na sala, que tem isolamento acústico também especial.

Fotomontagens

O engenheiro Osvaldo Ramos é especialista em processamento de imagens e conta que o filme tridimensional exibido na Caverna Digital é o resultado de um minucioso trabalho de fotomontagem. As imagens que compõem as cenas são produzidas com uma câmera especial, que fica sob um tripé. Ela captura imagens simultaneamente em 360 graus com doze lentes que, dispostas em círculo, filmam todas as direções e permitem produzir imagens panorâmicas de toda uma área. O passo seguinte é fazer a junção de toda as fotos e transformá-las em um filme único, em um programa de computador que foi desenvolvido pelos cientistas da Caverna Digital.

Osvaldo conta que esta iniciativa teve grande importância para a Petrobras. “Esta aplicação é muito útil na exploração de águas profundas. Permite a um robô afundar e mapear, de modo panorâmico, toda a paisagem submarina. Estas informações são fundamentais para a construção de oleodutos, marinas e plataformas de exploração de petróleo”, explica.

Aplicações infinitas

A RV tem aplicações na construção de robôs e dispositivos capazes de desarmar bombas, evacuar prédios e prestar socorro em situações de emergência. “Uma novidade, é o uso da RV no tratamento de fobias, já realizado em países europeus, como Portugal e França. Um paciente que tenha medo de altura pode ser submetido a um tratamento que utilize a RV no auxílio na superação de seus medos”, conta Marcelo.

Marcelo informa que o esforço dos cientistas em pesquisar a RV colabora com projetos em bens de consumo ergonômicos – eletrodomésticos e dispositivos capazes de se integrar melhor aos movimentos e formas do corpo humano. Um dos maiores desafios é conseguir sincronizar o funcionamento de todos as máquinas envolvidas para criar a sensação de profundidade, que se completa com a projeção simultânea dos computadores nas paredes e com o uso dos óculos especiais.

Parcerias

A lista de parceiros da Caverna Digital inclui empresas como a Itautec, Intel e o Finep, programa de financiamento de estudos e projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Informações

Caverna Digital da USP

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/11/2004. (PDF)