Núcleo Itutinga-Pilões é opção de passeio gratuito no litoral

Roteiros pelo Parque Estadual da Serra do Mar fortalecem a educação ambiental com dezenas de trilhas e observação de espécies nativas em trechos preservados de mata atlântica

Sediado em Cubatão, o Itutinga-Pilões é um dos dez núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) administrados pela Fundação Florestal, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. A área verde preservada é um dos maiores trechos remanescentes de mata atlântica, um dos cinco biomas mais ameaçados no mundo e também um corredor biológico fundamental para a preservação da biodiversidade local, composta por 1,4 mil espécies de animais e 20 mil de vegetais.

O PESM parte da faixa litorânea do Estado do Rio de Janeiro, adentra o território de 25 municípios paulistas e vai até o Paraná. Tem 332 mil hectares de extensão e, desses, 43,8 mil integram o Núcleo Itutinga-Pilões. Os demais trechos, cada um com características próprias de interação social e preservação da flora e da fauna, dividem-se entre os núcleos Bertioga, Caraguatatuba, Cunha, Curucutu, Itariru, Padre Dória, Picinguaba, Santa Virgínia e São Sebastião.

Água de beber

Com origem no tupi-guarani, a palavra Itutinga-Pilões significa portal da água branca rumorejante, referência às diversas cascatas, piscinas naturais e aos rios Passareúva, Pilões e Cubatão presentes no ecossistema. Essas fontes hídricas fornecem 80% da água consumida na Baixada Santista e abastecem também mananciais da Represa Billings, localizada no entorno da capital.

Além de Cubatão, o Núcleo Itutinga-Pilões se estende pelos municípios de Mogi das Cruzes, Praia Grande, Santos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Paulo e São Vicente. O complexo abriga, na encosta da Serra do Mar, a Usina Hidrelétrica Henry Borden e o trecho inicial da Rodovia Caminhos do Mar (SP-148).

De traçado sinuoso, a via foi a primeira interligação do litoral com a capital. Ao longo de seus 9,2 quilômetros, a rodovia mantém preservados diversos monumentos históricos, como o Pouso Paranapiacaba, o Belvedere Circular, o Rancho da Maioridade e a Calçada do Lorena.

Grátis e agendado

A advogada Patrícia Rodrigues, gestora do Núcleo Itutinga-Pilões, explica que a ida ao parque é gratuita e realizada mediante agendamento prévio por telefone ou e-mail, com no mínimo uma semana de antecedência (ver serviço).

Distante 60 quilômetros da capital, a visita pode ser feita de terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas e, aos sábados, das 9 ao meio-dia. São aceitos grupos com até 40 pessoas e o público mais frequente são excursões de professores e alunos de escolas da rede pública e particular. “Muitos passeios terminam com as crianças plantando mudas de espécies nativas”, revela Patrícia.

Durante toda a estadia no núcleo, a equipe de monitores ambientais da Fundação Florestal acompanha os turistas. “Esses profissionais contam a história do local e atuam como educadores ambientais, destacando a importância da conservação dos recursos naturais e culturais brasileiros”, explica Patrícia.

Atrações ilimitadas

Em todos os roteiros do Núcleo Itutinga-Pilões, o visitante deve passar protetor solar e repelente contra insetos. São recomendadas também roupas leves, boné e calçados fechados para fazer caminhadas. A câmera fotográfica é fundamental para registrar as belezas infinitas do PESM, cujo visual mistura floresta com ar puro de montanha e atrai muitos observadores de aves e praticantes de esportes radicais (rafting, mountain bike, rapel), entre outros tipos de turistas.

Na sede, o público pode conhecer o Centro de Visitantes e a Oca do Curumim, atração infantil. Na sequência, visitar as ruínas da Vila Itutinga (hospital, cadeia velha, fábrica de doces e o casarão da vila), antiga morada de trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Itutinga. O próximo passeio são as trilhas do Rio Pilões (1,2 km, dificuldade baixa), da Usina (9 km, dificuldade alta), do Rio Passareúva (3 km, dificuldade média), do Lambari (1,7 km, dificuldade baixa), da Ferradura (1,5 km, dificuldade baixa) e do Laranjal (2 km, dificuldade média).

Na região da Vila de Paranapiacaba, ramal ferroviário construído pelo ingleses no alto da serra, próxima do município de Santo André, todas as trilhas têm dificuldade de nível médio: Vale do Rio Mogi (13 km), Cachoeira Escondida (4 km), Cachoeira da Fumaça (6 km) e Poço Formoso (4 km).


Desenvolvimento sustentável

O tecnólogo ambiental Nilton Peres divide as tarefas do Núcleo Itutinga-Pilões com Patrícia. Morador de Peruíbe e há oito anos no núcleo, ele é responsável pelo atendimento a cientistas interessados em pesquisar as milhares de espécies do PESM, cuja lista inclui várias ameaçadas de extinção, incluindo orquídeas raras e mamíferos como a onça-pintada e macacos mono-carvoeiro e bugio, entre outras.

“O maior felino das Américas tem hábitos noturnos e costuma evitar o contato com os humanos”, revela. “Entretanto, tive o privilégio de avistá-la pessoalmente muitas vezes, sem dizer os registros fotográficos feitos com as ‘traps cameras’ – máquinas fotográficas camufladas escondidas na mata para estudar a vida animal”, informa.

Nilton aposta na educação ambiental e no uso sustentável como caminhos para a preservação do PESM. Como exemplo, cita o trabalho constante de vigilância para combater a caça e a pesca ilegais, que dizimam as espécies polinizadoras e dispersoras de sementes, fundamentais para a perpetuação da vida no parque.

Apaixonado pelo parque, ele sugere no PESM a extração racional dos recursos da floresta nos mesmos moldes do extrativismo realizado na região norte com o açaí. “Diferentemente do corte da palmeira juçara para retirada do palmito, que mata a árvore, a coleta de seus frutos pode ser feita ao longo de toda a vida da espécie”, explicou. “Evita-se, assim, o desmatamento; e essa matéria-prima da floresta é ótima para produzir biscoitos, pão e farinhas”, ensina.

Serviço

Fundação Florestal
Parque Estadual da Serra do Mar (PESM)
Núcleo Itutinga-Pilões (agendamento de visitas)
Estrada Elias Zarzur, km 8, s/nº – Água Fria – Cubatão (SP)
E-mail pesm.itutinga@fflorestal.sp.gov.br
Telefone (13) 3361-8250

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/02/2016. (PDF)

Para educar (jogos on-line ensinam conceitos de educação, saúde, meio ambiente e cidadania)

Ex-alunos da Unesp, USP e IFSP criam sites de jogos, um novo modelo gerador de novos conhecimentos e negócios, de perfil tecnológico

Aproveitar o potencial de atração dos jogos eletrônicos na sociedade para transmitir, de modo lúdico e interativo, conceitos de educação, saúde, meio ambiente e cidadania. Esta é a proposta do Ludo Educa Jogossite de games gratuitos desenvolvido pela Aptor Software, empresa criada em 2005 por ex-alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

A Aptor Software é uma spin-off – termo que designa empresa originada na universidade ou centro de pesquisa, público ou privado, e provedora de serviços e produtos tecnológicos. Desde o ano 2000, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) investe nesse modelo gerador de novos conhecimentos e negócios, de perfil tecnológico.

Sediada em São Carlos, a Aptor Software nasceu como parceira do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fapesp. É uma das seis spin-off originadas no CMDMC, e emprega dez profissionais e mais 30 eventuais. Dos contratados, quatro são graduandos com bolsa de iniciação científica. A empresa também mantém vínculo com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

Concepção e projeto

O professor Élson Longo, diretor do CMDMC e docente do Instituto de Química (IQ) da Unesp de Araraquara, explica que o enredo e temática dos jogos educacionais são sugeridos e supervisionados pelos pesquisadores do CMDMC. E sempre abordam questões ligadas à cidadania e problemas comuns a muitos municípios brasileiros.

Segundo ele, os games cumprem com uma parte do dever de todo Cepid da Fapesp: desenvolver atividades de extensão universitária. São ferramentais de apoio em atividades educacionais e contribuem com a iniciação científica de alunos e professores do segundo grau. “Outro viés é auxiliar a preparação pré-vestibular, orientar a população sobre como combater a dengue, divulgar mensagens de cunho ambiental e sublinhar eventos ligados à sustentabilidade, entre outros”, analisa.

Vínculo acadêmico

Thiago Jabur, da Aptor Software, cursa doutorado na USP São Carlos e conta que tudo começou na graduação, quando foi bolsista de iniciação científica. Atualmente universitário de Ciências da Computação e fã de videogames desde a infância, identificou na época demanda por serviços para acompanhar eventos vinculados à comunidade acadêmica, como a criação de sites e bancos de dados para simpósios.

Além do serviço extracurricular prestado, Thiago dedicou parte da sua formação acadêmica ao estudo dos jogos educativos, área repleta de oportunidades e carente de profissionais com formação específica. Assim, com outros ex-colegas, fundou a empresa que mantém laços estreitos com as universidades públicas. Hoje, emprega na Aptor alunos com perfil semelhante ao seu. E comenta, sorrindo, que os “perde” para o mercado com frequência.

Rener Baffa da Silva, gerente de jogos da empresa, conta que o Ludo Educa Jogos já teve mais de 2 milhões de acessos desde o seu lançamento, em janeiro de 2010. “Como alguns games exigem cadastro, conseguimos aperfeiçoar sempre os jogos e conhecer a origem do público, formado na maioria por professores e alunos de todo o Brasil”, observa.

Bacharel em análise de sistemas, Rener informa que as melhores pontuações nos jogos dão direito aos campeões ter seus nomes publicados em rankings nacionais de cada jogo. O Ludo Educa Jogos também sorteia prêmios semanais, como pendrive de oito gigabytes (GB), para vencedores de concursos realizados pela página de fãs do serviço no Facebook.

Atacando a dengue

O site Ludo Educa Jogos disponibiliza 22 jogos on-line, com opções para públicos de todas as faixas etárias, a partir de quatro anos. Oferece partidas rápidas e casuais, disputadas com teclado e mouse em qualquer navegador com suporte à tecnologia Flash.

O combate à dengue é tema de cinco títulos. Nos jogos Palavras CruzadasMonta Palavras, a missão é digitar termos ligados à prevenção da doença. Em Proteja a Casa, o cursor do mouse ajuda a pulverizar ambientes e a evitar a proliferação do Aedes aegypti. Em Contra Dengue, passatempo no estilo Super Mario, é preciso dar raquetadas nos mosquitos. E no Jogo dos 7 Erros, ao comparar duas imagens, o jogador visualiza situações explícitas de prevenção, como evitar acumular água parada em vasos de flores e em quaisquer recipientes.

Salvando o planeta

Preservação e educação ambiental são motes de Pesque e Salve, jogo criado para celebrar a Conferência Rio +20. O desafio é despoluir um rio e incentivar a pesca esportiva, com a soltura dos peixes depois de serem fisgados. Já o Basquete Reciclável favorece o descarte ambiental correto de vidro, plástico, papel e metal.

Chemical Sudoku é uma releitura do puzzle japonês de lógica, com elementos químicos da tabela periódica substituindo os números. Sustentabilidade é um jogo de memória tradicional, usando elementos como a reciclagem de lixo. Fechando a lista, Half na Floresta é voltado à preservação de espécies ameaçadas de extinção. Trata-se de uma versão de Pitfall, título clássico dos videogames e precursor do estilo plataforma.

Alfabetização interativa

A educação é tema da série Ludo Educativo, subdividida em quatro níveis. A primeira opção, chamada Ludo Ação, é direcionada para o primeiro ciclo do ensino fundamental. Na sequência, vem o Ludo Radical, destinado ao segundo ciclo do fundamental. Depois, há o Ludo Vestibular, com a proposta de auxiliar o estudante do ensino médio a se preparar para os exames de ingresso na universidade. E, por fim, o Ludo Quântico, criado em 2011 para celebrar o Ano Internacional da Química, que aborda a química quântica de modo descontraído e divertido.

Serviço

Ludo Educa Jogos

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/07/2012. (PDF)

Uso sustentável é a estratégia da Cesp para preservar o meio ambiente

Ações permanentes incluem manejo da fauna e flora, centros de conservação, reflorestamento ciliar, educação ambiental e remanejamento populacional

A Companhia Energética de São Paulo (Cesp), maior produtora de eletricidade do Estado, investe no uso sustentável do meio ambiente como alternativa para a geração limpa e renovável de eletricidade. A companhia foi criada em dezembro de 1966, a partir da fusão de 11 empresas geradoras de eletricidade. Dispõe de seis usinas hidrelétricas localizadas em pontos estratégicos do território paulista – todas importantes para a operação do Sistema Interligado Nacional, que responde por mais de 95% da produção de eletricidade do País.

Três usinas da Cesp estão instaladas ao longo do Rio Paraná, nos municípios de Ilha Solteira, Castilho (Usina Engenheiro Souza Dias – Jupiá) e Porto Primavera (Usina Engenheiro Sérgio Motta). Outra situa-se no Rio Tietê, em Pereira Barreto (Usina Três Irmãos), e outras duas estão no sul do Vale do Paraíba, nas cidades de Paraibuna e São José dos Campos (Jaguari).

Segundo os técnicos da Cesp, a hidrografia e o relevo brasileiros são favoráveis à construção das hidrelétricas. O processo de geração de energia a partir do represamento de rios e construção de barragens é o mais barato e com menor potencial de impacto ambiental em comparação com outras formas de produção de energia elétrica, como as usinas nucleares e termoelétricas. Essa vantagem natural foi considerada na construção das barragens no século passado, assim como o investimento pioneiro da Cesp na preservação do meio ambiente, cujas ações se anteciparam à atual legislação ambiental criada em 1986.

Modelo sustentável

Sílvio Areco Gomes, diretor de geração oeste, afirma que a consciência ambiental é um valor existente na empresa desde a sua criação – e os locais de instalação das usinas foram escolhidos com critério. “Antes do início das obras, foram realizados estudos sobre medidas de preservação da fauna e flora, reflorestamento de áreas vizinhas às inundações, piscicultura, reassentamento e estímulo socioeconômico para ribeirinhos e atividades permanentes de educação ambiental para professores e alunos”, observa.

Gomes ressalta que o modelo sustentável de gestão também compreende investimentos contínuos na melhoria de processos em todas as unidades e serviços prestados pela empresa. As atividades incluem destinação adequada de resíduos, coleta seletiva e separação de materiais para reciclagem (papel, estopa, óleo, vidro) e tratamento de esgoto.

Além da geração de energia para abastecer indústrias e residências brasileiras, Gomes aponta outros benefícios à sociedade: nos períodos de seca, a Cesp diminui a vazão na hidrelétrica e previne o desabastecimento; nos regimes de chuvas intensas, os reservatórios acumulam os volumes excedentes de água e evitam enchentes. Por fim, lembra que as barragens também possibilitam ampliar redes de distribuição de água e de sistemas de tratamento de esgoto.

Atividades permanentes

René Catherino, assessor da diretoria de geração oeste, afirma que a política ambiental da Cesp é baseada em cinco princípios: incorporar variáveis ambientais às políticas e diretrizes da empresa; respeitar a lei estadual; preservar recursos naturais, buscando reduzir os poluentes; estimular a melhoria contínua dos processos da empresa e criar e manter programas de desenvolvimento sustentável.

Catherino destaca seis atividades ambientais permanentes: o manejo pesqueiro, as unidades de conservação, o reflorestamento ciliar, o manejo da fauna, o remanejamento populacional e a educação ambiental.

O manejo pesqueiro é realizado nas usinas de Jupiá, com espécies nativas do Rio Paraná, e também em Paraibuna, com variedades do Vale do Paraíba. Essa atividade já devolveu à natureza 85 milhões de alevinos. As unidades de conservação da Cesp são três e totalizam 90 mil hectares. Ficam localizadas em terrenos vizinhos do ponto de captação de água das usinas.

São locais impactados pelo alagamento e desapropriação de áreas para a construção de hidrelétricas, como o entorno da Usina de Porto Primavera. Duas unidades ficam em Mato Grosso do Sul e outra no território paulista, sendo que a Cesp comprou esses terrenos e cumpriu as obrigações legais de preservação e reflorestamento, de modo a reaproximar ao máximo as características do relevo original.

Além das unidades de conservação, a Cesp também criou parques estaduais nos locais impactados. O maior deles é o das várzeas do Rio Ivinhema. Tem 73 mil hectares e fica localizado na região do município de Naviraí (MS). Há também o Parque Estadual do Rio do Peixe, em Dracena, e o Parque Estadual do Rio Aguapeí, em Andradina, ambos com 8 mil hectares, no oeste paulista.

O trabalho de preservação também contempla iniciativas especiais, como o Programa de Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPNs). São duas propriedades rurais vizinhas das usinas conservadas pela Cesp: a reserva Foz do Aguapeí, com 15,9 mil hectares, em Castilho, e a Fazenda Cisalpina, com 6,3 mil hectares, em Brasilândia (MS).

Milton Estrela, gerente do departamento de meio ambiente, salienta que o fomento florestal é uma atividade realizada em parceria com proprietários rurais vizinhos do reservatório e consiste na doação de mudas de árvores produzidas pela Cesp para os fazendeiros reflorestarem seus terrenos. Essa iniciativa plantou 15 milhões de mudas em 8 mil hectares de áreas somadas ao redor dos reservatórios.

Estrela também destaca o reflorestamento ciliar, atividade realizada nos reservatórios. Consiste em recompor as matas originais que margeavam os rios utilizados para geração de energia. Desde o início do trabalho, a Cesp replantou 15 milhões de árvores – área total superior a 8 mil hectares. Na Bacia do Rio Paraíba, na Usina Jaguari, a restituição chegou a 105 hectares; e 2,35 mil na Usina Paraibuna. No Rio Paraná, o cinturão verde se estende 670 hectares na hidrelétrica Porto Primavera e mais 2,9 mil na de Três Irmãos.

A criação de animais e vegetais nos centros de manejo da fauna e flora da Cesp visa objetivos específicos, como a preservação das espécies e a reintrodução na natureza dos indivíduos criados em cativeiro. Uma das necessidades foi a de constituir um germoplasma: acervo genético de cada espécie contendo um volume de exemplares capaz de contemplar a diversidade de características de cada variedade.

Desse modo, ampliam-se as possibilidades de sobrevivência e de reprodução dos indivíduos reinseridos na natureza. Em Ilha Solteira, são criadas 50 espécies de aves, répteis e mamíferos; em Paraibuna, são criadas nove espécies de aves, seis de peixes e 152 árvores nativas da mata atlântica e, em Promissão, há um centro exclusivo para o cervo-do-pantanal.

O biólogo João Henrique Pinheiro Dias, gerente de divisão da restauração e manutenção de ecossistemas, ressalta que essas criações não têm viés empresarial – somente preservacionista. Ele observa que a formação de um acervo genético é um processo lento, abrange estudos aprofundados das características de cada espécie e também a captura e recebimentos de exemplares provenientes de outros locais.

“É diferente da criação comercial, que reforça algumas características de apelo comercial nos indivíduos. O objetivo do trabalho nos centros de criação é produzir e soltar na natureza exemplares capazes de se reproduzirem. Por esse motivo, é necessário possuir grande variedade de exemplares com variedade genética de cada espécie, capaz de aumentar as chances de sucesso do repovoamento”, observa o biólogo.

Dias complementa dizendo que todos os trabalhos de preservação e estudos são favorecidos por convênios e termos de cooperação técnico-cientifica mantidos pela Cesp com instituições de pesquisa como Unesp, Embrapa, USP e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Ele afirma que uma das novidades do setor é a avaliação do potencial de cada serviço ambiental prestado pela empresa, como moeda para venda de créditos de carbono, uma das medidas adotada pelos 179 países signatários do Protocolo de Kyoto para conter o aquecimento global.

Educação ambiental

A educação ambiental é um dos cartões de visita da empresa. Nos centros de conservação e parques, há programas de visitas monitoradas para crianças e cursos de formação para professores e de monitores mirins. Nessa iniciativa, destacam-se o barco Água Vermelha e o ônibus de educação ambiental, utilizados nos programas e em festivais regionais.

A coordenadora pedagógica Edislene Zidioti Ferreira, da Emef Profa. Anna dos Santos de Barros, de Araçatuba, aprova a iniciativa de educação ambiental da Cesp. Ela lembra com satisfação da série de atividades iniciadas em fevereiro de 2006, que se estenderam até o final do ano passado, que incluíram o treinamento de 40 educadores (20 coordenadores pedagógicos e 20 professores) para agirem como agentes multiplicadores dos 570 professores da rede pública municipal de ensino.

Edislene considerou de boa qualidade o material didático (mapas, livros e folhetos) fornecido pelas três biólogas da Cesp. Ela sublinha a importância da discussão de questões ambientais de âmbito municipal, como a coleta seletiva de lixo e o tratamento de água e esgoto. “O trabalho foi complementado com o uso do barco e do ônibus-escola e, também, com as visitas monitoradas no parque ecológico da cidade e à Usina de Jupiá, distante 180 quilômetros de Araçatuba”, relembra.


Ameaça estrangeira: o mexilhão dourado

Em 1991, na Bacia do Rio da Prata, na Argentina, foi detectada a presença do mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) – espécie de molusco de água doce originária dos rios do sudeste asiático. Os exemplares adultos e as larvas vieram incrustados em barcos e também em equipamentos de pesca e imersos em resíduos de água acumulados nas frestas e cantos das embarcações.

Embora seja um animal sem mobilidade, o mexilhão dourado conseguiu avançar em média 240 quilômetros a cada ano, devido à dispersão humana. No Brasil, em 1999, foi encontrado pela vez no Rio Guaíba, no município de Viamão (RS). Ainda sem predadores naturais nos rios latino-americanos, a espécie exótica está presente nos rios Guaíba, Paraguai e Paraná e no Pantanal. Vive em colônias e tem enorme potencial reprodutivo – na idade adulta tem tamanho médio de 4 centímetros.

Em 1999, na Usina de Porto Primavera a Cesp detectou pela primeira vez a presença do mexilhão dourado. Além do desequilíbrio causado na cadeia alimentar, por disputar alimentos e ter melhores condições de sobrevivência do que as espécies nativas, o mexilhão dourado é prejudicial também para a geração de energia. Suas colônias prejudicam a captação e o fluxo de água nas usinas – ele gruda no interior de dutos, comportas e grades – e se não for retirado pode interromper a geração de eletricidade.

No mesmo ano, para diminuir o efeito dessa invasão nas suas usinas, a Cesp instituiu o Programa de Manejo e Controle do Mexilhão Dourado – um trabalho permanente realizado pelas áreas de meio ambiente e de geração de energia. O know-how adquirido motivou, em 2004, uma solicitação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), para que a Cesp assumisse e coordenasse uma força-tarefa nacional para o controle do animal.

A principal medida adotada pela Cesp é a limpeza periódica, com a remoção mecânica e a distinção adequada dos resíduos da infestação, praticada nas manutenções preventivas dos equipamentos. Outra decisão foi o desenvolvimento de uma solução anti-incrustante criada por um fabricante nacional de tintas – que está em fase de testes. Além disso, o principal complemento são ações de educação ambiental direcionadas aos moradores das regiões dos rios e também aos pescadores, pois o homem é o grande vetor de dispersão do molusco.

A desinfecção de barcos e equipamentos de pesca é simples. Começa com a remoção completa de toda a água acumulada nas frestas dos barcos. Depois, deve ser pulverizada com uma solução contendo uma colher de sopa de água sanitária dissolvida por litro de água em todos os locais do barco. No site da Cesp, vídeos explicativos apresentam passo-a-passo todos os procedimentos preventivos.

Reconhecimento internacional

O trabalho de controle do mexilhão dourado foi apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente numa reunião realizada no ano de 2004, em Londres, pelo órgão que cuida de águas marinhas internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU). A apresentação foi bem recebida e motivou a indicação da Cesp a ser uma das fontes mundiais sobre o controle do mexilhão dourado – e o trabalho foi condensado em um documentário produzido pela BBC de Londres na Usina de Porto Primavera. O filme foi exibido e está disponível para interessados mediante solicitação à Cesp.


Ações da Cesp
Atividades Número de pessoas atendidas
Passeio educacional com o barco Água Vermelha 43,4 mil
Ônibus de educação ambiental 51,7 mil
Cursos de educação ambiental para professor do ensino médio 1,1 mil
Visitas ao Centro de Conservação de Fauna em Ilha Solteira 150 mil
Curso de formação de monitor mirim ambiental 355
Formação de guia de pesca esportiva e ecoturismo 550

Palestras
Tema Número de pessoas atendidas
Realocação de fauna para moradores do entorno das usinas 4 mil
Soltura de alevinos 3,6 mil
Água 6,5 mil
Cidadania e meio ambiente 10,4 mil
Programas ambientais da Cesp 1,8 mil
Reflorestamento 800
Controle do mexilhão dourado 10 mil

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/04/2007. (PDF)