Instituto de Zootecnia integra produção animal e florestamento

Programa de Produção Animal em Sistemas Integrados (Propasi) apresenta ao produtor rural alternativa de renda sustentável, a partir da diversificação de atividades

Oferecer ao produtor rural alternativa de renda sustentável a partir da diversificação das atividades em sua propriedade. Essa é a proposta de pesquisa pioneira do Programa de Produção Animal em Sistemas Integrados (Propasi), do Instituto de Zootecnia (IZ), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA).

O trabalho consiste em avaliar arranjos de plantio de árvores de mogno africano em pastos de capim-marandu, de forma a identificar um modelo de manejo viável e lucrativo na produção animal e na atividade madeireira. Além disso, a pesquisa pretende contribuir com a longevidade desse sistema silvipastoril, nome que define a criação intencional e integrada de árvores, pastagem e gado na mesma área e ao mesmo tempo.

Coordenado pela zootecnista Alessandra Giacomini, o estudo prossegue no município de Nova Odessa, em área de 30 hectares, conhecida como “Maracanã”, da Estação Experimental Central do IZ. O projeto de alternativa ao monocultivo convencional foi iniciado em dezembro de 2015, com término previsto para dezembro do ano que vem. Recebeu financiamento de R$ 150 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com parceria com a empresa Mudas Nobres, que doou 7,5 mil mudas de mogno africano para o trabalho de campo.

Benefícios

“Independentemente do porte da propriedade, a proposta é oferecer alternativa de diversificação da renda para o pecuarista, de modo que a associação de pecuária e produção madeireira (silvicultura) fortaleça a produção agropecuária de forma sustentável”, explica Alessandra.

Segundo ela, quando completarem seu ciclo de desenvolvimento, as árvores fornecerão madeira de lei e também ajudarão a evitar a degradação das pastagens. “Além disso, sua presença no campo vai reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proporcionar conforto térmico aos animais, um fator de aumento de produtividade”, destaca.

Outros conceitos inclusos nesse sistema integrado são a prevenção do desmatamento e a abertura de novas fronteiras agrícolas no País, por permitirem ao pecuarista produzir mais e por mais tempo na mesma propriedade, sem precisar recorrer a áreas florestais e de preservação, problema existente na Região Norte e Região Centro-Oeste do País. “Na pesquisa, usamos gado leiteiro, porém, o projeto pode ser aplicado e obter os mesmos resultados na pecuária de corte e na ovinocultura”, ressalta a zootecnista.

Parcerias

O sistema silvipastoril em estudo em Nova Odessa tem a colaboração da agrônoma Luciana Gerdes, do zootecnista Enilson Ribeiro e de mais quatro pesquisadores do IZ. Além deles, também participam da pesquisa cientistas de outros centros vinculados à pasta estadual da Agricultura e Abastecimento: dois do Instituto Florestal (IF), um do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e dois do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

De acordo com Luciana, a escolha do mogno africano como espécie de florestamento foi pelo fato de ser exótica, isto é, não originária da flora nacional e ter baixo custo – cada muda custa, em média, R$ 5. Além disso, ela sublinha, essa variedade fornece madeira de alto valor agregado, cerca de R$ 2,5 mil o metro cúbico, valor dez vezes superior ao conseguido pelo eucalipto. “Em média, com 15 anos de vida, a árvore atinge tamanho comercial para ser cortada e fornecer a madeira”, informa.

Funcionamento

Na pesquisa, o gado permanece em piquetes de capim-marandu entre as linhas de árvores, plantadas a cada 15 metros, protegidas por cerca elétrica e com espaçamento de 5 metros entre as mudas. Durante dois anos, os animais não têm acesso às árvores, para evitar que comam ou danifiquem as plantas. Depois desse período, serão liberados para pastar no local e se beneficiar da sombra.

O produtor rural interessado em conhecer o projeto pode entrar em contato com o Instituto de Zootecnia ou, então, participar da próxima saída a campo, de demonstração, prevista para ocorrer em maio – data e horário serão divulgados no site do IZ (ver serviço).

De acordo com explicações dos pesquisadores, se as árvores forem cortadas após 15 anos de plantio e for considerado o valor atual do metro cúbico do mogno, a renda possível a ser obtida, plantando-se 240 mudas por hectare, será de aproximadamente R$ 420 mil por hectare em sistema silvipastoril.

Serviço

Instituto de Zootecnia (IZ)
E-mail giacomini@iz.sp.gov.br
Telefone (19) 3466-9410

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/01/2017. (PDF)

Nova tecnologia permite obter leite mais saudável

Projeto de melhoramento genético desenvolvido no Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, oferece ao pecuarista estratégia simples para aperfeiçoar a sanidade do rebanho e a qualidade da produção

Disponível para pecuaristas de todo o País, a Genética do Leite A2 é uma tecnologia de melhoramento genético desenvolvida no Instituto de Zootecnia (IZ) direcionada à produção de leite mais saudável e de maior valor comercial.

Pioneira no País, a metodologia propõe excluir da composição do alimento a proteína Beta Caseína A1, substância de risco potencial para alguns consumidores, e, ao mesmo tempo, preservar a Beta Caseína A2, segura para todas as pessoas.

“O produtor interessado em aprender a técnica gratuitamente ou que queira se informar a respeito deve contatar o instituto (ver serviço)”, orienta o médico veterinário Anibal Vercesi Filho, pesquisador do Centro de Bovinos de Leite da instituição, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento.

Responsável pelo projeto, o veterinário destaca o fato de a metodologia adotada ter como principal objetivo aumentar a prevalência do gene da proteína A2 nos animais, o que vai permitir fornecer um alimento mais seguro para o consumidor, e mais, a cada nova inseminação do rebanho, irá reforçar nos descendentes essas características.

Mastite

Realizado no gado holandês, o melhoramento genético do IZ propõe também prolongar a vida útil dos animais e ajudar na prevenção de doenças, como a mastite, o principal desafio da pecuária leiteira brasileira. Segundo o especialista, a detecção da moléstia pode ser feita diariamente pelo produtor na ordenha, por meio do Teste da Caneca.

Essa verificação simples, informa, deve ser complementada periodicamente com a Contagem de Células Somáticas (CCS), laboratorial. “Quanto maior o número de células de defesa encontradas nesse exame, maior é o indicativo de infecções no úbere (conjunto de tetas da vaca). Esse é outro dos objetivos do projeto”, explica.

O projeto do IZ considerou, em sua concepção, a literatura científica disponível sobre a digestão do leite pelo organismo humano e mais um estudo a respeito realizado pela Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL) em parceria com a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), de Jaboticabal.

Riscos

As caseínas são as proteínas mais abundantes no leite bovino. Nos estudos acadêmicos avaliados não foram relatados problemas na digestão humana por causa da proteína A2.

Com relação à proteína A1, não foi detectada sua atuação no caso de intolerância à lactose, problema enfrentado por muitos pacientes. No entanto, ela foi reconhecida como fator de risco no organismo de algumas pessoas, por causas, como, por exemplo, hereditariedade.

Para esse perfil de paciente, o processo de digestão da proteína A1 origina um peptídeo chamado Beta Casomorfina 7. De acordo com a literatura médica, esse composto está associado a alergias, doenças cardíacas, diabetes tipo 1, arteriosclerose e inflamação de mucosas do sistema digestivo, entre outros problemas de saúde.

Segredo

Segundo Vercesi Filho, uma das estratégias a ser adotada pelo pecuarista é verificar os genes de touros e vacas antes das inseminações. Essa análise do DNA é simples, similar a um teste humano de paternidade, e custa cerca de R$ 60 por cabeça. Outra orientação é conferir nos catálogos dos criadores se os animais à venda têm as características A1 ou A2 como predominantes.

Até o fim do ano, o IZ pretende tornar disponível esse exame de DNA bovino (genotipagem) em Nova Odessa. Nesse sentido, o veterinário comenta: “Ter um rebanho formado 100% por animais do tipo A2 será um diferencial para o produtor, pois ele poderá vender um alimento com maior apelo comercial e nutricional”.

De acordo com ele, “hoje, boa parte do produto comercializado é uma mistura de A1 e A2, anulando assim a vantagem do segundo. Entretanto, no futuro, será possível vender um leite 100% tipo A2, uma realidade em países como Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido”.

Números

Em Nova Odessa, de 325 animais do IZ, o projeto de melhoramento iniciado em setembro de 2015 já originou 70 filhotes, com o uso de 150 fêmeas (vacas e novilhas) e cinco touros (três holandeses e dois da raça gir). Atualmente, a ordenha diária no instituto gera 2 mil litros de leite, volume que é vendido para uma empresa. Para os próximos cinco anos, a meta é oferecer aos pecuaristas embriões 100% A2 e matrizes e touros reprodutores.

O trabalho de melhoramento genético do IZ tem parceria da AG Brasil Inseminação Artificial. A multinacional, sediada em Ribeirão Preto, fornece doses de sêmen a preço de custo para o projeto, cuja viabilidade e apelo comercial despertaram o interesse de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Cientistas da autarquia paulista desejam firmar parceria com o instituto para realizar análises clínicas com o leite A2 produzido, a fim de saberem mais sobre suas propriedades e possibilidades.

Serviço

Instituto de Zootecnia
E-mail leite@iz.sp.gov.br
Telefone (19) 3466-9435

Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro
FCAV-Unesp

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 15/09/2016. (PDF)