Soluções inovadoras e inteligentes – Ainda dá tempo de visitar a 12ª Febrace

Com entrada franca, feira na Poli-USP acaba hoje, às 19 horas; em exposição, 331 trabalhos científicos de alunos do ensino básico, médio e técnico de todo o País

Hoje é o último dia para conferir no estacionamento da Escola Politécnica (Poli) da USP, as invenções e novidades da 12ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), a maior do gênero da América Latina. O evento, que começou no dia 18, é organizado pelo Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP (LSI-Poli).

Nesta edição, a Febrace apresenta 331 projetos de estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de todo o País. Os trabalhos – apresentados anteriormente em feiras afiliadas realizadas em território nacional – foram selecionados entre 1,8 mil inscritos e concorrem a 200 prêmios em sete categorias: Ciências Exatas e da Terra; Biológicas; Saúde; Agrárias; Sociais Aplicadas; Humanas; e Engenharia.

Amanhã e sábado a comissão julgadora da Febrace anunciará os nomes dos vencedores. Os trabalhos mais bem avaliados ganharão troféus e medalhas; e seus autores serão contemplados com bolsas de estudo e oportunidades para estágios. Além disso, concorrerão a uma das nove vagas reservadas para o Brasil na Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel (Intel ISEF), que neste ano ocorrerá de 11 a 16 de maio, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O País já tem 34 premiações nessa feira.

O ninho da ciência

Segundo a professora Roseli de Deus Lopes, da Poli-USP, coordenadora da Febrace, a feira abre espaço para o surgimento de talentos para a ciência nacional, provenientes de todas as regiões brasileiras. Ao longo dos três dias do evento, os alunos apresentam seus projetos para os visitantes e se aproximam de colegas e professores de outras localidades, ampliando assim a rede de contatos profissionais.

Aprendem também sobre como obter recursos nos principais órgãos de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico disponíveis, como Capes, CNPq e Fapesp. “Iniciação científica é fundamental para formar novos quadros para as universidades. Ela também colabora para o surgimento de novos negócios, a partir de soluções inovadoras criadas em salas de aula e laboratórios escolares”, observa Roseli.

Etecs paulistas: presente!

Dos 331 projetos em exposição na Febrace, 27 foram desenvolvidos por alunos de 13 Escolas Técnicas Estaduais (Etecs). Os trabalhos classificados são de Etecs das cidades de Franca (6), Itanhaém (1), Jacareí (1), Limeira (4), Monte Mor (1), Osasco (1), Piedade (2), Ribeirão Pires (3), Santa Bárbara D’Oeste (1), São Paulo (4) e Suzano (3).

As Etecs são mantidas pelo Centro Paula Souza, entidade vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Atualmente, há 214 delas distribuídas em 157 municípios paulistas.

Nem fogo nem água

A estudante Natyeli Silva, do curso técnico de Curtimento, da Etec Professor Carmelino Corrêa Júnior, de Franca, desenvolveu um novo modelo de botas para uso do Corpo de Bombeiros. Quatro vezes mais barato que o calçado convencional, tem solado e revestimento de couros especiais, pois impedem que o material incendeie se exposto a chamas. Além disso, também repele a água, mantendo seco os pés do agente em ocorrências com incêndios e ambientes alagados.

A ideia do Equipamento de Proteção Individual (EPI) foi da professora Joana D’Arc de Souza, da disciplina de Couros e Peles. Docente do único curso técnico de Curtimento disponível no Estado de São Paulo, ela conta que a ideia surgiu depois que um policial, pai de uma amiga, teve um pé de coturno incinerado por uma brasa em uma situação de combate ao fogo. A docente, então, apresentou a ideia para Natyeli, que, em um ano, conseguiu produzir alguns pares ao custo de R$ 60, cada um.

De acordo com a estudante e sua orientadora, as propriedades do couro ignificado (anti-inflamável) e hidrofugado (impermeabilidade) foram comprovadas em estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Natyeli é filha de uma coladeira e de um pespontador, ambos operários do polo calçadista de Franca. Ela se dedicou ao trabalho com mais um desafio incluído no projeto: retirar do processo de fabricação do couro dois elementos poluentes, o isopor e as aparas do tipo wet-blue. “O próximo passo será desenvolver, até o final do curso, uma roupa antichama”, disse a estudante, orgulhosa.

Tijolo ecológico

Em Ribeirão Pires, a dupla Fabrício Luciano e Willians Zaguini, do curso técnico em Química, dedicou dois semestres no desenvolvimento do seu projeto na Etec local. Objetivo: criar uma mistura para produzir tijolos à base de materiais baratos, recicláveis e comumente descartados. O estudo foi orientado pelo professor Carlos Barreiro e a dupla desenvolveu, de modo artesanal, um protótipo utilizando jornal e gesso, com preço de custo unitário de R$ 0,06, valor bem inferior aos R$ 0,25 cobrados por um similar convencional.

Fabrício submeteu o produto a testes físicos de resistência, rigidez e de compactação. Ele conta que seu “tijolo ecológico” está em conformidade com as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT – NBR). Segundo ele, já é possível usá-lo com cimento em construções internas. O próximo passo é fazer novas avaliações com exposição do material a fenômenos naturais (sol, chuva, umidade, etc.). Depois, o produto será encaminhado para testes no IPT e, finalmente, patenteado.

Cartografia descomplicada

Na Etec Monte Mor, o professor Roney Caum propôs um desafio à sua classe do ensino médio: identificar os nomes dos 26 Estados brasileiros e do Distrito Federal em um mapa do Brasil sem os nomes das unidades territoriais. Ninguém conseguiu acertar 100%. Um tempo depois, o docente repetiu a experiência, acrescentando dicas curtas sobre cada uma das unidades da Federação – e o total de respostas correta aumentou.

Desafiados pela proposta do educador, os estudantes Éverton dos Anjos e Letícia Montezel se dispuseram a produzir uma ferramenta pedagógica para ajudar a combater essa defasagem no ensino de Geografia. A proposta incluía auxiliar, de modo lúdico, o aluno a identificar os Estados brasileiros e a localizar, a partir de coordenadas cartográficas, onde se encontram atualmente no mapa do País.

Batizada de Geografia Divertida, a iniciativa exigiu um ano e meio de trabalho – e incluiu a criação de 27 fichas com 12 dicas, a partir da coleta de dados de fontes confiáveis na internet sobre os 26 Estados e o Distrito Federal. O passo seguinte foi elaborar questionários e um jogo, com tabuleiro inspirado no tradicional War, para executar o projeto. A experiência foi, então, feita com 240 alunos do ensino fundamental II da cidade com resultados satisfatórios – e, novamente, na segunda etapa, os acertos também foram maiores.

Para Éverton e Letícia, a experiência comprovou a necessidade de serem repensados os modelos pedagógicos tradicionais – e adaptá-los para a geração atual de estudantes, que recebem grande volume de informações, de diferentes fontes e em menor tempo, sem conseguir reter muitos conteúdos.

A propriedade intelectual da ferramenta desenvolvida foi cedida à Etec. Os estudantes esperam que colegas de turmas seguintes aprimorem ainda mais a ferramenta. “O segredo é induzir cada participante a aprender mais para vencer as partidas”, observam.

Sabor prolongado

Encontrar uma opção saudável de lanche rápido para substituir refeições calóricas e pobres em nutrientes adotadas por grande parte da população. Com essa proposta em mente, as estudantes de Química Mariana Barnett e Larissa Careca, da Etec Getúlio Vargas, da capital, desenvolveram uma emulsão comestível (biofilme) capaz de retardar a oxidação e a degradação natural de pedaços de banana e de maçã.

O trabalho com o produto orgânico foi orientado pelo professor Fernando dos Santos e testado com sucesso em familiares das garotas. “Ninguém passou mal depois que comeu”, disseram, brincando. Produzido com fécula de mandioca e cera de abelha, o biofilme não altera o aspecto e o paladar das frutas, fontes naturais de minerais e vitaminas.

A ideia é permitir, por exemplo, que um estudante ou uma criança leve na mochila ou lancheira as frutas embaladas pelo biofilme em um pote plástico para comer na hora do intervalo escolar. Assim, deixariam de comprar um salgado, hambúrguer ou pão de queijo na cantina escolar.

De acordo com as adolescentes, um pedaço de fruta revestido pelo filme e armazenado em um pote na geladeira tem suas características nutricionais inalteradas por sete dias. Fora do refrigerador, dura até quatro dias. “Pesquisamos a fundo os ingredientes possíveis para produzir a emulsão e descobrimos que não existe no mercado nenhum produto com as características do nosso protótipo”, revelam confiantes.

Peça pelo número

Permitir a um idoso, criança ou pessoa com deficiência comandar por voz, com segurança e sem contato físico, um elevador. Essa foi a missão proposta e executada pelo trio de estudantes Carlos Teixeira, Matheus Schimidt e Mark Schall, do curso de Eletroeletrônica da Etec Professora Doutora Quiomi Kanashiro Toyohara, de Pirituba, zona oeste da capital.

Com a supervisão dos professores Iverson Machado e Saulo Yokoo, o grupo criou um protótipo de elevador completo. O equipamento possui sistema de computação embarcado e autônomo, contendo hardware (chips, placas, microcontroladores e circuitos) e software (programas de computação para controlar o dispositivo) exclusivos e desenvolvidos sob medida.

O protótipo do elevador tem recursos de captura e de processamento da voz do usuário – depois do comando dado no microfone, o som é convertido instantaneamente em sinais digitais e dá instruções para subir ou descer. Se preferir, o usuário pode acionar os comandos por botões no painel, que possui também um sensor para detectar a presença de pessoas ou objetos e tem suas operações sinalizadas por lâmpadas de LED piscantes.

Testado com sucesso, seus criadores pretendem patentear a invenção. Eles explicam que o conceito do sistema pode ser reaproveitado em outras aplicações em uma casa totalmente inteligente e automatizada. Com algumas alterações, permitiria, por exemplo, substituir interruptores de luz, chuveiros, portões e eletrodomésticos.

Serviço

A Febrace está montada em uma tenda no estacionamento da Escola Politécnica da USP – Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, nº 380 – Butantã. A entrada é franca.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/03/2014. (PDF)

São Paulo dobra oferta de vagas no ensino médio e técnico desde 2006

Oferta paulista de vagas supera a de todos outros Estados brasileiros; orçamento do setor ultrapassou R$ 1 bilhão em 2009

Nos últimos três anos cresceu em mais de 100% a oferta de vagas para o ensino médio e técnico profissionalizante oferecida em todo o Estado pelo Centro Paula Souza, da Secretaria Estadual do Desenvolvimento. Desde 2007, o governo paulista triplicou os recursos investidos no setor – em 2009, o orçamento ultrapassou R$ 1 bilhão – e a quantidade de vagas saltou de 25,5 mil no segundo semestre de 2006 para 82,3 mil no mesmo período de 2010.

O número de matriculados nas Etecs (Escola Técnica Estadual) também cresceu. Saltou de 96,4 mil no segundo semestre de 2006 para 154,6 mil no segundo semestre de 2009. Hoje, as 179 unidades estão distribuídas em 132 dos 645 municípios paulistas e oferecem 86 opções de cursos em todas as áreas do conhecimento. A lista completa está disponível no site do Centro Paula Souza e a duração de cada curso varia entre um ano e meio e dois anos. Todas as disciplinas são semestrais.

As Etecs ministram ensino médio e técnico, que pode ser feito simultaneamente a partir do segundo ano do ensino médio ou após a conclusão deste ciclo. Para estudar em escola técnica, o interessado precisa ter ensino fundamental completo e passar no Vestibulinho – processo seletivo realizado todos os semestres. A maioria dos cursos é oferecida no período noturno, para permitir aos alunos trabalhar.

De olho no mercado

De acordo com o professor Almério Araújo, coordenador de ensino médio e técnico do Centro Paula Souza, a oferta paulista de cursos técnicos supera a de todos outros Estados brasileiros. A principal função deles é formar rápido profissionais para atender à economia do Estado, de perfil dinâmico e diversificado.

Muitos cursos são vinculados aos Arranjos Produtivos Locais (APLs), como por exemplo, em Franca, cidade ligada à produção de sapatos e seu curso correspondente para formar técnicos em calçados.

O professor Almério Araújo prevê que, num futuro próximo, São Paulo poderá universalizar o ensino técnico em todas as suas regiões. Para atingir esta meta, será preciso dobrar o atual volume de 300 mil matrículas e perfazer 30% do total de todas as vagas oferecidas para o ensino médio na rede pública e privada.

Mais emprego

Uma das estratégias adotadas pelo Centro Paula Souza é recapacitar professores, ao término de cada semestre, com diversas atividades. Outra é revisar constantemente os currículos dos cursos técnicos para sempre mantê-los próximos das necessidades do mercado de trabalho. De acordo com o Sistema de Avaliação Institucional (SAI) de 2008 e 2009, 77% dos ex-alunos conseguem inserção profissional um ano após tirar o diploma.

“Na prática, o diploma do curso técnico acaba sendo um antídoto contra o desemprego, em especial para a população na faixa etária de 16 a 25 anos, a mais exposta ao problema no Brasil e de quem é cobrada experiência profissional”, explica o professor Almério. “Outro fator a ser considerado é a maior demanda do mercado de trabalho por técnicos do que por profissionais de nível superior”, analisa.

Escola da vida

“Problemas de indisciplina são raros nas Etecs. A maioria dos alunos tem origem humilde, estudou em escola pública e vêm de família cuja renda não ultrapassa cinco salários mínimos. São, porém, jovens exigentes, necessitados de trabalhar desde a adolescência. E o curso técnico acaba por abrir portas na carreira profissional”, avalia o professor Almério.

Por preparar o estudante para trabalhar em qualquer atividade econômica, o curso de Administração é oferecido em todas as Etecs. De perfil generalista, o currículo inclui noções de Marketing, Direito, Gestão Empresarial, Economia, Inglês e Informática, e capacita o aluno a trabalhar em qualquer área, até mesmo em pequenos municípios com poucas opções de emprego.

A formação contempla ocupações tradicionais como comércio, hotelaria e bancos, e também empresas de pequeno, médio e grande portes, como usinas de cana e fabricantes de carros e aviões.


Antes cadeia, hoje Etec

A Escola Técnica (Etec) Parque da Juventude foi criada em março de 2007, após a implosão do presídio do Carandiru. Localizada na zona norte da capital, próxima à estação do Metrô e vizinha do Parque público de mesmo nome, a unidade oferece 1,5 mil vagas: 600 para o ensino médio e 900 distribuídas em cinco cursos técnicos e três de educação a distância (Telecurso TEC).

A professora Márcia Loduca é diretora da Etec Parque da Juventude desde a fundação. A escola dispõe de serviços especiais, como um posto do programa Acessa São Paulo, de internet gratuita para a população, instalado nas suas dependências. E ainda dois ambientes conhecidos como Estação do Conhecimento.

Tratam-se de laboratórios multimídia doados pela Fundação Volkswagen que servem como extensão da sala da aula e também ponto de encontro dos estudantes na hora do intervalo. O espaço possui área de estudos com mesas e cadeiras e acomodações de lazer – sofá, pufes e coleções de livros, DVDs, revistas e equipamentos para pesquisa.

A diretora Márcia não poupa elogios aos alunos e sublinha a dedicação de funcionários e corpo docente como diferencial das Etecs. Ela lembra que professores são contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas, além disso, para integrar o quadro da instituição, o candidato passa por concurso público com prova oral e escrita. E para ser efetivado, precisa também ser aprovado pelos futuros colegas.

“O ensino técnico teve início na década de 1930 e surgiu com a proposta inicial de atender aos filhos de trabalhadores. Era uma opção secundária de instrução, para quem não fosse proveniente da elite. Hoje, transformou-se em sinônimo de qualidade e dá chance para alunos e professores explorarem todas suas potencialidades”, afirma Márcia.

Dedicação integral

O aluno Janarelli Cunha, 17 anos, mora na Vila Madalena, zona oeste da capital, e há três anos passa a maior parte de seu tempo na Etec Parque da Juventude. De manhã, das 8 às 12h30, cursa o ensino médio, e à tarde, das 13 horas às 17h30, faz curso de Técnico em Administração. É aluno da primeira turma nos dois cursos em que está matriculado e no final do ano prestará vestibular para a faculdade de Administração.

Embora resida em local próximo de duas outras Etecs, Janarelli diz não trocar a Parque da Juventude por nenhuma instituição de ensino particular ou pública. Valoriza, segundo ele, a qualidade do ensino e a solidariedade existente entre professores e estudantes de diferentes séries. Lembra também que pratica esportes no Parque vizinho desde a sua criação e hoje tem a satisfação de estudar na escola com muitos ex-colegas de cursinho.

Sonho realizado

Sara de Oliveira, 32 anos, é caloura do curso de Enfermagem e mãe de dois filhos, de 12 e 13 anos. Quando engravidou do primeiro, só havia concluído o ensino fundamental e abandonou o estudo para trabalhar com produção de moda, na área de crochê. Ela nasceu e sempre morou no Laranjeiras, bairro da zona leste da capital.

Apoiada pelos filhos, há dois anos terminou o supletivo e estudou com afinco para o vestibulinho da Etec. O esforço compensou e ela conseguiu ser aprovada já na primeira tentativa. “Esta é minha primeira semana de aula e já consegui realizar parte do meu sonho de infância. O próximo passo agora é terminar o técnico e prestar novo concurso. Desejo trabalhar no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no resgate de vítimas”, diz orgulhosa.


Matrículas nas Etecs
2º Semestre de 2006 72.831
1º Semestre de 2007 77.360
2º Semestre de 2007 77.991
1º Semestre de 2008 87.918
2º Semestre de 2008 92.787
1º Semestre de 2009 103.212
2º Semestre de 2009 115.529

Fonte: Grupo de Comunicação do Centro Paula Souza


Evolução das unidades
Ano Etec
2006 126
2007 138
2008 151
2009 179
2010 (previsão) 203

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/03/2010. (PDF)

Programa Ação Jovem da Seads já atendeu 156 mil jovens carentes

Auxílio mensal incentiva estudante de 15 a 24 anos a retomar estudo e a concluir ensino básico ou profissionalizante

O Programa Ação Jovem, da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Seads), chega a seu quarto ano com a marca de 156 mil jovens atendidos e presença em 638 dos 645 municípios paulistas. O programa foi criado em junho de 2004 com o objetivo de transferir renda e auxiliar jovens carentes a concluir sua escolaridade básica.

Sua prioridade é atender ao estudante cuja renda familiar seja inferior a dois salários mínimos, pertencente à faixa etária entre 15 e 24 anos, com estudos incompletos e que resida em locais de alta vulnerabilidade social e concentração de pobreza. Depois de cadastrado, o jovem passa a receber bolsa-auxílio mensal de R$ 60 pelo período de 12 meses, sendo possível solicitar a prorrogação do benefício por mais um ano.

O pagamento é condicionado à frequência mínima bimestral de 75% nas aulas, no ensino fundamental, médio ou técnico. As listas com as presenças dos alunos são encaminhadas para a Seads pelos municípios e pela Secretaria de Estado da Educação (SEE). A meta primordial é permitir ao participante que conclua seus estudos. Com isso, espera-se ampliar suas chances de exercer a cidadania, ingressar ou permanecer no mercado de trabalho.

O controle de pagamentos do programa é feito por um sistema informatizado da Seads chamado Pró-Social. A ferramenta eletrônica informa para a secretaria e para as prefeituras quais foram os saques dos benefícios. Outro recurso é o sistema de gerenciamento do Ação Jovem, que funciona em conjunto com o Pró-Social e emite relatórios sobre a evolução do recebimentos da bolsa de cada um dos estudantes.

Pesquisa de avaliação realizada em 2006 pela Fundação Itaú Social, com apoio do Instituto Sensus, mostrou que o Ação Jovem aumentou significativamente a aprovação escolar dos beneficiários, além de torná-los mais aplicados.

Parcerias e inscrições

O Programa Ação Jovem é uma parceria da Seads com as prefeituras, SEE, Secretaria Estadual de Desenvolvimento, Centro Paula Souza – responsáveis pelas escolas técnicas profissionalizantes –, entidades sociais e empresas. O interessado em participar pode obter informações e fazer sua inscrição nos órgãos municipais de assistência social ou na própria escola em que estuda.

Para requerer o benefício é preciso preencher ficha cadastral, entregar declaração de matrícula, cópias do RG do estudante e de seus pais e comprovantes de residência e de renda. O pagamento é feito por meio de cartão magnético e o dinheiro fica disponível para saque entre os dias 20 e 30 de cada mês, nas agências e postos credenciados do Banco Nossa Caixa, agente financeiro do Estado.

A bolsa oferecida pelo programa não impede a participação do jovem, de seus pais e irmãos, em outros projetos assistenciais mantidos pelo poderes público municipal, estadual e federal. Assim, em uma família carente, dois filhos podem solicitar o benefício. A única proibição para o estudante é receber outro auxílio assistencial com a finalidade de concluir sua escolaridade, principal motivação do Ação Jovem.

Nova perspectiva

A assistente social e coordenadora do Programa Ação Jovem, Rosemare Silva Gonçalves, conta que a iniciativa surgiu a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2002. Os números indicavam que grande parte de jovens no Estado de São Paulo estava impossibilitada de estudar porque precisava trabalhar.

O programa surgiu então com a proposta de oferecer nova perspectiva para pessoas de 15 a 24 anos, e brecar um ciclo de exclusão social que se repetia por várias gerações. “A intenção inicial era atender ao jovem que se torna pai ou mãe muito cedo e interrompe o estudo para cuidar dos filhos”, explica Rosemare.

Em 2004 foi realizada a primeira experiência do programa, dirigida somente a alunos do ensino fundamental. O local escolhido foi a capital e a iniciativa teve o apoio de 11 entidades sociais cadastradas na Seads. O teste foi bem aceito, e a secretaria recebeu inúmeros pedidos de bolsas direcionadas também para o ensino médio ou profissionalizante.

Em julho de 2005, a reivindicação foi atendida e um decreto estadual ampliou a abrangência do Ação Jovem, que foi estendido, na sequência, para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Em seguida, sucessivamente, alcançou as regiões metropolitanas de Campinas e da Baixada Santista e as demais cidades paulistas. No mesmo ano, a iniciativa entrou na lista de 47 programas prioritários do governo, sendo até um dos oito finalistas do Prêmio Mario Covas.

Ação integrada

Rosemare avalia que o programa ganha força e relevância quando recebe o apoio de comunidades, governo, empresas, entidades religiosas e organizações não-governamentais (ONGs). Um exemplo são as parcerias firmadas com o Projeto Itaú Social e com a Fomento Econômico Mexicano S.A. (Femsa), fabricante e distribuidora da Coca-Cola na América Latina. Por meio delas, as empresas se responsabilizam por oferecer cursos profissionalizantes para os estudantes carentes cadastrados na Seads.

Jovens Urbanos, curso oferecido pelo Projeto Itaú Social, atende 480 estudantes a cada ano. A primeira iniciativa foi realizada nos bairros de Manguinhos e Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e a segunda, em São Paulo, nos bairros de Brasilândia e Campo Limpo, na periferia da capital, em parceria com a Seads. O objetivo é estimular o protagonismo juvenil, ensinar noções básicas de informática e treinar o aluno para agir como líder comunitário, tornando-o capaz de identificar problemas nas localidades em que reside e encaminhar propostas de solução aos órgãos responsáveis.

A Femsa treina a cada ano duas turmas de 150 jovens no curso Programa de Educação para o Trabalho, ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Parque Estadual Fontes do Ipiranga, na capital. Ao término da atividade, os cinco jovens que mais se destacam são convidados a fazer estágio na empresa.

Círculo virtuoso

A diretora da Escola Estadual Heróis da FEB, Maria do Carmo Muniz de Souza, destaca como desdobramento positivo do Programa Ação Jovem a conscientização dos responsáveis pelo estudante sobre a importância da frequência escolar.

“O benefício mensal auxilia o pai a verificar, na prática, a maior dedicação do filho ao estudo e também que ele se torne mais compromissado”, observa. A escola tem 1,2 mil alunos e fica localizada no Parque Novo Mundo, uma das regiões de grande vulnerabilidade social da capital.

A diretora considera primordial vincular ações assistenciais de transferência de renda com a educação básica. “Qualquer aluno com frequência regular e que participa de atividades paralelas acaba conseguindo melhor desempenho. Infelizmente, a maioria das famílias carentes tende a optar pelo abandono do estudo como alternativa para solucionar outros problemas, como a falta de apoio na criação dos filhos”, observa.

Autoestima reforçada

A educadora afirma que a E. E. Heróis da FEB fica numa região que sofre com a ação de gangues e vive a realidade da banalização da violência. Por essa razão, considera primordial o investimento governamental e de empresas como solução de longo prazo para erradicar o problema. Na sua região, cita como modelo de integração à comunidade o do Hospital Nipo-Brasileiro, privado, que costuma oferecer estágios para os alunos da escola. Muitas vezes, os jovens acabam sendo contratados.

“Intervenções assistenciais voltadas para a população de baixa renda também auxiliam a conter a inversão de valores causada pelo crime organizado. Assim, em vez de admirar bandidos, o aluno passa a enxergar em seus colegas e na comunidade atendida exemplos de dedicação e de superação”, analisa Maria do Carmo.

Na opinião da diretora, a transferência de renda para o jovem carente constitui um círculo virtuoso. O estudante participante recebe a bolsa, fica mais motivado e falta menos às aulas. Mais presente e com a autoestima reforçada, tende a se relacionar melhor com os colegas, professores e funcionários da escola. O educador sente ter papel decisivo para a formação do aluno e também se dedica mais. Por fim, o beneficiário da bolsa sente-se mais protagonista da sua vida e consegue melhores chances de inserção profissional.


“Renda adicional é importante”

A diretora da Escola Estadual Heróis da FEB, Maria do Carmo Muniz de Souza, mostra a ficha escolar de dois alunos atendidos em sua escola pelo Ação Jovem: Bruno Araújo e Regina Silva. Ambos tiveram melhor desempenho depois do ingresso na iniciativa.

Bruno, de 18 anos, se inscreveu no programa por meio do Centro de Assistência Social por um Novo Mundo, entidade de origem religiosa que fica a somente duas quadras da escola. Essa organização não-governamental (ONG) é uma das 11 que mantêm parceria com o Programa Ação Jovem desde o início dos trabalhos.

Rafael Souza, assistente social da entidade, ajuda o estudante Bruno a relembrar sua trajetória no programa. No início de 2006, um primo que era beneficiário incentivou o estudante a participar. Terceiro filho de uma família de quatro irmãos, Bruno fez sua inscrição na ONG e depois de uma semana veio a resposta: seu pedido foi aceito.

“Atualmente faço curso técnico na área de Turismo e estou procurando emprego. O dinheiro da bolsa é importante, me ajuda nos deslocamentos. Dou metade para a minha mãe e fico com o restante. Em anos anteriores, fui até reprovado por nota, mas hoje minha dedicação aos estudos é integral. E tenho uma oportunidade a mais para aprender”, explica Bruno.

A jovem Regina Silva, de 17 anos, está prestes a terminar o período de recebimento do benefício do Ação Jovem. Ela aprova o programa, por meio do qual pôde iniciar o curso técnico em Turismo. Planeja fazer faculdade na área e trabalhar nessa atividade, uma das que mais crescem no País.

“Esta renda adicional é importante, permite a meus pais economizar recursos comigo e utilizá-los com meus três irmãos, sendo que dois deles também participaram do Ação Jovem. Gostei tanto da iniciativa que estimulei minhas amigas e minha prima a participarem”, finaliza.


Evolução do Programa Ação Jovem

Ano jovens atendidos Investimento da Seads (em R$ milhões)
2004 7,4 mil 1,7
2005 100,7 mil 22,4
2006 104,8 mil 70
2007 (*) 111 mil 82
Total 156 mil (**) 176,1

(*) Previsão até dezembro de 2007
(**) O total de 156 mil beneficiários não corresponde à soma dos anos, porque os jovens permanecem, em sua maioria, durante dois anos no projeto.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 06/04/2007. (PDF)