Escola Politécnica desenvolve tinta de parede sem cheiro e menos tóxica

Pesquisa da USP recebeu investimento de R$ 650 mil da Fapesp e mais R$ 135 mil de grupo multinacional produtor de polímeros; estudo durou sete anos e foi coordenado pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici

A Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu nova variedade de tinta de parede praticamente sem cheiro e muito menos tóxica do que as disponíveis no mercado. Esses benefícios são possíveis graças a um método pioneiro para a fabricação de polímeros (resinas usadas em tintas).

A pesquisa durou sete anos e foi coordenada pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici, também professor e pesquisador da Poli. O trabalho, em fase de finalização, está sendo realizado nos laboratórios do Departamento de Engenharia Química, a partir de encomenda de um grupo multinacional produtor de polímeros.

O Projeto Desenvolvimento de Processo de Polimerização para a Produção de Polímeros com Baixo Teor de Monômero Residual recebeu investimento de R$ 135 mil dessa empresa e R$ 650 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). No mesmo projeto, o pesquisador da Poli elabora outro polímero (também menos tóxico e com menos cheiro), a ser aplicado em recobrimento de papel utilizado na impressão de revistas.

Tecnologia diferente

Os polímeros são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores, os monômeros, nos quais predominam as moléculas de carbono. Embora possam ser extraídos da madeira, do álcool ou do carvão – todos ricos em carbono –, é mais barato produzir os monômeros a partir do petróleo. A reação química que leva à formação de polímeros é a polimerização. Por meio de substâncias químicas, inicia-se a reação em cadeia que transforma as pequenas moléculas (os monômeros) em macromoléculas (os polímeros).

“Nesse processo, sempre sobra um pouco de monômeros entre as grandes moléculas”, explica Giudici. “Por serem substâncias voláteis, os monômeros são os responsáveis pelo cheiro e pela toxicidade das tintas e outros polímeros”, acrescenta. Os fabricantes de tintas e plásticos procuram criar métodos e tecnologias que diminuam a concentração residual de monômeros.

De acordo com o pesquisador, “o mais comum é borbulhar um gás ou vapor de água no polímero em emulsão, a fim de fazer com que os monômeros se volatilizem”. Mas o processo traz inconvenientes: “O borbulhamento gera efluentes que não podem escapar para o ambiente, pois são poluentes, e precisam ser tratados. Isso encarece o procedimento”, afirma Giudici. A tecnologia desenvolvida na Poli é diferente.

“O que fizemos foi prolongar e intensificar a reação química de polimerização, de modo que mais monômeros reajam e sejam transformados em polímeros”, diz Giudici. Como sobram menos monômeros, há redução do cheiro. Além disso, explica o professor, “o novo método tornará as tintas dez vezes menos tóxicas e os processos de fabricação gerarão menos efluentes a serem tratados”.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/11/2005. (PDF)