Sistema de reúso duplo da água de chuva é inovação da USP São Carlos

Viabilidade do projeto de automação foi comprovada na casa do criador da tecnologia, professor Eduardo Simões, do ICMC

De olho em uma eventual crise hídrica e disposto a possibilitar a seus alunos pôr em prática algumas das lições transmitidas em sala de aula, o professor Eduardo Simões, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da Universidade de São Paulo (USP), câmpus de São Carlos, projetou e instalou em sua casa sistema inédito de automação.

A partir do duplo reúso de água da chuva, o conjunto usa uma cisterna enterrada no solo com capacidade de até 5 mil litros. Esse volume consegue oferecer, durante o ano inteiro, banhos gratuitos e quentes na banheira, cujo aquecimento é solar. A água consumida na higiene pessoal será reutilizada para irrigar o jardim de 400 metros quadrados da residência.

Docente do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC-USP, o professor revela ter utilizado equipamentos simples no projeto, como calhas, canos e uma bomba elétrica para elevar a água da cisterna para a caixa-d’água no telhado, de onde ela é redistribuída para as descargas nas privadas dos banheiros e diversas torneiras. O restante da casa continuará sendo atendido pelo sistema municipal de abastecimento.

Premissa

Construída entre os anos de 2010 e 2011 em um condomínio residencial, a casa da família de Simões foi projetada por ele, engenheiro elétrico com doutorado em robótica, com o auxílio de um engenheiro civil. Sua última inovação, o sistema de irrigação automatizado, foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do aluno Tiago Tapparo, apresentado no ICMC em novembro.

Além da colaboração de Tiago, o projeto abarca mais nove TCCs e projetos de iniciação científica de estudantes de graduação da USP São Carlos, orientados por Simões, dos cursos de Ciências da Computação, Sistemas de Informação, Engenharia de Computação e Engenharia Elétrica. “Os desafios impostos a eles eram reais, todos com a mesma premissa: possibilitar a economia e o uso racional da água”, explica.

Prática

Em seus projetos, os estudantes receberam apoio de órgãos públicos de fomento. Os custos de compra e de instalação dos equipamentos, por estarem em uso em sua casa, foram bancados por ele próprio.

“Os alunos tiveram de pesquisar e desenvolver soluções funcionais, seguras e esteticamente agradáveis nas áreas de hidráulica, robótica, controles de motores, acionadores, programação, leitura de sensores de umidade, entre outros temas”, explica o docente. “O resultado final foi um conjunto completo de automação, incluindo software, hardware e parte mecânica, com peças modeladas e produzidas em impressora 3D, utilizadas para encaixar o sistema de motorização dos aspersores”, explica.

Artificial

No sistema de irrigação, uma câmera monitora o jardim o ano inteiro. As informações colhidas alimentam uma rede neural, por meio de inteligência artificial, concebida para irrigar somente as áreas mais secas e amareladas do gramado e canteiros, especialmente no período entre abril e outubro. “O sistema, inteligente, foi programado para aprender quando e quais locais deve molhar”, informa.

O acionamento dos quatro aspersores do jardim está condicionado à medição da umidade do solo. Essa aferição, realizada por um conjunto de sensores, consegue identificar se choveu nas últimas horas e qual foi o volume de água captado. A variável seguinte, antes da tomada de decisão de acionar ou não a irrigação, considera nos cálculos a previsão do tempo para os próximos três dias, dado coletado de modo automático pelo sistema na internet.

Se a possibilidade de chover for igual ou superior a 85%, o sistema não é acionado. “A grama pode esperar até a chegada natural da água”, esclarece Simões. Entretanto, se a probabilidade de chover for de até 30%, a irrigação artificial será acionada. Quando a previsão de chuva oscila na faixa intermediária, entre 30% e 85%, o sistema calcula a quantidade exata de água a ser aspergida na grama.

Econômico

De todo o sistema, a única parte em processo de patenteamento no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) é o conjunto de aspersores robotizados. Há expectativa de concluir essa etapa até o final do ano que vem. “O investimento total foi de R$ 4 mil, porém, pode-se amortizar esse montante em aproximadamente quatro anos, considerando- se a economia mensal de R$ 100 na conta de água”, esclarece.

A calha custou R$ 500; a cisterna R$ 1,5 mil (mão de obra inclusa); a caixa-d’água extra para a água da chuva R$ 300; os dispositivos eletrônicos e os processadores R$ 400 (o computador central custou R$ 150); o encanamento R$ 400; os aspersores e os servomotores R$ 400; e o material de consumo e outros itens, R$ 300. O sistema permite poupar R$ 300 na conta de água nos meses mais frios e secos; e, em média, R$ 120 nos mais quentes e chuvosos.

De acordo com o professor, o conjunto instalado de captação de água tem vida útil de no mínimo 50 anos e não exige mão de obra especializada para a sua construção e instalação. “Pode-se adaptá-lo para áreas rurais, inclusive com redução de custos”, observa. “Interessados em saber mais sobre o sistema ou quem pretende construir projetos autossustentáveis similares em prédios e condomínios deve entrar em contato com o ICMC-USP”, observa Simões (ver serviço).

Serviço

Departamento de Sistemas de Computação do ICMC-USP
Telefone (16) 3373-9333
E-mail ssc@icmc.usp.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 12/07/2017. (PDF)

Educação e trabalho são realidade no CDP II de Pinheiros

Unidade prisional busca preparar os detentos para o mercado profissional; Guilherme Rodrigues, diretor-geral do presídio, acumula 42 anos no serviço penitenciário e foi tema de livro

No Centro de Detenção Provisória “ASP Willians Nogueira Benjamim”, o CDP II de Pinheiros, muitos presos trabalham e, nos últimos seis anos, o local não registra fugas ou rebeliões. A unidade é uma das quatro que integram o complexo penitenciário localizado na Vila Leopoldina, zona oeste da capital e, desde 2010, está sob direção de Guilherme Silveira Rodrigues.

Organizado e bastante limpo, o presídio dispõe de agentes de segurança penitenciária (ASP) e agentes de escolta e vigilância penitenciária (Aevp) com o objetivo de assegurar o cumprimento da Lei de Execução Penal (LEP) nº 7.210/1984 e, assim, promover a ressocialização de 1,6 mil detentos. Os CDPs são unidades destinadas a internos que aguardam julgamento. O Estado tem 41 unidades dessa natureza.

Aos 70 anos, dos quais 42 dedicados ao serviço penitenciário estadual, Rodrigues atua com “postura disciplinadora, aliada ao trabalho e à capacitação do detento”. Ele diz que sempre recomenda aos presos para manterem distância das drogas e desenvolverem, durante o cumprimento da pena, alguma atividade em que haja uma dose de espiritualidade. Aos colegas e subordinados costuma sugerir que sejam líderes e chefes de si próprios “cumprindo sempre a lei com rigor”, em especial com relação aos direitos humanos dos encarcerados e de seus familiares.

Segredo

Formado em pedagogia, há sete anos Rodrigues recebeu um transplante de fígado – nem mesmo a condição de paciente com cuidados especiais o impediu de seguir no comando do CDP II. Um dos segredos de sua gestão, conta, foi ter conseguido projetar e pôr em funcionamento na unidade diversos serviços direcionados à valorização e qualificação educacional e profissional.

Construídas pelos próprios presos, as obras incluíram capela ecumênica, sala de aula e de alfabetização, biblioteca com 9 mil livros, almoxarifado, oficina de serralheria e de marcenaria, sala de informática e espaço de exposição de artesanato e de decoração, como barcos e maquetes, também feitos pelos detentos.

Reciclagem

“Não desperdiçamos nada aqui”, comentou o diretor-geral, apontando para uma das 11 cisternas para coleta e reúso da água da chuva, capazes de acumular 32 mil litros. No ambiente ao lado, mostrou um depósito de sucatas, como camas velhas e armações de ferro. “Antes descartado, esse material hoje nos permite economizar, pois, com ele, produzimos internamente janelas, portas, mesas, estantes e pilares de sustentação, entre outros móveis e equipamentos.”

De acordo com a legislação, três dias trabalhados reduzem um dia da pena. Quando um novo presidiário chega ao CDP II, passa por uma avaliação para identificar seu perfil e definir onde terá condições mais favoráveis à sua estada e ressocialização. “Também pergunto sobre a atividade profissional dele. Essa informação é muito relevante”, observa.

Desse modo, quando há alguma nova demanda no CDP, são selecionados aqueles com bom comportamento. O passo seguinte é avaliar se, de fato, ele já trabalhou como pedreiro, pintor, serralheiro, ferramenteiro, professor, etc.

Entre as opções oferecidas há tarefas simples, como limpeza, varrição e jardinagem, e outras que exigem mais conhecimentos – pintar paredes, erguer lajes, assentar azulejos, organizar livros na biblioteca, formatar computadores, dar aula de informática.

Letras

A experiência com o sistema prisional rendeu a Rodrigues capítulo exclusivo no livro Carcereiros, do oncologista Dráuzio Varella – ele e o médico trabalharam juntos na extinta Casa de Detenção do Carandiru. Uma das razões para ter sido escolhido como personagem verídico da obra foi a habilidade que desenvolveu ao longo dos anos para gerenciar crises e situações limite, como rebeliões e negociações com reféns.

Outro motivo, aponta, foi a convivência com o ex-colega e amigo Luiz Carlos Wolfman, responsável pela diretoria-geral da Casa de Detenção do Carandiru, com quem diz ter aprendido muito. A longa convivência no sistema prisional o motivou a escrever livros. O primeiro deles, Código de cela – O mistério das prisões, foi lançado em 2001. Os outros dois seguem inéditos: um dicionário com diversas gírias usadas pelos detentos (ver boxe) e outro (Às margens do Carandiru – Nossas histórias), finalizado, à espera de uma editora interessada em publicá-lo.


Carreira no sistema prisional

Natural de Borborema, no interior paulista, Guilherme Silveira Rodrigues veio morar com a família na capital aos 14 anos. Em 1974, iniciou a carreira pública como guarda de presídio na Penitenciária do Estado. Em 1980, foi transferido como assessor de diretoria-geral para a Casa de Detenção do Carandiru, zona norte da capital, cuja demolição começou em 2002 – atualmente o local abriga uma Escola Técnica Estadual (Etec) e o Parque da Juventude.

Em 1986, ingressou como professor na Escola de Administração Penitenciária (EAP). Dois anos depois retornou à Penitenciária do Estado, sendo nomeado no ano 2000 diretor-geral da instituição. Seis anos depois voltou a lecionar na EAP. Foi nomeado diretor-geral do CDP II de Pinheiros em 2010.


Algumas gírias usadas pelos detentos

Angu de caroço = bagunça
Antena ligada = estar de prontidão
Arrepio = revista na cela
Barata morta = bobo, otário
Bate chão = revista no piso da cela
Dar um pirandelo = fuga
Jambrar = trabalhar dobrado
Levar no tapa = iludir

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 27/04/2016. (PDF)

Manual do IPT ensina a coletar, armazenar e reusar a água

Para poupar água e chamar a atenção da população sobre a importância do uso racional da água, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) lançou manual para reutilizar as chamadas águas cinzas, provenientes de banhos e lavagem de roupas. Com 32 páginas, ilustrações e linguagem simples, a publicação digital está disponível para cópia gratuita em http://goo.gl/QIzuZm.

Responsável pela cartilha, o pesquisador Wolney Castilho Alves, do Centro Tecnológico do Ambiente Construído, do instituto, explica que a publicação ensina como coletar, armazenar e reutilizar com segurança a água no ambiente doméstico, dispensando construções, reformas ou equipamentos especiais.

Para o reúso correto, a pessoa deve observar a presença de sabão, amaciante, corantes, resíduos de sujeira e gordura que prejudiquem o uso pretendido, pois podem causar manchas em pisos, paredes e pintura de veículos. Além disso, essa água não serve para beber, tomar banho, banhar animais domésticos, regar plantas comestíveis (exceto árvores frutíferas), nem ser reaproveitada para lavar roupas.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/03/2016. (PDF)