Bala de prata

Centro Multidisciplinar da Fapesp cria nanomaterial capaz de matar dez vezes mais bactérias e fungos que os produtos encontrados no mercado

Vem dos laboratórios do Instituto de Química (IQ), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Araraquara, e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o mais novo nanomaterial criado no mundo. Originado da prata, o composto tem capacidade dez vezes maior de matar bactérias e fungos do que os produtos encontrados no mercado. Inédito na literatura científica internacional, o trabalho rendeu artigo, no mês de abril, na revista britânica Scientific Reports – Nature.

A descoberta é o mais novo resultado do trabalho do Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) mantidos desde o ano 2000 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). O CMDMC é liderado pelo professor Élson Longo e o novo nanocomposto foi sintetizado pelo pesquisador Laércio Cavalcante.

O professor Élson conta que, ao analisar amostras de tungstato de prata em microscópio eletrônico de alta resolução, o grupo descobriu o crescimento de prata metálica na superfície dos cristais de tungstato. E, após um ano de pesquisa, desenvolveu um material artificial, com propriedade fungicida, bactericida, fotoluminescente (capacidade de absorver e irradiar luz) e fotodegradante (capacidade de se decompor compostos orgânicos sob a ação da luz).

Atualmente, materiais com propriedades bactericidas e fungicidas são usados na composição de embalagens, bebedouros, secadores de cabelo e até mesmo na formulação de tintas e pisos.

Para o novo material, o professor Élson vislumbra áreas variadas de aplicação, como cerâmica, eletrônica de materiais, estrutura eletrônica e química coordenada. Prevê, ainda, usos industriais especializados, como sensor de gases. Outra aposta é aproveitar o nanomaterial para despoluir lagos, pelo fato de o mesmo degradar substâncias orgânicas.

CMDMC

O CMDMC tem por proposta formar profissionais e desenvolver novos materiais inorgânicos (cerâmicos) e tecnologias de síntese e de processamento. Atua com fins específicos em pesquisa básica ou voltada para a inovação e, depois, transfere para a sociedade o conhecimento produzido.

O grupo atende empresas públicas e privadas, apoia a criação de novos negócios e dá consultorias em programas de controle de qualidade, pesquisa e desenvolvimento, entre outras funções.

Sua estrutura básica inclui os dois laboratórios Interdisciplinares de Eletroquímica e Cerâmica (Liec) do IQ-Unesp-Araraquara e do Departamento de Química da UFSCar. E mais o Grupo de Crescimento de Cristais e Materiais Cerâmicos do Instituto de Física (IFSC) da USP São Carlos e pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e dos departamentos de Engenharia de Materiais e de Educação da UFSCar.

Sediado no IQ-Unesp, em Araraquara, o CMDMC tem estrutura organizacional e administrativa próprias. Além das instalações e laboratórios, dispõe de processamento e caracterização de materiais cerâmicos, tais como fluorescência e difração de raios X, microscopia eletrônica de varredura, análise térmica diferencial, espectroscopia e infraestrutura computacional, entre outros serviços.

A lista de serviços prestados inclui consultorias para clientes como Cerâmica Saffran, Tecnicer, Alumar, IpqM, Newtronics, 3M, Esmaltes S.A., Dana Echlin, Cerâmica Gerbi, Cervejaria Brahma, Fibra S.A., CSN e White Martins Gases Industriais, entre outros.


Via de mão dupla

As descobertas científicas do CMDMC renderam 27 patentes no Brasil e três no exterior. E originaram três empresas fornecedoras de serviços e produtos de perfil tecnológico. Conhecidos como spin-offs, estes negócios são formados na maioria por ex-universitários dispostos a empreender que, depois do diploma e da consolidação da empresa, mantêm vínculo permanente com as instituições acadêmicas onde se formaram.

Neste grupo, destaca-se a Nanox, fundada em 2005 e sediada em São Carlos. A spin-off será a primeira que poderá aproveitar o novo material desenvolvido no CMDMC e já fez três reuniões para tratar da oportunidade. Dois de seus proprietários, Gustavo Simões e Daniel Minozzi, observam que o tungstato de prata é até três vezes mais fungicida do que os produtos comercializados pela empresa.

Embalagens inteligentes

Com dez funcionários, a Nanox tem entre seus quadros ex-alunos da UFSCar e do IQ-Unesp. Nos laboratórios das duas universidades testa as características físicas, químicas e microestruturais de seus produtos. Um exemplo da linha de produtos são as embalagens “inteligentes”, que conservam os alimentos por mais tempo, preservando o valor nutricional da comida humana e evitam contaminações por micro-organismos.

“Intercâmbio empresa e universidade é constante. Só que, desta vez, aconteceu algo inédito: quem nos pediu para analisar o material descoberto foi o CMDMC”, conta Gustavo. “Faremos os testes de desenvolvimento com o nanomaterial, que pretendemos usar como matéria-prima na linha industrial, por agregar características inovadoras simultâneas: ser bactericida (matar bactérias) e bacterostático (inibir o crescimento delas)”, informou.

Serviço

CMDMC
Nature
Nanox

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/05/2013. (PDF)

Simpósio debate em Araraquara os avanços da nanotecnologia no Estado

Área multidisciplinar da ciência inspira-se na natureza para criar medicamentos, cosméticos, vidros, cerâmica e até memórias

No mês passado, Araraquara foi palco do 1º Simpósio Paulista de Nanotecnologia, evento que atraiu pesquisadores brasileiros e internacionais ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC). Mais de 200 participantes, entre palestrantes e inscritos, debateram o cenário atual e as novas perspectivas para a nanotecnologia. A programação contemplou as três áreas com mais avanços e investimentos no Brasil: materiais, médica e fotônica.

O Centro Multidisciplinar é um grupo mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que reúne 120 cientistas de instituições públicas. É coordenado pelos professores Élson Longo e José Arana Varela, do Instituto de Química da Unesp. Tem equipes em São Carlos, da USP e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Segundo o professor Élson Longo da Silva, além de integrar os pesquisadores paulistas, o evento mostrou as tecnologias de alto nível criadas e usadas no Estado. “São estudos pioneiros que podem indicar novos rumos à indústria nacional, como a fabricação de para-raios com materiais nano e de vidros especiais para serem usados como memória de computador, com capacidade de armazenamento muito superior às atuais”, destacou Élson.

Na mesma linha de raciocínio, o físico José Arana Varela, pesquisador do Instituto de Química (IQ) do CMDMC e pró-reitor de pesquisa da Unesp, afirmou que simpósios desse tipo são fundamentais para ampliar a sinergia entre os centros de pesquisa brasileiros e internacionais.

Mundo nano

A nanotecnologia é uma ciência relativamente nova, multidisciplinar e ainda desconhecida de grande parte da população. Sua proposta é alterar, com fins específicos, as propriedades de átomos e moléculas para obter novas funcionalidades e materiais.

Para o cidadão comum, o conhecimento nano já é usado para fabricar medicamentos, dentes humanos artificiais e materiais odontológicos, memórias e discos rígidos para computador, cosméticos, espelhos telescópicos, pilhas, tintas, panelas e plásticos.

Para a sociedade, a pesquisa em nanotecnologia estimula a formação de pesquisadores de alto nível e favorece a criação de empresas de perfil tecnológico no País – novas fontes de emprego, renda e impostos.

Na história da ciência, compreender os fenômenos naturais sempre foi uma busca recorrente. Na área nano não é diferente. E alguns processos complexos despertam interesse especial dos pesquisadores, como a fotossíntese nos vegetais e a produção da madrepérola em algumas espécies de molusco, um biomaterial sofisticado.

O progresso da ciência nas últimas décadas ampliou a compreensão sobre os fenômenos naturais, químicos, físicos e biológicos. E a manipulação de materiais no nível atômico abre infinitas possibilidades de pesquisa básica e aplicada.

Energia alternativa

No primeiro dia de atividades do simpósio, o professor Édson Leite, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresentou trabalhos nas áreas de polímeros, cerâmicas eletrônicas e filmes finos. E sublinhou o fato de serem todos compostos desenvolvidos no Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), um dos principais centros de pesquisa do CMDMC.

O professor expôs nanomateriais destinados à geração de energia a partir de tecnologias limpas e sustentáveis, como a célula combustível alimentada por hidrogênio. Este processo tem grande potencial para gerar eletricidade, é renovável e sem emissão de ruído e de gás carbônico. No entanto, assim como a energia solar, outra pesquisa em andamento no Centro Multidisciplinar, ainda tem baixa eficiência.

Do ponto de vista energético e ecológico, pesquisar e investir em tecnologia limpa é uma tendência mundial. A expectativa é obter mais segurança, autonomia e desempenho em motores elétricos. E substituir, com vantagem, as atuais pilhas e baterias usadas no controle remoto, celular e notebook.

As pilhas atuais contêm metais pesados na composição, suportam número limitado de recargas e têm grande potencial poluidor, caso não recebam tratamento ambiental adequado. De acordo com as leis vigentes, é tarefa dos fabricantes recolher as baterias após o descarte e fazer a destinação correta, do ponto de vista ambiental, das pilhas e baterias usadas.

Petróleo e aquecimento

Desde o início do século passado, o petróleo continua sendo a principal matriz energética do planeta. É matéria-prima fundamental para a produção de combustíveis, plásticos e fertilizantes. E na relação custo/benefício, permanece imbatível em comparação a outras fontes de energia.

Caso confirmem-se as previsões mais otimistas, o petróleo durará mais cem anos antes do seu esgotamento definitivo. E os outros hidrocarbonetos também de origem mineral (carvão e gás) utilizados como matriz energética estarão disponíveis por mais 300 anos.

Entre 2006 e 2007, o consumo mundial de petróleo cresceu 60%. Além disso, outros fatores como o aumento constante da economia chinesa, a incessante instabilidade no Oriente Médio e a estagnação do volume de óleo extraído levaram o preço do barril do petróleo a ultrapassar a casa dos US$ 130 no mês de maio.

“A mudança climática na Terra provocada pelo aquecimento global é um problema maior que a escassez de petróleo”, afirma Édson Leite. Ele concorda com especialistas que associam a elevação da temperatura mundial com as emissões de gás carbônico causadas em grande parte pelo desmatamento e queima de combustíveis minerais.

Uma saída, indica o professor, é aumentar o investimento governamental e privado na geração alternativa. Este caminho já é seguido pelo Bloco Europeu, que investe na captação de energia eólica e solar e tem legislação ambiental severa, que prevê reduções progressivas no volume de emissões de gás carbônico para os próximos anos.

Édson Leite aprova o programa brasileiro de biocombustível (etanol e biodiesel), por ser sustentável e dispensar o subsídio governamental. No Brasil, os carros flex-fuel dominam o mercado e no exterior são vendidos veículos híbridos movidos a gasolina e a eletricidade: o Toyota Prius e o Honda Civic.

Ambos os modelos têm descontos e incentivos governamentais. Mas preço superior ao dos concorrentes e autonomia restrita quando impulsionados somente pelas baterias.

“A energia nuclear é viável se for bem executada e não emite gás carbônico”, analisa. Em contrapartida, o urânio, uma de suas principais matérias-primas, é um metal raro na natureza e de difícil extração. Além disso, o uso da matriz atômica pode provocar corrida armamentista e a proliferação de armas de destruição em massa.

Nova matriz energética

A luz solar é a maior fonte de energia disponível no planeta. O Brasil é o país com maior oferta deste recurso no mundo, porém, não existe nenhum programa governamental para aproveitá-lo. Na opinião de Édson Leite, a melhor saída seria, no futuro, o Brasil combinar o uso desta energia com o de célula combustível.

O princípio de funcionamento da célula combustível é similar, do ponto de vista teórico, ao usado pelos vegetais durante a fotossíntese para acumular energia. A planta capta e armazena a luz gerando elétrons (eletricidade) para queimar o hidrogênio que alimentará a célula combustível. O desafio para a ciência é obter a mesma eficiência.

Na sua exposição o professor Osvaldo Oliveira Júnior, do Instituto de Física da USP São Carlos (IFSC), apresentou estudos recentes no nível molecular para controlar propriedades de materiais para quaisquer tipos de aplicações. Uma das possibilidades é produzir filmes orgânicos ultrafinos para integrar biossensores e polímeros luminescentes.

Uma aplicação interessante do filme orgânico fino é simular em laboratório o efeito de um fármaco sobre um tecido humano. A técnica permite determinar se a substância penetra ou não na célula – e em qual concentração este processo ocorre.

Língua eletrônica

Osvaldo Oliveira Júnior alerta que o modelo usado no estudo é bastante limitado. No entanto, o conceito permite à indústria farmacêutica e de cosméticos pesquisar novos produtos e drogas com dosagem e tempo de atuação mais precisos no organismo.

Para o grupo de pesquisadores coordenado pelo professor, o principal desafio será explorar com eficiência a alta sensibilidade dos biossensores. Para a indústria, a meta será oferecer um medicamento de acordo com as características orgânicas e genéticas de cada paciente.

O destaque final da apresentação do docente foi a língua eletrônica. O dispositivo consiste em um arranjo de sensores usado para identificar os quatros sabores básicos do paladar: amargo, azedo, doce e salgado. (Os asiáticos acrescentaram um quinto sabor – o do peixe cru – à lista).

A inovação tem mil vezes mais sensibilidade que a língua humana. Emprega conceitos nano e de redes neurais para identificar com precisão, e em poucos minutos, uma substância num universo de até 800 amostras.

Já é usada por produtores de vinho para indicar variações entre as safras de uva e pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), para identificar os melhores grãos para produzir variedades finas. De baixo custo, o equipamento serve também para analisar a qualidade da água e verificar a presença de pesticidas, micro-organismos e metais pesados.

O projeto da língua eletrônica foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a USP São Carlos, Unesp de Presidente Prudente, UFSCar de Sorocaba e Escola Politécnica de São Paulo.

Mais empresas

No segundo dia de debates a mesa-redonda foi constituída pelos pesquisadores Élson Longo (IQ-Unesp), Antônio Carlos Hernandes (USP-São Carlos), Luiz Henrique Matoso (Embrapa) e Edgar Dutra Zanotto (UFSCar). Eles discutiram sobre os caminhos para melhor aproveitar a produção científica paulista e incentivar a formação de empresas de perfil tecnológico no Estado.

O professor Edgar é um dos pioneiros em estudos com vidros nano no Brasil. Ele destacou o fato de atualmente ter crescido a oferta de recursos governamentais para estímulo à pesquisa. Também citou como exemplo de iniciativa estadual o Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da Fapesp. E, no âmbito federal, a Subvenção Econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep-MCT).

“O desafio é criar uma mentalidade empreendedora no pesquisador e transformar suas descobertas em novos produtos. Inovar e registrar a descoberta é apenas o primeiro passo”, observou Edgar. A etapa seguinte é analisar o potencial do mercado, criar a empresa e desenvolver o produto. Em paralelo, aprender conceitos de marketing, distribuição, venda e pós-venda.

Outra necessidade é firmar parcerias com fornecedores e traçar estratégias para concorrer com empresas asiáticas. Nestes países, as empresas locais levam vantagem sobre as brasileiras em muitos pontos, como logística, infraestrutura de transportes e mão-de-obra mais qualificada.

“Quem quer empreender e não tem todo o dinheiro necessário pode recorrer a um fundo de capital de risco. Assim, une-se a investidores experientes, que profissionalizam a gestão do negócio que, fortalecido, ajuda a evitar a mortalidade precoce. Nos últimos 25 anos em São Carlos foram criadas cem empresas e mais da metade desapareceu – em muitos casos pela falta de preparo administrativo e não científico”, observou Edgar.


Nanoarte: beleza e tecnologia

O Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP São-Carlos (CDCC) promove até o dia 28 de junho a exposição Nanoarte: uma viagem pelo mundo da tecnologia. A mostra apresenta 30 imagens ampliadas e em alta resolução de materiais nano obtidas nos equipamentos do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos.

A mostra Nanoarte é uma criação do professor Élson Longo e do jornalista Kleber Chicrala, que tem como objetivo demonstrar em imagens de 40 centímetros x 50 centímetros a beleza existente nas cores, formas e composições de muitos trabalhos científicos. A entrada é gratuita e a visita pode ser feita de segunda-feira a sábado, das 8 às 12 horas e das 14 às 18 horas.


Híbrido e molecular – pioneirismo

O professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP (IQ-USP), apresentou materiais de perfil híbrido e molecular. Ele é um dos pioneiros no País na área, e em sua exposição traçou um perfil da evolução da pesquisa nano no mundo.

A primeira fase começou há duas décadas e visou ao controle dimensional e estrutura molecular dos compostos. Resultou nos atuais sensores e catalisadores. A próxima etapa dará ênfase à nanoarquitetura e permitirá o controle e visão tridimensional dos átomos; a quarta geração se ocupará do controle molecular.

Henrique Toma citou exemplos recentes de aplicações industriais baseadas em princípios nano. “Inspirado nas células da pele do tubarão, o maiô especial criado pela Speedo e usado pelos nadadores para quebrar sucessivos recordes desliza melhor na água”, garante.

Outro exemplo é a cola sem cheiro e sem compostos químicos, usada em consertos caseiros e na construção civil. O produto comercializado pela empresa Adespec não traz riscos à saúde humana e ao meio ambiente e ganhou os nomes comerciais de Prego Líquido e FixTudo.

Durante o desenvolvimento, a pesquisa recebeu recursos do Projeto Pipe da Fapesp. Os produtos imitam as propriedades das células existentes nas patas da lagartixa que lhe permitem grudar no teto e nas paredes. No futuro, o mesmo princípio poderá ser utilizado numa roupa autolimpante.

“Muitos produtos já incorporam a tecnologia nano. Na área de cosméticos, é uma prática comum. Porém, por ser novidade, muitos fabricantes ocultam esta informação temendo a rejeição dos consumidores – um receio semelhante ao sofrido pelos alimentos transgênicos”, finaliza.


Glossário

Fotônica – Área científica voltada ao controle, manipulação, transferência e armazenamento de informações por meio do fóton – partícula elementar mediadora da força eletromagnética.

Polímero – Composto de elevada massa molecular relativa, resultante de reações químicas. São divididos em plásticos, borrachas e termofixos.

Biossensor – Analisa funções metabólicas de micro-organismos para medir poluentes.


Serviço

CDCC
Rua 9 de Julho 1.227 – Centro
São Carlos – Telefone (16) 3373-9772

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 03/06/2008. (PDF)

Semáforo criado pela USP poupa energia e funciona até 90 minutos em blecautes

Centro emprega diodos emissores de luz (LEDs) em mais de 40 projetos nas áreas de sinalização, iluminação e saúde

Desenvolver um semáforo capaz de poupar energia, refletir a luz com mais eficiência e funcionar até uma hora e meia em caso de interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Estes foram os desafios impostos a um grupo de cientistas do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica de São Carlos (CePOF) da Universidade de São Paulo de São Carlos, unidade responsável por mais de 40 projetos com os diodos emissores de luz de alto brilho, denominados Light Emitting Diodes (LEDs).

O novo semáforo foi batizado de blackout e usa como fontes de luz quatro LEDs no espaço correspondente a cada uma das três lâmpadas incandescentes tradicionais.

Além de funcionar até 90 minutos em caso de falta de energia, a tecnologia tornou o equipamento mais leve que o convencional. E cumpriu também a meta de economia: o consumo de energia é 15% menor. Sua instalação é simplificada e o desenho geométrico das lentes plásticas aproveita toda a intensidade do fenômeno físico da refração.

A pesquisa começou em 2006 e teve a parceria da Meng, empresa privada que atua no campo da sinalização. A firma já fabricou mais de dez mil unidades do semáforo e unidades do blackout já estão funcionando em Guarulhos e na capital. O físico Vanderlei Bagnato, pesquisador do CePOF responsável pelo projeto, explica que o desenvolvimento da aplicação foi rápido, em menos de um ano.

Idéias luminosas

O blackout tem vida útil média de 20 mil horas. O físico afirma que ele é mais barato que o semáforo convencional mais simples, orçado em R$ 30 mil (com o poste) e com manutenção anual de R$ 5 mil. Sublinha, entretanto, o fato de o conjunto de LEDs consumir somente um megawatt por hora, ante os 100 megawatts exigidos por somente uma das quatro lâmpadas incandescentes do modelo convencional.

“No Brasil, a maioria das cidades têm sinalização insatisfatória, um risco para pedestres e veículos. O custo menor do blackout pode ajudar as prefeituras a adquirir mais equipamentos e melhorar o trânsito nos cruzamentos mais perigosos. Por funcionar com baterias acopladas, previne situações perigosas em metrópoles como São Paulo, quando a chuva forte derruba postes e interrompe o fornecimento de energia”, explica o pesquisador.

Embora empregue LEDs em suas aplicações, o CePOF não os produz. A maioria é importada e somente uma empresa brasileira os fabrica no País. Esta tecnologia vem sendo aprimorada desde a sua descoberta, nos anos 1960. “Essa fonte luminosa já não está presente apenas nos painéis eletrônicos de TVs”, observa.

Ameaça de apagão

Vanderlei Bagnato afirma que o País não mantém investimento em geração de energia elétrica capaz de acompanhar o atual ritmo de crescimento da economia.

“Se a tendência atual da economia for mantida, em até dez anos o déficit será de 30% – e surge a ameaça de um novo apagão, como o ocorrido em 2001. O uso de LEDs é bastante eficiente neste sentido. Consegue converter até 80% da eletricidade em luz, sendo que a lâmpada incandescente aproveita apenas 20% do recurso”, explica.

O próximo passo é repassar a inovação utilizada no semáforo para a iluminação residencial e urbana. Integrar equipamentos como painel eletrônico, celular, TV, farol de carros e brake-light (luz traseira interna). Ao contrário da lâmpada incandescente, que é monocromática, o LED consegue mudar de cor, intensidade e distribuição.

“Abre, assim, inúmeras possibilidades de uso científico, industrial e de bens de consumo. Na área médica, por exemplo, o CePOF está finalizando dispositivos capazes de combater a psoríase e o papilomavírus humano (HPV) genital ou anal, vírus que causa verrugas visíveis ou microscópicas.”

O tratamento de alguns tipos de câncer é um dos pontos principais das pesquisas. Estes projetos são desenvolvidos pela empresa em parceria com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP-USP), o Instituto do Coração (InCor), o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú e o laboratório farmacêutico ESM-Sigma-Pharma, de Hortolândia, entre outros.

Os futuros equipamentos serão capazes de detectar e matar células de tumores, em cânceres de boca, pele, mama e colo de útero.

“Para funcionar, requer que o paciente engula uma substância especial, que fará com que a luz emitida pelos aparelhos ataque somente as células tumorais. Evita assim um conhecido efeito colateral e indesejado da radioterapia, terapia carcinogênica tradicional, que ao ser executada mata também tecidos saudáveis do organismo”, finaliza.


Serviços para a sociedade

O CePOF tem 70 pesquisadores fixos e mais 50 cientistas eventuais e associados. Funciona ancorado sobre três pilares básicos. O primeiro é o investimento em pesquisa básica unido ao esforço coletivo para formar pessoal capaz de gerar conhecimento; o segundo diz respeito à inovação tecnológica, com a aplicação do saber produzido; e o terceiro, é a tarefa de promover a difusão científica.

A natureza do trabalho do CePOF é multidisciplinar. Por seus laboratórios transitam engenheiros, biólogos, dentistas e fisioterapeutas, entre outros profissionais. Além dos LEDs, há estudos em áreas como o relógio atômico, fibras ópticas, espectroscopia do átomo, lasers e análise de propriedades ópticas de diversos materiais.

A inovação desenvolvida pelo CePOF é produzida pelo Laboratório de Apoio Tecnológico (LAT) do Centro. A missão dele, segundo Vanderlei Bagnato, é converter o conhecimento produzido para a sociedade em produtos e serviços.

“Privilegiamos estudos com tecnologia renovável, segura para o uso humano e sustentável. Na próxima década, a principal preocupação será preservar o meio ambiente e poupar energia”, prevê.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/10/2007. (PDF)