Trabalho voluntário de estudantes da USP combate o analfabetismo

Projeto de alfabetização de adultos completa dois anos com dez salas de aula em funcionamento

Há dois anos, o atual ministro da Educação Cristovam Buarque proferiu palestra na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. Na oportunidade, destacou que o analfabetismo no Brasil poderia ser eliminado em quatro anos, desde que cada estudante de universidade, pública ou privada, dedicasse quatro horas semanais, durante um semestre, à tarefa de ensinar alguém a ler.

A ideia do ministro foi então colocada em prática com a criação de um curso para alfabetização de adultos – o projeto Alfa USP – desenvolvido com base no trabalho voluntário dos alunos da instituição. As aulas são abertas a todos interessados e a maior parte dos estudantes é composta por funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviço para a universidade. Hoje, o Alfa USP atende 67 pessoas e dispõe de dez salas para aulas, sete no câmpus da USP e outras três fora da Cidade Universitária.

Ligia Carriel, estudante de Jornalismo e uma das responsáveis pela divulgação do projeto, explica que a proposta educacional do projeto se baseia nas idéias do educador pernambucano Paulo Freire (1921-1997), tais como a concepção de que não se deve apenas ensinar a ler, mas também permitir que o jovem reflita sobre a realidade em que vive; e, também, o processo de aprendizagem mútua, as experiências de vida tanto do educando como do educador são valorizadas e levadas para a sala de aula.

Efeito multiplicador

Os educadores têm liberdade para escolher temas e métodos pedagógicos que julguem ser mais apropriados. “Com esse espírito, uma professora levou sua turma ao cinema para assistir ao documentário sobre Paulinho da Viola. No caminho, discutiram música e cultura popular”, lembra Ligia.

Nas aulas, o aprendizado é uma via de mão dupla. “Os professores comentam que às vezes aprendem mais do que os alunos”, afirma. A cada duas semanas, os alfabetizadores se reúnem para discutir os acertos e erros que ocorreram na condução das aulas.

Ao ingressar no projeto, o aluno-professor assume o compromisso de permanecer por um ano. No fim do período, a experiência adquirida é redirecionada para a formação de novos alfabetizadores. Cada novo educador pode formar outros 20 professores, e assim aumentam as chances de erradicação do analfabetismo. “O projeto tem efeito multiplicador e cada novo professor traz experiências novas e significativas”, explica Ligia.

Parceria

O objetivo do Alfa USP é aumentar o número de salas de aula até o final do ano que vem na Cidade Universitária além de ampliar o número de associados fora da USP. Para 2004, a intenção é reunir as experiências positivas e negativas das classes-piloto existentes e produzir um manual de procedimentos. Ele possibilitará a estruturação de uma rede de salas franqueadas espalhadas por outras instituições.

A sede do Projeto Alfa está instalada em uma sala cedida pela Faculdade de Economia e Administração da universidade. O instrumental pedagógico para as primeiras turmas foi conseguido por meio de parceria com o Movimento de Alfabetização (Mova) da prefeitura de Santo André, Instituto Veredas e Fundação Banco do Brasil. Para participar, basta entrar em contato, pessoalmente, no prédio FEA 5, segundo andar, sala 208. É possível obter mais informação pelo telefone (11) 3091-5752 ou pelo e-mail coordenacao@alfausp.org.br.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/10/2003. (PDF)