Games, o mais novo aliado no aprendizado de matemática

Defendida em agosto de 2017 no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP), tese de doutoramento do cientista da computação Adalberto Bosco Pereira apresentou um lado inovador dos jogos digitais comerciais para celulares, ou seja, a possibilidade de aproveitar alguns títulos, com viés de estratégia, para o aprendizado de conceitos de matemática.

O trabalho acadêmico foi realizado com duas turmas de 30 alunos do ensino básico, da faixa etária de 11 a 14 anos, de uma escola estadual de tempo integral de Cotia, município da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), no período compreendido entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016.

Intitulada Uso de jogos digitais no desenvolvimento de competências curriculares da matemática, a tese já está disponível on-line para consulta na Biblioteca Digital da USP (ver Serviço). O trabalho acadêmico teve orientação compartilhada do professor Flávio Silva (IME) e da professora Stela Piconez, coordenadora científica do Grupo Alpha da Faculdade de Educação da USP, equipe mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Conexão

Fã de games desde a infância, Pereira revela ter adotado como premissa inicial descobrir qual perfil de jogo mais agradava aos alunos. Investigou em sua tese como tais jogos poderiam favorecer o ensino e a aprendizagem da matemática, presentes de forma abstrata no currículo escolar. Foram escolhidos pelos alunos três títulos bastante populares: SimCity BuildIt, The Sims Freeplay e Clash of Clans.

Segundo ele, os três são bastante conhecidos, atraem naturalmente o interesse e “permitiram, na execução da atividade extracurricular proposta, debater questões como a aritmética básica, isto é, a realização das quatro operações fundamentais (somar, subtrair, multiplicar e dividir), equações do primeiro grau, cálculos de porcentagem e de área de polígonos, entre diversas outras atividades.

Os três jogos adotados são de estratégia, disputados em etapas e envolvem tomada de decisão, cujas escolhas mudam por completo o desfecho das partidas. Nesse sentido, Adalberto cita SimCity BuildIt, um simulador de construção e administração de cidades, onde é possível debater coletivamente questões sociais e ambientais, como, por exemplo, a geração e arrecadação de impostos, a destinação do lixo urbano e os impactos decorrentes da construção de uma fábrica em local vizinho ao de residências, fator de queixas dos moradores com poluição e barulho, entre outras questões.

“Nos dois semestres, a forma como os games foram usados foi parecida. Os estudantes jogavam livremente em seus celulares, porém programavam-se para disputar as partidas on-line e coletivamente, e assim deveriam superar os desafios”. Paralelamente, adotou-se um mapa conceitual, com um modelo de representação gráfica, capaz de indicar a evolução do desempenho dos alunos em atividades complementares de grupos focais.

Segundo Pereira, o corpo gestor e os professores de matemática da escola se mostraram receptivos à iniciativa e se surpreenderam com os resultados. “A atividade coletiva e cooperativa colaborou para diminuir o bullying e aumentar a concentração dos estudantes na sala de aula”, explica o pesquisador.

Serviço

IME
Tese na Biblioteca Digital da USP

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/06/2018. (PDF)

Amanhã é o último dia para visitar a Feira de Profissões da USP

Gratuito, evento divulga cursos oferecidos pela Universidade de São Paulo e auxilia o estudante a decidir sobre sua opção acadêmica

Termina amanhã, às 17 horas, a 10ª Feira de Profissões da Universidade de São Paulo (USP). Com entrada franca a partir das 9 horas, o evento é direcionado a estudantes do ensino médio e de cursos preparatórios para o vestibular. A feira é realizada no Parque de Ciência e Tecnologia da USP (ver serviço).

Organizada pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU) desde o dia 18, oferece diversas seções lúdicas e interativas para o público, como o Planetário Digital, o Show da Física, a Célula Gigante e a Barraca Boca. Essa iniciativa é parte do Programa USP e as Profissões, realizada duas vezes por ano, com uma edição na capital e outra em um câmpus do interior.

O atendimento ao visitante é feito por professores, servidores e alunos das diversas unidades da USP no Estado. Nos estandes e instalações, eles divulgam os mais de 300 cursos de graduação oferecidos na capital e no interior e abordam questões relativas à pós-graduação, moradia, alimentação e mercado de trabalho, entre outros temas ligados ao evento.

Teste vocacional

Indeciso sobre prestar vestibular para curso na área de Humanas ou Biológicas, Lucas Fortuna, de 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio do Colégio Carlos Drummond, do bairro do Limoeiro, zona leste da capital, entrou na fila para participar de uma das oficinas de orientação profissional. Com 50 minutos de duração, essa atividade do Instituto de Psicologia (IP-USP) atende grupos de 15 estudantes.

Enquanto esperava ser chamado, Lucas conversou, ainda na fila, com o psicólogo Guilherme Fonçatti, do Serviço de Orientação do IP-USP. Soube, então, que uma das dicas principais para fazer a sua escolha é levar em conta o maior número possível de critérios pessoais. “O leque de trabalho é cada vez mais amplo e deve haver convergência de interesses entre as aptidões e as necessidades de cada um”, explicou Fonçatti.

Segundo o psicólogo, é impossível, com um único teste vocacional, decidir qual rumo acadêmico ou profissional deve ser tomado. “Precisam ser consideradas diversas possibilidades”, observou. “Para os visitantes aproveitarem ao máximo sua estadia na feira, eles são instruídos sobre como formular as perguntas mais apropriadas aos monitores nos estandes, de acordo com o interesse vocacional de cada um”, revelou Guilherme.

Tridimensional

A poucos metros dali, um grupo de sete estudantes da Escola Técnica Estadual (Etec) Presidente Vargas, de Mogi das Cruzes, esperava a vez para entrar na Célula Gigante. Desenvolvida em 2006 pelo Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto Biociências (IB-USP), com a utilização de materiais de baixo custo, a instalação reproduz em seu interior, em versão tridimensional e ampliada 130 mil vezes, uma célula com todas as suas organelas, núcleo, e demais características.

“Na visita, cada grupo tem a chance de aprender mais sobre essa estrutura microscópica, considerada a unidade básica da vida”, explicam os biólogos Rafaela Santos e Vinicius Félix, do IB-USP, dois dos responsáveis pelo espaço de divulgação.

“O formato da exposição favorece o aprendizado. Em dez minutos, aprendemos muito mais sobre a célula humana do que em uma aula convencional”, constatou Gabriela Silva, falando em nome dos colegas do 3º ano fundamental Leonardo Silva, Lucas Silvestre, Vinicius Apolinário, Édson Yamamoto, Débora Silva e Gustavo Bento.

Taxidermia e magistério

Dispostas a cursar carreiras na área de Biológicas, as amigas Lavínia Ferreira e Bianca Santos, do Cursinho Comunitário Pimentas, de Guarulhos, se encantaram com animais empalhados e insetos conservados em álcool, em exposição no estande do Museu de Zoologia (MZ-USP).

Lá, as pré-universitárias aprenderam um pouco sobre processos de taxidermia e de conservação de animais para estudos científicos. Vanessa Pires, funcionária do MZ-USP que as atendeu, destaca que o estande traz amostras das atrações permanentes do museu e divulga o curso de pós-graduação oferecido pela instituição de educação, preservação e pesquisa científica.

Acompanhada de colegas e professores da EE José Pinto Marcondes Pestana, de Pindamonhangaba, a estudante Carolina da Silva foi ao estande da Faculdade de Educação (FE-USP) para saber quais opções profissionais poderá ter caso se forme em pedagogia.

Daniela Borges, relações públicas e funcionária da FE-USP, lhe apresentou um panorama geral sobre remuneração na área, diversos caminhos possíveis como lecionar, ser coordenadora pedagógica, educadora infantil, diretora, entre outras alternativas. “Essa orientação foi relevante e tenho agora novas variáveis antes de decidir”, revelou.

Serviço

10ª Feira de Profissões da USP
Parque de Ciência e Tecnologia da USP (CienTec)
Av. Miguel Stéfano, 4.200 – Água Funda, em frente ao Zoológico – zona sul da capital Horário: das 9 às 17 horas
Site da feira
Telefone (11) 2648-0487
E-mail uspprofi@usp.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/08/2016. (PDF)

Educação vai formar primeira turma de professores indígenas no ano que vem

Escola para nativos é bilíngue, intercultural e preserva tradições e cultura de cinco etnias presentes no território paulista

No mês de abril de 2008, o Estado de São Paulo dará mais um passo na ampliação da educação indígena. Será concluída na Universidade de São Paulo (USP) a formação superior de 81 professores indígenas, grupo que desde 1997 atende às 28 aldeias existentes no território paulista. A iniciativa foi organizada pela Secretaria Estadual da Educação (SEE), que repassa às crianças e aos adultos das tribos os conceitos pedagógicos relativos à primeira e à quarta séries da escola tradicional.

A educação indígena começou em 1997, com a reivindicação na secretaria dos representantes das cinco etnias (guarani, tupi-guarani, krenak, terena e kaingang) presentes em São Paulo desde a época do descobrimento do Brasil. A partir do segundo semestre de 2008, os alunos receberão noções relativas ao período da quinta à oitava séries da escola tradicional.

Diploma equivalente

O diploma emitido pela escola indígena tem o mesmo valor legal que o obtido nos demais estabelecimentos de ensino do Estado. A alfabetização é bilíngue, em português e na língua materna de cada etnia remanescente. A missão de lecionar é exclusiva do índio-professor, um integrante da comunidade indicado pela própria tribo para ser docente. Sua formação pedagógica é complementada no curso superior na USP, bancado pela pasta.

A escola indígena não tem diretor. Seu papel é desempenhado pelo vice-diretor, indicado pela comunidade. Controles administrativos da escola tradicional, como as provas e a frequência nas aulas, foram todos adaptados. O currículo segue três princípios elementares e as ferramentas e tecnologias – o aprendizado dos códigos e da linguagem e das ciências humanas e da natureza. E inclui disciplinas tradicionais: Matemática, História e Geografia.

Do grupo de 81 educadores indígenas, 33 são mulheres e 48, homens. Atuam em 11 Diretorias de Ensino e aplicam programas de educação básica (ensino infantil, fundamental e médio) e de Jovens e Adultos. Durante o processo de formação, cada professor intercala três semanas lecionando na aldeia com uma estudando pedagogia na USP. Neste período, fica hospedado em hotel na capital, com despesas e estadias financiadas pela Educação.

Elo perdido

A professora Deusdith Velloso, coordenadora do Núcleo de Educação Indígena (NEI), explica que a educação indígena foi organizada sob medida e adaptada de acordo com a legislação vigente para as comunidades. Trata-se, segundo ela, do cumprimento dos artigos 231 e 232 da Constituição de 1988, regulamentados em 1996 na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e da Resolução 3 de 1999 do Conselho Nacional de Educação (CNE).

A legislação exige que o professor seja da mesma etnia que seus alunos e concede aos nativos o direito sobre o uso e a ocupação das terras. Prevê que o Estado construa escolas exclusivas para os índios, instaladas dentro das áreas federais de preservação (reservas).

Intercultural

“A proposta da escola indígena é ser intercultural. A merenda contempla os alimentos tradicionais da etnia e os prédios seguem o padrão arquitetônico de cada tribo. É um grande desafio para os professores da Faculdade de Educação da USP (FE-USP)  formar os indígenas, com trabalho inclusive de campo, nas aldeias. E também preparar, de modo adequado, os Atendentes Técnico-Pedagógicos (ATPs) das Diretorias de Ensino para coordenar o trabalho com suas lideranças, observa.

Segundo Deusdith, além da formação superior dos professores indígenas, são efetuadas a transcrição e a codificação das cinco línguas. “Há interação permanente entre a equipe da Educação e os caciques e anciões das tribos, para se resgatar e documentar a cultura original e produzir material a ser utilizado em cartilhas e dicionários. Em suma, facilitar a alfabetização na aldeia com a língua original”, explica.

“A educação indígena é multicultural. Preserva mitos antes transmitidos somente entre as gerações e amplia o conhecimento sobre a cultura nativa, em processo de destruição desde a chegada do colonizador. Resgata tradições: arte plumária, pinturas, artesanato, fabricação de armas e utensílios e técnicas de construção e manipulação de matérias-primas”, informa.

População maior

O antropólogo Rafael Morales, da Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas (Cenp), revela outro viés positivo: o crescimento das populações indígenas do Estado, fenômeno que associa ao aumento das escolas nas aldeias. “Em 1997, a população estimada era de três mil, sendo 190 crianças. Dez anos depois, com o advento dos estabelecimentos de ensino, o número saltou para quatro mil pessoas, sendo 1.350 crianças e jovens”, indica.

A professora Lydia Menezello, também participante da educação indígena, mostra o aprendizado da língua como o principal fator de entendimento e integração dos nativos na sociedade. “Antes matriculada numa escola tradicional, uma criança guarani de seis anos não entendia o português. Por isso era discriminada e isolada pelos outros estudantes. Hoje é fluente em leitura e escrita nas duas línguas”, explica.


Balanço do trabalho

No final de julho, a secretaria organizou conferência estadual sobre a educação escolar indígena na Cidade Universitária, na capital. O evento marcou o décimo aniversário da iniciativa no Estado e abordou a formação dos educadores e os novos rumos e desafios para seu aprimoramento, e a questão das minorias no País.

Participaram do encontro caciques, professores e representantes das Diretorias de Ensino e da Fundação Nacional do Índio (Funai). As principais reivindicações foram a necessidade de ampliação e construção de novas escolas, a instalação de salas de informática com acesso à internet e o fortalecimento das discussões na sociedade sobre os direitos e deveres dos indígenas.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/12/2007. (PDF)